A artrite reumatóide me aproximou da nutrição que inicialmente eu não conhecia. Meu gatilho para a autoimune foi passar pela Chikungunya e por um processo inflamatório crônico que não se resolvia. Entender que a mudança de estilo de vida fazia parte do meu tratamento foi trabalhoso, afinal, como pensar em fazer atividade física se eu sentia dor? Lendo vários estudos e livros, a visão de que “existe uma vida sem dor” (frase que uso com bastante frequência) era possível se eu entendesse qual era o dever de casa a ser feito.
Hoje, o papel da nutrição é ensinar que uma alimentação correta e equilibrada é fundamental para pessoas com doenças autoimunes, pois participa da redução da inflamação e os sintomas associados, fortalece o sistema imunológico e melhora a qualidade de vida geral. Consumir uma dieta rica em nutrientes essenciais pode ajudar a modular a resposta imunológica. E o resultado que buscamos ao nos alimentarmos bem é diminuir nossas crises até chegarmos a remissão dos sintomas (lembrando sempre que não devemos largar nosso tratamento medicamentoso).
Independentemente da doença autoimune que está sendo tratada, a base é sempre a mesma: variedade de vegetais, frutas, proteínas, gorduras saudáveis, grãos, garantindo a ingestão adequada de vitaminas, minerais, antioxidantes e fibras. Esse é o começo de tudo. Em seguida é entender que nem todos os dias serão perfeitos e que nós também queremos participar de um social, comer coisas gostosas ou comidas afetivas porque falar de comida é falar de afeto, pessoas, cultura e conforto.
Observando pacientes em remissão, percebi que além da disciplina (que é muito importante), muitos seguiam cerca de 80% da dieta e já percebiam melhoras iniciais. Essa era a motivação para continuar a progredir: somar esses 80% a possibilidade de iniciar uma atividade física. Há outras preocupações no meio do caminho como sono e estresse, onde o manejo já é mais complicado mas não é impossível. A verdade é que temos que manter uma motivação maior do que pessoas que não tem uma autoimune porque muitas vezes a fadiga e o cansaço nos limitam a ter resultados de forma rápida. Por esse motivo que cada passo é importante e deve ser considerado como uma vitória.
Os pontos principais que focamos na nutrição para doenças autoimunes são as alergias e intolerâncias alimentares, adequação dos níveis de proteína, fibras, vitaminas e minerais, saúde intestinal associado a saúde da mulher, promoção de maior relaxamento para a rotina do dia-a-dia e ajudar a fornecer maior energia para que essa pessoa possa cumprir seus compromissos. Como cada corpo é um corpo, o trabalho é individual e contínuo mas de grande valia.
Um ponto importante de se entender é que não há alimento milagroso ou inflamatório, não existe essa regra. Na prática clínica, é visível que o que funciona para João, necessariamente, pode não funcionar para Maria, sendo assim, glúten, leite, amendoim e toda a lista de alimentos pró-inflamatórios só devem ser retirados se o organismo demonstrar alguma resistência quanto a eles. Retirar alimentos por conta própria na esperança de desinflamar pode causar desordens digestivas-intestinais futuras e desnecessárias. Toda e qualquer retirada deve ser avaliada dentro do contexto de vida e da resposta do organismo do paciente.
Outro ponto importante é: entenda que usar a nutrição a favor do tratamento, principalmente com imunobiológicos, em pacientes com autoimunidade pode potencializar os efeitos terapêuticos desses medicamentos e melhorar a resposta à medicação. Imunobiológicos são medicamentos altamente específicos que modulam o sistema imunológico para controlar a inflamação e os sintomas das doenças autoimunes sendo assim, uma dieta rica em nutrientes essenciais pode apoiar a função imunológica e participar da redução da inflamação, complementando a ação dos imunobiológicos.
Além disso, uma alimentação balanceada pode ajudar a minimizar os efeitos colaterais dos medicamentos, melhorar a tolerância ao tratamento e promover a recuperação e manutenção da saúde geral do paciente. Por fim, o papel do nutricionista é conscientizar que a nutrição não vem para restringir o paciente e sim para somar e trazer melhora no quadro clínico.
A busca é sempre por entender que investir em uma alimentação balanceada é investir em um futuro mais saudável e livre dos desconfortos que essa condição pode trazer. E lembre-se que a jornada pode ser desafiadora, mas vale a pena cada esforço, pois “existe vida sem dor”.
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