Eu não sei se você já ouviu falar, mas os estudos que relacionam as doenças autoimunes e a saúde intestinal começaram faz poucas décadas. Inicialmente, o que se achou foi a relação entre a nossa imunidade e o intestino, sendo discutido por volta da década de 1960 que ao falar de sistema imunológico, estamos falando de autoimunidade. Afinal, hoje se sabe que a saúde do intestino pode ter um papel crucial na ativação e na progressão dessas condições debilitantes.
Com o aprofundamento da ciência no intestino humano, o termo intestino permeável começou a ganhar notoriedade. A permeabilidade intestinal refere-se à capacidade do revestimento intestinal de atuar como uma barreira seletiva. Em um intestino saudável, essa barreira permite que nutrientes essenciais passem para a corrente sanguínea enquanto bloqueia substâncias nocivas. No entanto, quando há um aumento na permeabilidade intestinal, uma condição frequentemente chamada de “intestino permeável”, partículas indesejadas, como toxinas, micróbios e proteínas não digeridas, podem “vazar” para a corrente sanguínea.
Esse “vazamento” pode desencadear uma resposta imunológica no corpo. Imagine o intestino como uma peneira bem ajustada, que de repente começa a deixar passar grãos maiores do que deveria. O sistema imunológico, percebendo essas partículas estranhas, entra em ação para combatê-las, o que pode levar a um estado de inflamação sistêmica crônica. Essa inflamação crônica é um fator de risco significativo para a ativação de doenças autoimunes e nós, com artrite reumatoide, fazemos parte desse grupo.
Alguns artigos trazem essa correlação da inflamação causada pelo intestino permeável podendo ativar a resposta autoimune no corpo, fazendo com que o sistema imunológico ataque não apenas as partículas invasoras, mas também as próprias articulações e outros tecidos do corpo. Portadores da AR frequentemente apresentam desequilíbrios na microbiota intestinal, e níveis elevados de marcadores de permeabilidade intestinal, como a zonulina (você já ouviu falar da Disbiose? Falaremos sobre isso em outro momento).
Globalmente, estima-se que cerca de 0,5% a 1% da população mundial seja afetada pela artrite reumatoide. No Brasil, a prevalência da AR é semelhante, afetando cerca de 1% da população. Esses números destacam a importância de estratégias eficazes para o manejo e tratamento da doença. Esse número é apenas para artrite reumatoide dentro de uma lista de mais de 80 tipos de doenças autoimunes já catalogadas. O pensamento é que quanto mais divulgamos ciência, mais trazemos qualidade de vida as pessoas.
Alguns pacientes com AR relataram melhorias significativas em seus sintomas após adotarem essas intervenções na saúde intestinal, e especialistas na área de reumatologia e gastroenterologia estão começando a reconhecer a importância de uma abordagem voltada para o intestino no tratamento de doenças autoimunes.
Existem exames que ajudam a avaliar se há permeabilidade intestinal como teste de lactulose-manitol, níveis de zonulina, endotoxemia além de teste indiretos como proteína C-reativa (PCR) mas o principal é sabermos quais alimentos nos fazem bem. Além de trabalhar a alimentação levando em consideração o que a pessoa gosta de comer e o que é necessário para se manter saudável, mudança no estilo de vida é um fator chave para um intestino funcional e sem permeabilidade. Gerenciamento de estresse, sono adequado e atividade física regular são tópicos importantes quando estamos trabalhando para adequar níveis inflamatórios.
A relação entre a saúde intestinal e as doenças autoimunes é, portanto, um campo de pesquisa relativamente recente que se beneficiou enormemente dos avanços em microbiologia e imunologia. A compreensão dessa conexão tem potencial para revolucionar o tratamento de doenças autoimunes, proporcionando novas estratégias para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para nós, portadores da Artrite reumatoide, explorar e melhorar a saúde do intestino pode ser um passo significativo para reduzir a inflamação e mudar a nossa qualidade de vida.
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