Farmacêutico apresenta projeto focado na atenção básica e na capacitação dos profissionais da área para o atendimento adequado do paciente
Outro tema de extrema importância abordado durante o Fórum de Políticas Públicas em Doenças Reumáticas foi a linha de cuidado farmacêutico. A palestra ministrada pelo professor Divaldo Lyra Jr., Farmacêutico, mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal de Pernambuco e Professor da Universidade Federal de Sergipe, abordou a importância da participação desses profissionais durante o tratamento. Além de explicar um projeto desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde que visa expandir a área de atuação dos farmacêuticos.
A apresentação do professor foi dividida em três partes. Na primeira foi feita uma contextualização da importância do envolvimento do farmacêutico no cuidado dos pacientes. Na segunda, foi abordado a metodologia do projeto que está sendo desenvolvido desde 2017 no Brasil. E na terceira parte, foram apresentados dados sobre o resultado do projeto.
A participação do farmacêutico no tratamento
Para contextualizar, o profissional compartilhou com os presentes dados a respeito do financiamento da assistência farmacêutica no país. Ele afirmou que nos últimos anos houve um aumento significativo. Em 2002 o acesso ao medicamento no Brasil era por volta de 23%, hoje é por volta de 65%. “Então embora hoje ainda faltem medicamentos, é muito menos do que há uma década”, garantiu o farmacêutico.
Para o profissional, é importante destacar que atualmente nossa população tem mais recursos destinados para medicamento, assim como muito mais informação. Com isso, se imaginaria que a população têm um maior conhecimento sobre os cuidados com a saúde, porém nem sempre isso ocorre. O que , segundo ele, se reflete nos dados de pesquisas, principalmente nas doenças crônicas não transmissíveis. Já que mesmo com todo o aporte realizado nos últimos anos, ainda são bastante significativas.
Estudos na literatura mostram o quanto o farmacêutico pode contribuir para a otimização do tratamento, especialmente, para os resultados da farmacoterapia, afirmou o professor Divaldo. E para confirmar essa informação, ele trouxe um estudo, publicado há 10 anos, onde era comparado a atuação apenas do médico, do médico com acompanhamento da enfermagem e com o acompanhamento da enfermagem e do farmacêutico. Os resultados mostram que o resultado do médico acompanhado da enfermagem duplica e quando é integrado também o farmacêutico os resultados quadruplicam. “Ter um farmacêutico dentro da equipe pode fazer uma diferença muito grande, principalmente no manejo da farmacoterapia”, reforçou o Professor Divaldo.
O projeto de implantação do cuidado farmacêutico nos pacientes com Artrite Reumatoide
O farmacêutico contou durante a apresentação, que um grupo na Universidade de Sergipe tem trabalho por cerca de 12 anos em diversas publicações a respeito do tema, apresentando evidências do quanto o farmacêutico pode ser efetivo no que concerne a dados clínicos, humanísticos e econômicos. Devido a isso, o Ministério da Saúde convidou-os a fazer parte de um projeto com o objetivo de trabalhar com o componente especializado da assistência farmacêutica, especificamente no tratamento de pacientes com Artrite.
Em 2012 o Ministério da Saúde criou um programa chamado QUALIFAR, baseado em 4 eixos que direcionam a Assistência Farmacêutica no país. São eles: Estrutura – É preciso ter farmácias adequadas, em ambientes adequados, para garantir que o medicamento certo chegue ao paciente a que se destina, no tempo correto; Informação – Porque ter mais informação sobre quem faz uso do medicamento e sobre quem prescreve, permite a criação de políticas públicas de maneira mais racional; Educação – Pois há uma necessidade de capacitação de recursos humanos para cuidar do paciente; Cuidado – Uma novidade na portaria. Pois é a primeira vez que o Cuidado Farmacêutico é reconhecido de maneira mais efetiva.
A partir da criação do projeto QUALIFAR foram realizados projetos na atenção básica à saúde. O professor coordenou a iniciativa em Recife, onde foram instaladas 26 unidades de cuidado farmacêutico na área. “A ideia é participar desde o matriciamento dos pacientes, até o manejo propriamente dito do uso dos medicamentos. E o que seria esse manejo? A identificação de possíveis reações adversas, interações medicamentosas…Orientação para otimização da adesão ao tratamento, que talvez seja o problema mais grave que a gente tem na prática. E principalmente da correlação dessas questões versus a melhora clínica do paciente”, explicou ele.
O projeto ainda está em fase piloto, funcionando nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Distrito Federal. Mas existem planos para que todos os estados brasileiros sejam contemplados por esse projeto. Nesta fase inicial estão sendo analisadas as atividades que dão resultado positivo e o que não, para chegar a alternativas compatíveis com o método e a prática.
Metodologia
A metodologia utilizada é o modelo apoteka, desenvolvido pelo grupo do Professor Divaldo. Este modelo parte da premissa que todo e qualquer serviço só é implantado se 4 fatores funcionarem de maneira efetiva. O primeiro deles é o político: Para colocar algo em prática é necessário o apoio político. O segundo é o administrativo: Criar meios para que o serviço funcione. O terceiro é o técnico: É necessário treinar o profissional para que ele atue de maneira mais qualificada. E o quarto é o atitudinal: Tem que haver motivação das partes para que tudo isso funcione corretamente.
Para o profissional, este último fator é o mais importante. “Nas nossas experiências o fator que de um modo geral faz com que uma implantação morra, é a falta de motivação. Toda vez que você chega com uma novidade no SUS, o indivíduo pensa primeiro: Eu não vou ganhar mais nada para fazer isso”, reforçou ele.
Para trabalhar a motivação dos farmacêuticos do projeto foram feitas oficinas em grupo, onde são levantadas as dificuldades dos profissionais, além de trabalhar o olhar voltado para o paciente, ao invés de para o medicamento. Também foi reforçada com os profissionais a importância da comunicação com o paciente ser clara e acessível. Além da realização de simulações de atendimento ao paciente, levando em conta que muitos profissionais não tinham prática clínica e consultas supervisionadas.
Resultados preliminares do projeto
O profissional relatou que o projeto começou com 61 farmacêuticos e atualmente são 53. Eram 20 unidades de saúde e atualmente são 17. Foram realizadas mais de duas mil consultas. E identificados mais de 3 mil problemas relacionados a medicamentos, dos quais 75% dos casos foram resolvidos. Os profissionais envolvidos são voluntários, que ao final recebem um certificado de que estão aptos para realizar o cuidado farmacêutico.
Para finalizar, o professor Divaldo reforçou a importância do apoio dos pacientes no aumento da participação dos farmacêuticos no tratamento. “A gente precisa do apoio do paciente, a gente precisa da exigência do paciente para que o farmacêutico não fique só controlando estoque. No mundo desenvolvido farmacêutico não controla estoque. Quem faz isso é computador, é Inteligência Artificial. A gente precisa de gente que saiba como se usa medicamento para ajudar vocês a fazer o melhor uso dessa tecnologia que indiscutivelmente é um dos maiores ganhos da humanidade. Mas que se não for bem utilizada, sinceramente, faz mais mal do que bem”.
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