Um artigo publicado da revista Nature recolheu informação genética sobre com o objectivo de conhecer as principais doenças da população de Macau, baseado na hereditariedade. A artrite reumatoide é a principal dor de cabeça para os locais, seguida da doença de Alzheimer e da degeneração macular relacionada com a idade, que pode causar cegueira.
A artrite reumatoide é o inimigo número um da população de Macau, no que diz respeito a doenças que podem ser herdadas através do genes. Segundo um estudo publicado na revista Nature, mais de um quinto da população de Macau tem um risco “alto” ou “muito alto” de desenvolver esta doença. Além disso, o mesmo grau de risco existe para pelo menos 10 por cento da população para outras 11 doenças, entre as quais Alzheimer, perda de visão, devido a degeneração macular relacionada com a idade, doenças cardiovasculares ou câncer da mama.
Com base na análise da constituição genética de um grupo de 1024 residentes de Macau da etnia Han, com idades entre os 17 e 69 anos, 13 académicos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e do Departamento de Biologia Aplicada do Instituto Politécnico de Hong Kong estudaram as principais doenças hereditárias que os residentes de Macau podem desenvolver. O artigo tem como título, em inglês, Population-Wide Genetic Risk Prediction of Complex Diseases: A Pilot Feasibility Study in Macau Population for Precision Public Healthcare Planing.
AS 12 PRINCIPAIS DOENÇAS
A análise focou a predisposição da população local para desenvolver 47 doenças diferentes, como cancros, problemas gastrointestinais, renais, do coração entre outras. Os investigadores concluíram que há 12 doenças que pelo menos 10 por cento da população tem propensão para desenvolver. Entre estas a maior preocupação é a artrite reumatoide, porque um quinto da população, ou sejam 20 por cento, tem propensão para ser afetada ao longo da sua vida.
Em segundo lugar surge a doença de Alzheimer, seguida por degeneração macular relacionada com a idade e doença arterial coronária. Em todos estes casos, o artigo conclui que existe a probabilidade de mais de 15 por cento da população desenvolver alguma destas doenças ao longo da vida.
No top cinco das doenças que a população de Macau tem maior propensão para desenvolver devido a hereditariedade aparece ainda o cancro da mama, com uma taxa que chega quase aos 15 por cento da população. As restantes doenças dizem respeito a câncer da próstata, ovários e nasofaríngeo. Fazem também parte da lista ataques cardíacos, síndrome de Sjögren, doença de Crohn e lúpus.
ARTRITE PROBLEMÁTICA
Tendo em conta os resultados apurados, os investigadores sugerem acções que o Governo poderia adoptar ao nível do sistema de saúda para lidar com futuros problemas.
“Há cerca de 12 doenças complexas que mais de 10 por cento população de Macau apresenta um risco “alto” ou “muito alto” de desenvolver. A artrite reumatóide deveria merecer particular atenção porque mais de um quinto da população de Macau apresenta um risco genético relativamente elevado”, sublinham os autores.
“A abundância relativa de riscos ao nível da genética face às doenças mencionadas, especialmente no que diz respeito à artrite reumatoide, sugere intervenções do Governo e organizações de saúde junto da população para reduzir os riscos de manifestação destas doenças”, é defendido.
Entre as ações que os investigadores defendem que o Governo poderia tomar para minimizar o efeito destes problemas estão uma gestão mais direcionada dos recursos de saúde disponíveis face aos problemas mais previsíveis, implementação de formação específica para o pessoal de saúde, campanhas de informação sobre as doenças e promoção de hábitos saudáveis para as pessoas com propensão possam evitar ou minimizar o desenvolvimento dos problemas de saúde em questão.
DIFÍCIL PREVISÃO
No entanto, em termos de prevenção os autores admitem que há doenças em que é muito complicado adaptar qualquer estratégia. Entre as 12 doenças identificadas, as que têm maior limitações ao nível da prevenção constam a artrite reumatoide, Alzheimer e Lúpus, em que a taxa de hereditariedade pode atingir os 60 e 80 por cento.
“Quanto maior for a hereditariedade de uma doença, menor é a possibilidade de reduzir o risco através de factores ambientais, como com a adopção de um estilo de vida saudável. Este facto sugere que estas doenças são muito difíceis de evitar, por isso é importante realizar junto da população testes de despistagem e detectá-las na fase inicial”, é explicado.
PLANEAMENTO PERSONALIZADO
O trabalho acadêmico publicado na Nature tem como objectivo estudar a viabilidade da aplicação de uma estratégia personalizada dos Serviços de Saúde com base nas características da população. Ou seja, os investigadores pretendem que os SSM se preparem com base nas doenças que a população tem maior probabilidade de desenvolver e criem um sistema de prevenção e resposta mais eficaz.
Outro dos pontos mostrados pelos autores, entre os quais Gregory Cheng e Manson Fok da MUST, é a forma como as diferentes etnias consideradas têm diferentes doenças hereditárias. Assim, enquanto a artrite reumatoide é uma das mais prevalentes entre os chineses, o mesmo pode não acontecer entre pessoas de etnia portuguesa ou norte-americana, por exemplo.
Por outro lado, os investigadores concluem que dado o tamanho da população local que a aplicação deste planeamento e o desenvolvimento de políticas definidas pela população é possível. Porém, destacam que a passagem à ação depende dos políticos locais e do esforço coordenado com cientistas e médicos.
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