Reumatologista explica os benefícios, as contra-indicações e as alternativas terapêuticas do principal medicamento para tratamento das doenças reumáticas
A maioria dos pacientes com artrite reumatóide já conhece o metotrexato, mesmo que seja apenas de nome. Afinal, esse medicamento é bastante indicado no tratamento da patologia e está sempre em pauta. Apesar disso, ainda existem muitas dúvidas a respeito dessa droga e para ajudar a saná-las conversamos com o Dr. Flávio Calil Petean, professor assistente de reumatologia da USP em Ribeirão (SP) e chefe do ambulatório de doenças reumáticas do Hospital das Clínicas.
Originalmente, o metotrexato era utilizado como quimioterápico para tratamento de diversos tipos de câncer e, depois, foi incorporado para tratamento de doenças autoimunes como a artrite reumatoide. “Ele induz a liberação de adenosina que age no processo inflamatório do organismo, evitando a progressão da artrite reumatóide, que é consequência de um processo inflamatório das articulações”, explica doutor Petean.
Além da artrite reumatoide, esse medicamento também é indicado para outras doenças reumáticas, como o lúpus, esclerose sistêmica, sjogren, espondiloartrites e vasculites. Considerado padrão ouro para tratamento dessas doenças, o metotrexato só não é recomendado para pacientes que possuem alguma intolerância aos componentes do medicamento, problemas hepáticos ou para as grávidas. Nestes casos, devem ser adotados outras opções de tratamento.
Efeitos colaterais e os cuidados necessários
Muitos pacientes têm receio de iniciar o tratamento com o metotrexato devido a relação de efeitos colaterais que constam na bula e aos relatos facilmente encontrados na internet sobre os mesmos, como os enjoos. Dr. Petean esclarece que os efeitos colaterais do uso dessa medicação existem, porém são raros e podem ser minimizados e tratados.
“Os principais efeitos colaterais acometem especialmente o fígado e o sangue. Para minimizar os enjoos, que são bastante relatados por pacientes que fazem uso do metotrexato é recomendado o uso de ácido fólico, hidratação prévia e em alguns casos o uso de metoclopamida ou bromoprida, que apresentam efeitos positivos”, explica.
Para controle eficaz e rápido de qualquer problema relacionado ao uso do medicamento é feito um acompanhamento contínuo do paciente, que inclui exames periódicos, como hemograma, TGO e TGP, para acompanhamento da função do fígado.
Para os pacientes que se sentem inseguros em utilizar o metotrexato, doutor Petean ressalta que a bula do medicamento, que costuma assustar bastante quem lê, foi feita para doses de quimioterapia e não para as doses usadas para doenças reumáticas. “Além disso, é importante destacar que o medicamento está no mercado e sendo utilizado com eficácia há mais 35 anos”, destaca.
Uma ótima opção de tratamento, porém não a única
O metotrexato costuma ser uma das primeiras opções para o tratamento, no Brasil e no mundo, da artrite reumatoide e das demais doenças reumáticas, devido à sua comprovada eficácia na maioria dos casos. Porém, cada organismo é único e muitos pacientes podem não se adaptar ao uso desta droga.
Nesses casos, existem sim, outras opções disponíveis no mercado para dar continuidade ao tratamento, entre eles os DMARDS (Drogas Antirreumáticas Modificadoras da Doença) sintéticos e biológicos, que atuam alterando o curso da doença e controlando a sua progressão. Algumas opções disponíveis no mercado são a leflunomida, tofacitinibe, baracitinibe e o tocilizumabe (medicamento biológico).
Existe também a possibilidade e a indicação da realização de tratamento combinado com metotrexato e outros DMARDS para que seja possível alcançar resultados mais satisfatórios. Para isso, é importante que a escolha da terapia seja feita em conjunto com o médico reumatologista e o paciente que juntos discutirão possibilidades, riscos e benefícios dos medicamentos.
Uma boa notícia é que o sistema público de saúde, por meio do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da artrite reumatoide, fornece no SUS o citrato de tofacitinibe que é uma das alternativas de medicamentos orais que podem substituir o uso do metotrexato, recentemente foi registrado no Brasil o Baracitinibe e está chegando ainda o Upacitinibe. Esse três medicamentos são desenvolvidos por meio de uma nova tecnologia chamadas de “pequenas moléculas”, com grande eficácia no controle da doença semelhante aos medicamentos biológicos. Razões que nos trazem esperanças de que para tratar uma doença reumática é possível utilizar medicamentos e viver com qualidade de vida. Converse com o seu reumatologista e nunca pare de tomar qualquer tipo de medicamento sem sua orientação.
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