Pesquisas revelam altos índices de gastos com fraturas, especialmente na população idosa do país
A Dra. Viviane Peterle, reumatologista membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia, foi uma das palestrantes do Fórum de Políticas Públicas em Doenças Reumáticas, ocorrido em 04 de outubro, em Brasília/DF. A profissional discursou sobre as causas e os custos das fraturas por fragilidade no país, que atualmente possui 28 milhões de idosos, o que representa quase 14% da população total do Brasil, segundo dados do IBGE.
“Na reumatologia a gente trabalha com um espectro muito grande de pacientes, de comorbidades, de doenças e as fraturas por fragilidade elas acometem qualquer população. Principalmente nos fatores de risco associados aos medicamentos, a própria inflamação crônica, mas atualmente gente vive em um país envelhecido e a gente tem envelhecido cada vez mais e a causa mais temida dessas fraturas por fragilidade, é a mortalidade precoce”, explicou a Dra. Viviane.
Levando em conta que a média de expectativa de vida da população brasileira é, atualmente, de 76 anos e que existem 63 idosos para cada 100 jovens, a tendência é que até 2031 haja mais idosos do que jovens no país. Diante disso, para a reumatologista, a questão a ser debatida é como vai se dar esse envelhecimento da população brasileira. Pois além do processo natural de limitações físicas que advém muitas vezes do envelhecimento, pesquisas demonstram que 15% da população acima de 75 anos já tem algum nível de limitação física para a realização de atividades da vida diária.
“Estamos envelhecendo, mas envelhecendo de uma maneira frágil ou pré-frágil. E essa forma de envelhecimento causa bastante vulnerabilidade na nossa população.Conseguimos fazer essa correlação com as quedas, a temida fratura e a osteoporose que perpassa todo esse processo decorrente do envelhecimento, além dos fatores de risco”, reforçou a profissional.
Devido a essa vulnerabilidade, dados mundiais afirmam que 30% dos idosos caem, pelo menos 1 vez por ano. Principalmente as mulheres, uma em cada 3 mulheres e 1 em cada 5 homens podem sofrer uma fratura devido à osteoporose. E uma pesquisa americana informa que 5% dos indivíduos que têm algum tipo de fratura falecem durante a internação hospitalar, 12% nos 3 meses seguintes e 20% um ano após essa fratura. No Brasil, entre 20 a 24% das pessoas que tiveram uma fratura de quadril vem a óbito dentro de um ano. Nos casos em que não há mortalidade, pelo menos 25% dos pacientes requerem algum cuidado especial durante a vida depois da fratura.
Quanto aos custos gerados por essas fraturas, dados do Sistema Suplementar de Saúde dão conta de que, cada uma, tem um gasto em torno de 24 mil reais, sendo que nesses valores não estão incluídos os custos com próteses e órteses, assim como ficam de fora os equipamentos necessários para fazer a reabilitação do paciente. São 24 mil reais gastos apenas com custos hospitalares e medicamentos. E apenas 24% dos pacientes recebem tratamento clínico, inclusive medicamentoso, para osteoporose após a fratura. Sendo que, dados de 2014 apontam que no Brasil a osteoporose acomete 10 milhões de pessoas. Tendo sido gastos quase 300 mil reais com procedimentos relacionados ao tratamento de osteoporose em idosos do Brasil no triênio 2008–2010.
Segundo dados do DATASUS, somente as fraturas de fêmur geraram 500 mil internações no Brasil por fratura de fêmur, isso representa mais ou menos um coeficiente de 20 idosos para cada 100 que fraturam, com um tempo médio de internação de 9 dias e 5% como coeficiente de mortalidade. Porém os paciente com fratura de fêmur não vão falecer da fratura, mas sim das complicações dela, o que geram dados subnotificados. E até então o Brasil teve um custo geral de 1 bilhão de reais com essas fraturas nos últimos 10 anos.
“Quais são as causas dessa mortalidade efetivamente? Conseguimos entender que um envelhecimento frágil leva a possíveis quedas, por N fatores, as fraturas. Mas efetivamente do que esses pacientes falecem? Quais as complicações? O que está acontecendo? Intra hospitalar ou pós hospitalar para que esses pacientes cheguem a falecer?”, questionou a reumatologista. Para ela, esse é o maior desafio neste tema.
Uma iniciativa que a profissional acredita estar dando resultados positivos é a avaliação mais cuidadosa do quadro geral do paciente, em alguns casos, até atrasando um pouco a cirurgia para correção da fratura, para focar em estabilizar outras áreas que podem impactar na saúde do paciente. Conseguindo desta forma a alta precoce, diminuindo o risco de infecções e o índice de mortalidade devido à complicações.
“Precisamos tem que parar com esse estigma. Porque a fratura no idoso (acontece), porque ele é idoso e porque é assim. Não, não é assim. Hoje temos muito recurso pra fazer essa história diferente”, finalizou a reumatologista.
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