Entre 93 a 150 milhões de crianças de 0 a 18 anos em todo mundo possui algum tipo de deficiência.
“Meu coração quase parou! Eu comecei a dançar e a jogar bloquinhos de Lego para o alto, como se fossem confetes!”
Foi essa a reação da jornalista e ativista inglesa Rebecca Atkinson ao ficar sabendo que a gigante dinamarquesa Lego estava lançando bonequinhos cadeirantes.
Ela vem lutando há quase um ano, com sua campanha #ToyLikeMe (“brinquedo como eu”, em tradução livre), para pressionar fabricantes de brinquedos a criar personagens com algum tipo de deficiência.
“A mensagem enviada por um Lego em uma cadeira de rodas vai muito além de um bonequinho amarelo de plástico. É algo incrivelmente importante porque mostra para as crianças com deficiências que agora elas estão incluídas na sociedade”, argumenta Rebecca, em entrevista à BBC Brasil.
“Não poderia estar mais feliz, porque venho batalhando para mostrar à indústria de brinquedos que marginalizar 150 milhões de crianças deficientes não é aceitável”, acrescenta.
Segundo estimativas da Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, entre 93 milhões a 150 milhões de crianças de zero a 18 anos em todo o mundo possui algum tipo de deficiência.
Apresentado pela primeira na Feira de Brinquedos de Nuremberg, no sul da Alemanha, o box integra a coleção “Fun in the Park” (“Diversão no Parque”, em tradução livre), da linha City, e vem com 14 bonequinhos, incluindo um cadeirante acompanhado de um cão-guia.
O box deve estar à venda no mercado europeu e americano a partir de junho deste ano. Nas lojas brasileiras, ele chegará em novembro, conforme informou a Lego à BBC Brasil.
Sininho de aparelho auditivo
A ideia de Rebecca surgiu ao notar que entre, os brinquedos dos filhos, não havia nenhum representando pessoas com deficiência.
Ela conter ter ficado “muito frustrada”, já que cresceu usando aparelho auditivo e nunca se viu representada em nenhum lugar.
“Não havia pessoas surdas na TV, nos quadrinhos que eu lia e nem nos meu brinquedos”, disse ela em uma entrevista anterior à BBC Brasil.
A jornalista então se uniu a mães que tinham filhos deficientes, e começaram a postar fotos de brinquedos com deficiências, normalmente feitos de maneira artesanal, que encontravam na internet.
Além disso, passaram a adaptar outros usando massinha, fios e materiais simples.
Mas o divisor de águas na iniciativa de Rebecca foi a personagem Sininho, a fada de Peter Pan, usando um implante coclear (aparelho auditivo). Ela postou a foto do brinquedo, feito de massinha, nas redes sociais e a imagem viralizou, sendo compartilhada por pais de todos os cantos do mundo cujos os filhos eram surdos ou tinham audição reduzida.
Rebecca decidiu então criar a #ToyLikeMe, cuja página no Facebook (https://www.facebook.com/toylikeme) reúne hoje mais e 32 mil seguidores, em 45 países, sendo 1,5 mil só no Brasil.
Depois da Sininho, outra campeã de compartilhamentos foi Elsa, princesa da animação infantil Frozen, junto com a hashtag #deafElsa (“Elsa surda”, em tradução livre).
Há também personagens do Playmobil com cães-guia ou cadeira de rodas, bonecas com problemas de visão e usando bengalas, outras com manchas de nascença, princesas de óculos. Tudo adaptado por Rebecca.
Lutando contra estigmas
Rebecca acredita que personagens assim são importante pois se tornam fontes de inspiração para crianças deficientes, segundo ela, ao verem sua boneca favorita usar aparelho, fica mais fácil convencê-los de usar o deles, por exemplo. Além disso, as crianças entendem que não há problema em ser diferente, acrescenta.
A jornalista diz ainda que brinquedos desse tipo permitem ao público infantil ter uma representação mais positiva de deficiências, o que ajuda a derrubar velhos preconceitos.
O próximo passo da ativista é obter fundos suficientes, por meio de financiamento coletivo, para criar um site que conecte os produtos e os clientes.
“Recebo mensagens todos os dias de pais em busca de brinquedos que representem seus filhos. Há produtos feitos de maneira artesanal, mas são difíceis de achar. Por isso, quero reunir as informações sobre esses personagens em um só lugar.”
Fonte: Capital Teresina
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