Uma pesquisa inédita – publicada neste mês de janeiro de 2022 pela BMC Public Health – uma das maiores revistas científicas do mundo — apontou que 20,2% das pessoas com Diabetes Tipo 2 possuem retinopatia, uma doença que afeta os pequenos vasos da retina e pode levar à perda visual. O estudo foi realizado com 912 brasileiros — entre dezembro e setembro de 2019.
Um dos autores do estudo, o médico endocrinologista André Vianna, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná (SBD-PR), explica que o Diabetes descontrolado é a principal causa da retinopatia, já que ela afeta a circulação de sangue na retina e como consequência à alta concentração de açúcar no sangue.
“O excesso de glicose começa a comprometer e destruir os microvasos sanguíneos presentes nos olhos. Quando o diabetes afeta esses vasos, começam a se formar pequenas hemorragias nessas camadas neurológicas do olho e áreas de isquemia, que são de baixa circulação sanguínea. São pequenas áreas que começam a morrer e atingem diretamente a camada mais nobre do olho, a retina”, diz Vianna.
Segundo ele, o estudo — denominado CAPTURE – foi um grande estudo global para verificar a presença de complicações cardiovasculares e outras complicações em pessoas com diabetes tipo 2. “Ajudamos a conduzir o braço brasileiro do estudo e os números nos preocuparam muito. Mais de 20% da nossa população já tem complicações visuais, sem contar todas as outras complicações que estudamos”, completa Vianna.
O que diz a oftalmologia – A retina é uma camada neurológica que fica no fundo do olho, responsável por transformar os estímulos luminosos em imagens no cérebro. O cirurgião oftalmologista Ricardo Ducci explica que os diversos danos e alterações na microvasculatura ocular, provocado pelo diabetes não controlado, podem levar ao descolamento da retina, uma perda abrupta e total da visão.
“O diabetes é uma doença muito perigosa para a saúde dos nossos olhos, podendo acelerar o surgimento de uma catarata, que com o passar dos anos vai causando um embaçamento na visão do paciente, faz perder a nitidez da visão para as atividades do dia a dia e causa alterações na microvasculatura das camadas mais internas do nosso olho”, afirma Ducci.
Segundo ele, devido a diversos danos e alterações na microvasculatura pode acontecer sangramento no fundo do olho, o que pode causar baixa de visão. “Quando o diabetes está mal controlado, pode acarretar até um descolamento de retina, que leva a uma perda abrupta da visão, sendo necessário uma cirurgia imediata para reverter esse caso clínico”, afirma Ducci.
Como evitar a perda de visão – Para evitar que haja a perda gradativa e/ou total da visão, a principal orientação é o controle correto do diabetes. Consultar um médico endocrinologista com regularidade, tomar os medicamentos indicados corretamente, adotar uma dieta saudável com baixa ingestão de carboidratos e praticar atividade física com frequência são algumas dicas para manter a glicemia dentro da normalidade. “É muito importante que as pessoas com diabetes tenham consciência dos riscos de uma glicemia mal controlada. Infelizmente o diabetes não tem cura, mas tem como evitar as complicações decorrentes da doença. Por isso é essencial seguir as orientações médicas e realizar o exame de fundo de olho pelo menos uma vez ao ano”, explica Vianna.
“Realizamos um exame chamado “fundo de olho”, onde vamos ver se esse diabetes está causando alterações ou se já existem lesões decorrentes dele. Quando avaliamos o paciente com essas lesões já existentes – o sangramento do fundo de olho e inchaço da retina – é utilizado uma série de medicamentos para ajudar no tratamento desse fundo de olho, até mesmo a aplicação de lasers focais. Em pacientes com catarata avançada devido ao fator de risco de diabetes, a única forma de devolver a visão ao paciente é a realização da cirurgia, na qual retiramos o cristalino embaçado e adicionamos uma lente intraocular, que devolve a visão ao paciente”, afirma o oftalmologista.
O indicado é que as pessoas com diabetes tipo 2 façam o exame de fundo de olho uma vez ao ano. Já os pacientes com o tipo 1, a partir de 5 anos com diabetes, também podem fazer esses exames anualmente, para ver se não há algum tipo de comprometimento na visão.
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