Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que a automedicação é um hábito comum entre 77% dos brasileiros. A mesma pesquisa apontou que 32% dos pacientes têm o hábito de aumentar as doses prescritas por médicos para potencializar os efeitos terapêuticos.
Segundo o Dr. Kelson James Almeida, Professor de Neurologia do Centro Universitário Unifacid, essa prática pode ter uma consequência inesperada e grave. “A dor é sem dúvidas uma experiência sensorial e emocional desagradável e o principal motivo para a procura por medicações. A automedicação, porém, pode causar efeitos adversos e até o atraso de um diagnóstico correto que assegura um tratamento precoce”, complementa o professor.
De acordo com o especialista, durante o inverno a procura pela automedicação aumenta. Com as infecções respiratórias em alta nessa época, a busca por medicamentos para tosse, coriza, febre, dor de garganta e ouvido sem recomendação médica atinge níveis extremamente elevados. Paralelamente, aumenta-se, com isso, o risco de diagnósticos tardios de pneumonias, otites, meningites, sinusites, entre outros.
“Homens e mulheres se automedicam na mesma proporção, sendo que o público com idade entre 25 e 40 anos é a faixa etária que mais consome medicamentos por conta própria. Além disso, com a praticidade dos sites de busca, cresceu o número de pesquisas pelos sintomas de doenças e, consequentemente, a automedicação por pesquisas na Internet tornou-se cada vez mais frequente”, afirma Dr. Kelson
Ele explica ainda que um dos grandes problemas relacionados à automedicação foi a venda sem prescrição de antibióticos. O professor conta que esses medicamentos, adquiridos nas farmácias, eram usados de maneira similar a analgésicos e antitérmicos. Ou seja: os tratamentos eram interrompidos assim que cessassem os sintomas.
A consequência drástica do uso inadequado dos antibióticos levou ao surgimento da resistência das bactérias aos antibióticos e hoje temos então as superbactérias. Estima-se que, num futuro próximo, a resistência aos antibióticos seja uma causa maior de mortalidade que o câncer.
Riscos iminentes à saúde
Os principais riscos da automedicação são a intoxicação, afetando principalmente o aparelho digestivo; a interação medicamentosa, cujo efeito se dá devido ao consumo simultâneo de medicamentos ou medicamento e alimento, causando a potencialização ou atenuação do mesmo; a criação de resistência de microrganismos aos antibióticos, e a dependência física e psíquica de remédios, levando a crises de abstinência e tolerância ao medicamento.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 18% das mortes por envenenamento no Brasil podem ser atribuídas à automedicação, e 23% dos casos de intoxicação infantil estão ligados a ingestão acidental de medicamentos armazenados em casa de forma incorreta. Os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios estão entre os que mais intoxicam.
Automedicação em tempos de Covid-19
Em tempos de pandemia, há uma busca desenfreada por medicamentos contra a COVID-19, alimentada por uma avalanche de “fake news” nas redes sociais que geram no paciente um estímulo para a prática da automedicação e uso abusivo e irracional de medicamentos.
Mesmo antes de sólidas comprovações científicas de drogas eficazes contra a doença, remédios como ivermectina e hidroxicloroquina desapareceram das prateleiras das farmácias, prejudicando pacientes com indicações precisas para tais medicamentos, como doenças reumáticas graves e verminoses.
“Algumas pessoas tem procurado também nas farmácias por anticoagulantes para tratamento da COVID-19, sem prescrição médica. Tomar anticoagulante sem prescrição e acompanhamento médico pode desencadear hemorragia interna — sangramentos no sistema nervoso central e sistema gastrointestinal, que podem até levar à morte”, alerta Kelson Almeida. Segundo ele, a melhor maneira de consumir medicamentos é com orientação médica.
Fonte: Cidade Verde.
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