Nos últimos dois anos mais de 2,1 milhões de brasileiros suspenderam seus planos de saúde, sendo 28 mil desses clientes somente no Espírito Santo. Se de um lado a crise político-econômica feriu o bolso do brasileiro, por outro os planos não deixaram de aumentar seus valores. A conclusão foi o êxodo dos planos e sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS), que já não conseguia atender satisfatoriamente a demanda. É nessa brecha que estão aparecendo em todo o Brasil inúmeras policlínicas particulares oferecendo exames e atendimentos que cabem no bolso dos pacientes e sem demora. No Espírito Santo não está sendo diferente.
Há oito meses, a clínica Doutor Saúde foi inaugurada na Glória, em Vila Velha. E com uma localização bem estratégica; no coração do bairro, próximo ao Pronto Atendimento (PA) e à Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro. A clínica funciona por agendamento, os exames custam a partir de R$ 4,00 e os atendimentos a partir de R$ 60,00. De acordo com o gestor da Doutor Saúde, Douglas Salles, são feitos entre 1.500 e 2.000 atendimentos por mês e a tendência é aumentar.
“Todo mundo está cansado do serviço público na saúde que, além de não suprir a demanda ainda é prestado com má qualidade e com uma estrutura ruim. Por isso, montamos um centro médico completo, com o conceito de clínica popular, sem taxa de mensalidade, com exames e consultas acessíveis ao bolso do paciente, e com estrutura completamente moderna. Temos uma demanda crescente nessa região e nosso grande desafio é buscar a ampliação do serviço e quadro médico para atender com mais excelência e qualidade”, afirmou o gestor da empresa, que conta com 30 profissionais, além da diretoria.
Já a rede de clínicas Global Med aterrissou em terras capixabas há apenas um mês, mais especificamente no bairro Santa Lúcia, em Vitória. Já são mais de 30 clínicas em todo o País, em três anos de funcionamento, história que tem tudo a ver com o êxodo dos planos e sobrecarga do SUS. Na Grande Vitória, a previsão é de inaugurar mais duas unidades em 2018 e mais uma no interior do Estado, de acordo com o sócio-gestor Leandro Lorenzon.
“Nossa história tem tudo a ver com essa situação da saúde no Brasil. O plano de saúde está se deslocando da realidade das famílias, com o preço aumentando em uma proporção muito maior do que o salário. As famílias não conseguem arcar com este custo. Como o SUS não consegue atender essa demanda incrementada, as policlínicas suprem essa demanda. Agora os pacientes têm uma opção que antes não tinham, com preço acessível e atendimento rápido e de qualidade”, assegura Lorenzon.
Demanda
Neste primeiro mês de Global Med em Vitória, o sócio-gestor afirmou que foram feitos 150 atendimentos, com destaque para consultas com clínico geral, exames clínicos de sangue, ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia. Os exames custam a partir de R$ 9,00 e os atendimentos médicos a partir de R$ 75,00. A clínica inaugurou oferecendo seis especialidades, mas a intenção é que nos próximos meses sejam oferecidas outras 15 especialidades e mais de 200 tipos de exame e, em todos os casos, existem facilidades de pagamento, como parcelamentos.
Nos oito meses da Doutor Saúde, o gestor Douglas Salles informou que as maiores demandas foram consultas com ginecologista, pediatra, dermatologista, exames de sangue e cardiológicos e ultrassonografias. A clínica trabalha com 21 especialidades médicas e os agendamentos podem ser feitos pelo site da empresa na internet.
Aumento de 20% da demanda
De acordo com o doutor Wallace Medeiros, diretor-geral do Hospital Maternidade São José (HMSJ), em Colatina, nos últimos dois anos a demanda de atendimento do hospital aumentou no mínimo 20%. O HMSJ é referência para 32 municípios que compreendem 1,2 milhão de habitantes, sobretudo no que diz respeito a maternidade de alto risco, cirurgias vasculas e cardiovascular, cardiologia, cirurgia cardíaca e oncologia.
“Nos últimos dois anos nossa produção tem aumentado exponencialmente. As filas para realização de procedimentos aumentam a cada dia. É difícil relacionar de maneira fiel, mas pode estar relacionado à crise financeira e migrações dos planos para o SUS. Sendo conservador, falo que nossa demanda aumentou 20%, e é mais crescente nas áreas de média e alta complexidade, de pacientes vindos com patologias gravíssimas e necessitando de tratamento urgente. A porcentagem da urgência em relação a procedimentos eletivos tem aumentado a cada dia, com quadros graves e avançados”, afirmou o diretor do HMSJ, que conta com 188 leitos.
De acordo com Medeiros, nos últimos três anos houve um aumento de 10% no quadro de funcionários do hospital, que hoje conta com 120 médicos e 580 colaboradores. Lá, a cada mês são feitos uma média de sete mil atendimentos ambulatoriais, mil internações hospitalares, 650 cirurgias, 250 partos e 300 procedimentos em hemodinâmica.
“A instituição cresceu e dois anos atrás não chegávamos a 750 internações por mês. O número de cirurgias cresceu bastante. Em 2012 foram realizados 1.145 partos e em 2016, foram 2.233, praticamente o dobro. Só de pacientes atendidos na porta da maternidade, foram 5.614 consultas este ano. Em todos os setores acompanhamos essa estatística e é possível ver essa evolução de forma clara”, assegura.
Fenômeno necessário
Para o diretor-geral, o aumento do número de policlínicas foi uma fenômeno natural desse aumento de demanda no SUS, e até necessário. Ele afirma que 47% dos serviços de saúde prestados no Brasil vêm da saúde suplementar, que incluem os planos de saúde e as policlínicas particulares. Se eles não existissem, o SUS jamais conseguiria suprir essa demanda.
“O SUS não tem capacidade para absorver toda essa população, não está preparado para isso. Até por isso, a ANS (Agência Nacional de Saúde) fica em cima das empresas de saúde suplementar, das operadoras dos planos, para que prossigam com seus serviços, pois o SUS não suporta toda essa demanda”, afirmou Medeiros.
Mas afirmou que os usuários devem estar atentos aos atendimentos das policlínicas. “Algumas prestam um bom serviço e outras nem tanto. Isso é coisa de mercado. Mas é uma segunda opção de atendimento mais rápido, feito de forma mais eficiente e barata. Caso respeitem as condições básicas de funcionamento e atendimento com qualidade, é uma nova opção”.
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