Natural de Curitibanos, no Meio-Oeste de Santa Catarina, a doutora em Ciências Médicas Jaqueline Beppler Lucini, 31 anos, identificou uma proteína produzida por bactérias da espécie Escherichia coli que inibe o ataque de células do sistema imunológico contra o organismo do próprio paciente. Os resultados do estudo, concluídos em maio de 2015 e publicados em junho deste ano no jornal científico European Journal of Immunology, abrem caminho para o tratamento de doenças inflamatórias e da sepse(conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção).
A patente das substâncias já foi solicitada pelos pesquisadores da USP. Quando obtiverem retorno de órgãos de controle brasileiro, francês e estadunidense, eles pretendem testá-las no tratamento de doenças autoimunes, como a lúpus, e outras condições em que há resposta inflamatória em alta escala no organismo: glomerulonefrite, artrite reumatoide e doenças inflamatórias intestinais.
— Vamos começar os testes em animais. Há várias linhas que podemos seguir. De maneira geral, vai ser interessante para o tratamento da sepse, que é uma doença que ainda precisa de um aprofundamento maior. Porque o diagnóstico é basicamente clínico e o médico precisa ser rápido, caso contrário o paciente pode morrer. Então a pesquisa pode causar uma revolução — explica Jaqueline, que iniciou os estudos na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e acaba de ser aceita para o curso de pós-doutorado na Universidade Paris Descartes, na França.
A pesquisadora incentiva jovens catarinenses a trilharem os caminhos da ciência, principalmente aqueles que, assim como ela, são do interior do Estado.
— Em Curitibanos, agora que tem universidade federal, mas na minha época não tinha. Eu fiz Farmácia na Univali, que foi uma universidade excelente em todos os sentidos, mas por ser particular o caminho natural era que eu me tornasse farmacêutica. Mas abracei todas as possibilidades e quis continuar estudando, sempre microbiologia e imunologia. A gente não acha que é possível. É claro que tem dificuldades. O meu projeto inicial era para ser executado em três meses, mas levou três anos. Tem que ter persistência. O que falta é incentivo, mas é possível.
Histórico da pesquisa
O mecanismo usado pela E. coli para escapar do sistema imunológico foi descrito pela primeira vez por Pinheiro da Silva e colaboradores em artigo publicado na Nature Medicine em 2007, quando o pesquisador ainda cursava o doutorado. Na época, porém, a proteína WzxE ainda não havia sido identificada.
— Esses achados também abrem caminho para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais capazes de neutralizar a proteína WzxE, o que seria útil no combate de infecções por E. coli , uma das principais causadoras de sepse — complementa o coordenador da pesquisa, Fabiano Pinheiro da Silva.
A pesquisa faz parte do Projeto Temático Role of Fc receptors in bacterial immune evasion, é financiada pela Fapesp e pela Agence Nationale de la Recherche da França, e coordenada pelo professor da USP Irineu Tadeu Velasco. Do lado francês, a supervisão é de Renato Costa Monteiro, professor da Universidade Paris Diderot. Também colaboraram pesquisadores do Instituto de Química da USP e do Laboratório Nacional de Biociências.
Fonte: ClicRBS
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