Toranja Mecânica conta sua jornada com o lúpus, desde a mudança no corpo e as crises e até virar uma inspiração
Giovanna Massera, ou Toranja, como ela gosta de ser chamada, tem 21 anos e, depois de anos se escondendo com roupas longas e pesadas, decidiu usar o Instagram para mostrar seu corpo e suas marcas. Ela carrega na pele inúmeras estrias, resultado do uso de medicamentos para lúpus. A doença a arrebatou na adolescência e as marcas já até desencaderam crises de pânicos. Mas hoje, ela as exibe e inspira outras mulheres na web.
“Antes do lúpus, eu não sei se eu tinha uma relação com o meu corpo”, fala em um papo com o Delas. Ela descobriu a doença ao 12 anos, depois de semanas internada com dores nas articulações e sentindo cansaço e fraqueza.
Segundo Toranja, no começo os médicos pensaram ser um caso de H1N1. O diagnóstico do lúpus veio apenas dois meses depois.
De acordo com o Ministério da Saúde, o lúpus é uma doença inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. Além disso, a doença se camufla muito bem no organismo, então é difícil de ser detectada.
“Eu comparo o lúpus a um vulcão adormecido, que quando entra em erupção é quando a pessoa começa a ter muito reação e adoece”, diz Toranja.
Um corpo marcado
Quando soube o diagnóstico, Toranja lembra que sentia raiva de ter quer ficar no hospital fazendo exames por causa de uma doença autoimune. Para piorar, a única medicação que poderia combater o lúpus estava prestes a mudar seu corpo.
“Foi tudo muito rápido. Da noite por dia, eu acordei e percebi que meu corpo estava com algumas marcas que não estava lá antes. Não tive tempo pra processar, só surtei. Chorava o tempo todo”.
A medicação causou o efeito sanfona na influenciadora digital, fazendo a desinchar e inchar. “As estrias que eu tenho foram por causa do corticoide, por isso que eu tenho elas muito grandes e abertas”, comenta.
“Era como se fosse uma alienígena”
As marcas pelo corpo faziam Toranja se sentir diferente das outras. Ela usava roupas pesadas que escondiam toda sua pele, mesmo nos dias mais quentes do ano. “Tinham as pessoas normais e eu era como se fosse uma alienígena”.
Mesmo com o passar dos anos, a relação de Toranja com o corpo seguiu complicada. Logo vieram as crises de pânico por conta disso. “Eu sonhava que eu iria acordar e meu corpo estaria normal novamente. Mas quando acordava, tinha ataques de pânico, tentando arrancar minha pele”, detalha.
A mudança
Toranja conta que o momento que as coisas mudaram em sua vida foi após terminar com seu primeiro namorado.
“Achava que ninguém fosse me amar por causa das minhas marcas”, ela afirma, “Então, eu comecei a expor meu corpo na internet depois de uma experiência com um ‘boy lixo’. Eu queria provar pra mim mesma: ‘Meu corpo é assim? Você não quer? Tchau’”.
Apesar de ter medo de como as pessoas iriam reagir, Toranja acreditava que estava na hora das pessoas saberem sua história. Por isso, chamou dois fotógrafo amigos e preparou um ensaio.
“A pessoa ia me ver totalmente nua, nunca ninguém tinha visto. Eu fui tremendo pro ensaio, eu ficava olhando pra todo lado pra ter certeza que ninguém estava observando”, ela acrescenta.
Quando postou as fotos do ensaio, ela conta qeu ficou surpresa com tantos comentários positivos das mulheres a elogiando e contando suas histórias de ódio e amor com os corpos.
Hoje, a influenciadora e modelo afirma que tem uma relação muito melhor com seu corpo, pois aprendeu a respeitá-lo.
Mas, Toranja explica que ainda tem dias ruins, nos quais ela se sente mal consigo mesma, mas eles estão cada vez mais raros. Ela diz ter aprendido a lidar com esses momentos. “Você decide se vai continuzar se colocando pra baixo todos os dias ou se vai respeitar seu momento e deixar passar”, encerra.
Fonte: Jornal Floripa.
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