É normal sentir dor na vagina ou na vulva durante o sexo?
Nesta reportagem, você vai entender o que são esses transtornos, como saber se a dor é algo pontual e quando pode ser necessário procurar ajuda:
- É normal sentir dor durante o sexo?
- Como eu sei se a minha dor é sinal de um problema mais sério?
- O que é o vaginismo?
- O que é a vulvodínea?
(SAÚDE SEXUAL: esta reportagem integra série do g1 Sexualidade sobre o papel do sexo no bem estar e na saúde; leia as já publicadas sobre ejaculação precoce, orgasmo feminino e mais.)
Existem, ainda, os casos de pacientes que têm endometriose – as mulheres podem sentir uma “dor de profundidade”, quando o pênis entra mais fundo no canal vaginal, explica Thatyane.
“Quando ela é intensa, durante toda a relação, e não passa durante várias relações – não é normal”, diz.
Segundo a médica, a dor do vaginismo, por exemplo, é como uma dor de “entrada” na penetração. E, diz Thatyane, apesar de esse tipo de dor ser “bem óbvia”, muitas pacientes podem demorar em ter o diagnóstico.
“A paciente que vai falar que logo na entrada, por exemplo, do pênis, ela já vai começar a sentir dor. Apesar de ser uma dor bem óbvia, é incrível que eu já peguei muitas pacientes, muitas mesmo, com vaginismo que passaram em diversos médicos e em ginecologistas e não foi feito o diagnóstico”, afirma.
A especialista afirma que muitas mulheres não falam que sentem esse tipo de dor durante consultas de rotina – por isso, é importante, por parte dos médicos, perguntar sobre o assunto.
“Elas não falam porque não sabem, muitas acham que é normal. Então, quando você acaba perguntando para elas ‘você sente dor durante a relação sexual?’ Aí elas começam falar e você percebe”, explica.
3) O que é o vaginismo?
Anatomia da vulva com as glândulas de Skeene — Foto: Arte g1
Na verdade, o termo “vaginismo” é a forma com que o transtorno é conhecido popularmente.
“A definição correta é dor genitopélvica ou dificuldade na penetração, porque o termo vaginismo está muito calcado nessa contração muscular – que nem sempre a gente percebe”, explica a ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do ambulatório de sexualidade feminina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Às vezes, diz a médica, o que existe é uma reação de fobia ou uma sensação de agonia em relação à penetração, e não necessariamente dor.
“A pessoa tem uma fobia de algo que vai entrar no corpo dela. Porque pensa assim: você vai permitir uma penetração, certo? Você vai permitir que alguém entre dentro do seu corpo. Se a pessoa encara isso como uma invasão, se é muito controladora, ela desenvolve mecanismos de defesa, se fecha”, continua.
- O que causa o problema?
A personalidade controladora pode, inclusive, ser uma das causas do problema, aponta a médica.
“Mulheres que têm uma característica de personalidade muito controladora, muito ansiosas. Elas já entram num mecanismo de: sentiu a dor da primeira vez, já antecipa, ‘vou sentir dor de novo’. Então ela já contrai a musculatura da vulva”, explica.
“Ou é uma pessoa que tem uma característica de personalidade que já tem várias barreiras antes da barreira física: personalidades muito introvertidas, estados de inibição da sexualidade”, acrescenta.
“A gente identifica, na Unifesp, que muitas mulheres têm uma educação rígida, onde a virgindade é algo importante – em que o sexo é algo proibido, que mulher que transa é vagabunda. Num levantamento que a gente fez para os nossos casos, [a educação rígida] está presente em 70% dos casos”, afirma Carolina. “É uma disfunção sexual bem complexa”.
Outro fator que pode levar ao problema é um histórico de abuso sexual – segundo a ginecologista da Unifesp, em torno de 30% dos casos que atende na universidade têm esse registro.
“A pessoa lembra, por exemplo, de quando ela era acariciada, e aí às vezes essas sensações na infância são prazerosas, isso gera culpa. Vergonha, culpa, medo da opinião do outro: tudo isso atrapalha a pessoa de se conectar com as próprias sensações de prazer”, explica.
- Como é o diagnóstico?
Thatyane Cunha, do Sírio-Libanês, explica que o histórico (queixas) da paciente e o exame físico de uma consulta normal já bastam para o diagnóstico – não é necessário nenhum exame adicional.
Mesmo assim, ela relata que já atendeu muitas pacientes que passaram por outros médicos, inclusive ginecologistas, e que não tiveram o problema diagnosticado.
“O que [outros médicos] falavam é ‘ah, mas relaxa, toma um vinho’. Geralmente, o diagnóstico que nós fazemos é pela história clínica. Eu acho que é importante fazer a busca ativa durante a consulta. Muitas pacientes não descrevem essa dor na consulta. Elas vêm para uma consulta de rotina e [você] pergunta antecedentes pessoais, remédio que usa, e aí a paciente não fala que sente dor durante a penetração. Tanto que a incidência do vaginismo não é conhecida“, explica.
- Existe tratamento?
Sim. As possibilidades vão desde fazer exercícios com dilatadores vaginais até fisioterapia e psicoterapia, explica Carolina Ambrogini.
“Muitas vezes precisa também fazer fisioterapia, para aprender a relaxar a musculatura, e psicologia para entender os traumas, os motivos pelos quais elas têm tantas questões com a penetração”, acrescenta.
Também há a possibilidade da terapia sexual.
A terapeuta sexual e doula de parto Juliana Thaísa afirma que já recebeu muitas mulheres com vaginismo em seus atendimentos, feitos em São Paulo. Um dos procedimentos que ela faz é a terapia corporal – com o objetivo de que as mulheres descubram várias coisas sobre o seu próprio corpo, inclusive seu potencial de ter um orgasmo.
“Absolutamente todas as mulheres com relato de vaginismo que eu atendi na terapia – todas, não tem nenhuma exceção – todas tiveram vivências tranquilas, tiveram orgasmos, não sentiram dor. Eu estimulei o ponto G dela, de introduzir o dedo [na vagina]”, afirma.
O segredo? A conversa e a escuta durante a terapia, diz.
“Aquela mulher já se sente segura durante aquela conversa. Ela sente que está tendo uma escuta acolhedora. Isso já traz uma sensação de relaxamento”, diz.
“O vaginismo é uma disfunção que, na maioria das vezes, vem de uma condição de trauma também – mulheres que sofreram algum tipo de abuso quando era criança, mas não lembram. Mas o corpo sempre lembra e sempre registra. O corpo sabe como está sendo tocado – quando é tocado de uma forma violenta”, acrescenta Juliana Thaísa.
Ao final da terapia, afirma, o que há nas atendidas é “uma sensação de libertação, para ela saber que o corpo dela registrou, mas que ela não precisa carregar isso pro resto da vida. E que existe um caminho muito mais saudável, prazeroso e com muito mais afeto”.
Tangerina cortada que lembra, em aparência, a vulva. — Foto: Pexels
A vulvodínea é a hipersensibilidade, dor ou incômodo – principalmente ao toque – na região da vulva, que é a parte de fora da vagina, explicam as especialistas ouvidas pelo g1. A vulva fica hipersensível. O incômodo também pode ser uma queimação ou coceira.
“A vulvodínea pode ser generalizada – em que ela [a mulher], por exemplo, vestiu uma calça mais apertada, andou de bicicleta, fica com uma sensação de queimação”, exemplifica Carolina Ambrogini, da Unifesp.
“Ou pode ser provocada – que é só quando você faz uma pressão – por exemplo, não estou sentindo nada, mas vou limpar a vulva com papel, pressiono, dói. Ou vou ter uma tentativa de penetração, pressiono, dói”, pontua.
- Qual a causa do problema?
Assim como a do vaginismo, a causa da vulvodínea ainda é incerta.
“Não sabemos a causa ao certo. Pode ser candidíase de repetição, ou alguma infecção de repetição, fibromialgia. Pacientes que já costumam ter dor, que têm síndrome do intestino irritável, estresse pós-traumático, depressão… essas alterações podem ter a vulvodínea como um dos seus sintomas”, explica Thatyane Cunha, ginecologista do Sírio-Libanês.
O transtorno também pode ser causado por atrofia da vulva pós-menopausa – pela falta dos hormônios – ou pelo uso de pílula anticoncepcional de baixa dosagem, acrescenta Carolina Ambrogini.
“Não são todas as mulheres que tomam pílula de baixa dosagem que vão ter vulvodínea – mas isso pode acontecer em pacientes que precisariam de um pouco mais de estrogênio”, esclarece a médica.
- Existe tratamento?
Sim. No caso da vulvodínea, o tratamento pode ser tópico (aplicado na pele) quanto oral, para amenizar a dor. A fisioterapia pode ajudar bastante, explica Carolina, e, em alguns casos, até o uso de laser na região.
Fonte: Saúde G1
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