O cortisol é um hormônio produzido naturalmente pelas glândulas suprarrenais, localizadas acima dos rins. Ele tem funções importantes no organismo, como reduzir inflamações e ajudar na regulação dos níveis de açúcar no sangue, por exemplo.
Por isso, indivíduos que apresentam deficiência na produção de cortisol precisam realizar a reposição por meio do uso contínuo de corticoides, que são uma espécie de versão sintética do hormônio.
Por serem anti-inflamatórios potentes, esses medicamentos também são indicados, geralmente em doses mais altas, para o tratamento de doenças inflamatórias crônicas, doenças autoimunes, asma e alguns tipos de câncer, como o linfoma.
Porém, de acordo com a endocrinologista Érika Bezerra Parente, do Hospital Sírio Libanês, o uso contínuo de corticoides em altas doses pode acarretar uma série de efeitos adversos graves:
Ganho de peso (acúmulo de gordura na região abdominal, aumentando o risco de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes); Aumento da pressão arterial; Piora do controle da glicemia para quem já tem diabetes, pois prejudica a secreção de insulina; Aumento do risco de osteoporose e de úlcera no estômago; Alterações de humor, sintomas de depressão e fraqueza muscular (efeitos mais raros).
Embora a administração de corticoides seja indicada para tratar as doenças citadas anteriormente, nem sempre o uso é obrigatório. “Existem casos mais leves dessas doenças que não necessitam dos corticoides. Por exemplo, nem toda artrite reumatoide (que é uma doença inflamatória) exige o uso do medicamento”, explica Parente.
Uso crônico e dependência No caso de quem tem deficiência na produção de cortisol, a especialista explica que a reposição com corticoides é feita em dose fisiológica, ou seja, proporcional à quantidade do hormônio que o indivíduo deveria produzir naturalmente. Por esse motivo, não costuma provocar efeitos colaterais.
No entanto, existe outro risco relacionado ao uso prolongado de corticoides, seja para reposição ou tratamento de uma patologia: ele inibe a produção natural do cortisol, tornando o indivíduo dependente do medicamento.
Segundo Érika Parente, o bloqueio da produção do hormônio normalmente ocorre após uma semana de uso, e após esse período, o indivíduo não pode parar de tomar o remédio repentinamente.
O professor Erick José Ramo, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Biociências da UNESP, explica que a suspensão abrupta do medicamento pode provocar insuficiência adrenal aguda. “Trata-se de uma condição grave caracterizada por dor abdominal, febre e náuseas. Se não for tratada, pode provocar a morte do indivíduo. Portanto, é necessário reduzir a dose do corticoide gradualmente”, observa.
Regulamentação
Um problema recorrente destacado pela endocrinologista Érika Parente em relação aos corticoides é a automedicação, agravada pelo fato de que não é preciso receita médica para a compra. “Às vezes, o indivíduo sente uma dor, vai à farmácia e compra o remédio porque o médico prescreveu uma vez, em outra situação.
Já recebi vários casos como esse, em que o paciente já chega apresentando efeitos colaterais devido ao uso por conta própria. É muito perigoso”, adverte.
Outra questão é o uso de fórmulas de manipulação que contêm cortisona (como também são popularmente chamados os corticoides). “O paciente se queixa de cansaço ou fadiga e recebe uma fórmula com cortisona. Se tomar, pode se sentir menos cansada em um primeiro momento. Depois, corre o risco de enfrentar as consequências associadas ao uso crônico”, fala a médica.
Nesse sentido, existe um projeto de lei (PL 9035/2017) que visa regulamentar o uso de medicamentos que contêm corticoides, permitindo a venda apenas com prescrição médica.
A justificativa é que, embora seja um fármaco importante para o tratamento de uma série de doenças, traz efeitos adversos perigosos. Atualmente, o projeto está arquivado na Câmara dos Deputados.
Fonte: Vive Bem UOL
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