Sou psicóloga e fiz mestrado na UNIFESP, onde pesquisei adesão ao tratamento em pacientes com glomerulopatias. Por muito tempo, dei palestras para pacientes com doenças auto imunes. Era, até então, uma pessoa saudável.
Até que começou uma dorzinha no punho, que foi diagnosticada por alguns médicos como LER. Mas a danada não passava. Piorava. Alguns tratamentos amenizaram. Eu achava que era isso mesmo, até porque trabalhava muito no computador, fazendo laudos, escrevendo artigos e capítulos de livros. Tinha uma coisa esquisita ao amanhecer (o tal enrijecimento da AR) mas achava que precisava trocar o colchão. Até que um dia, precisei pedir para o meu filho me ajudar a fechar o botão da blusa, me dei conta que o que eu tinha não podia simplesmente ser LER.
Fui ao hospital, de táxi, porque naquele dia nem dirigir conseguia. O médico deu o diagnóstico. Fiquei por alguns instantes paralisada. AR? Sabia o que era mas ninguém da minha família tinha!
Comecei o tratamento. E também comecei a pensar. Não a pensar: por que eu? Afinal, essa não é uma pergunta que devemos fazer. Perguntar dessa forma significa que nós achamos acima das pessoas que adoecem. Eu sou humana, eu posso adoecer e adoeci. Ponto. Pessoas adoecem, sejam boas, más, incríveis ou especiais. Simples assim.
Então comecei a me fazer outra pergunta: por que adoeci? Considerando que não tenho base genética até meus tataravós ( eles viveram muitos anos e muito bem, minha mãe tem quase 90 anos, meu pai também e ninguém teve AR) comecei a pensar se não foi o meu estilo de vida e as minhas escolhas que me levaram a esse lugar. E percebi que sim, possivelmente foi isso. Não entendo que as doenças são psicossomáticas como muitas pessoas dizem, da forma que dizem: ninguém “faz” um câncer, ninguém “faz” uma AR. Mas, o nosso estilo de vida pode liberar uma série de hormônios e substâncias tóxicas que são produzidas pelo nosso organismo que quando se somam fazem um estrago danado!
Eu trabalhava 18 horas por dia, tinha um sócio em uma clínica que hoje posso dizer que foi uma relação absolutamente tóxica na minha vida! Então, quando recebi o diagnóstico e pensei sobre o que estava fazendo comigo, entendi que adoecer era a consequência mais natural possível diante das minhas escolhas de vida!
De lá pra cá, tenho aprendido a cuidar mais de mim. Hoje trabalho só 12 horas por dia. Convenhamos que pra quem trabalhava 18 horas é um avanço! (risos), sai da sociedade e montei meu próprio consultório, , aprendi a lidar com meus limites, comecei a dizer alguns “nãos” parei de fumar, aprendi muito sobre alimentação natural, tornei-me vegetariana, construir momentos só pra mim, onde me dou ao direito de ler um livro, assistir um filme, fazer uma comidinha gostosa ou simplesmente ficar à toa. Acordo mais cedo pra fazer uma caminhada e que delícia é andar pelas ruas do meu bairro as 6 da manhã!
Tenho dores? Sim, como vocês. Mas aprendi a conviver com elas e nunca tive pena de mim. Aceitei a minha condição e aprendi a lidar com ela. As vezes as dores são insuportáveis e falo pras minhas crianças ,atendo muitas crianças.
Hoje estou com dor, vamos fazer uma atividade mais calma?
Às vezes falo pro meu filho: não consigo fazer o jantar, inventa alguma coisa pra nós dois?
Às vezes falo para meus pais: não vou conseguir fazer o almoço de domingo hoje.
E assim vamos, procurando fazer o melhor que conseguimos e mostrando ao mundo que nem sempre estamos disponíveis. E nos respeitando. Sempre. Nossas limitações e dores.
Abraços a todos,
Meu nome é Valdeli Vieira, Psicóloga convivendo com Artrite Reumatoide.
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