Ausência do fármaco Adalimumabe, segundo especialistas, coloca em risco o tratamento de doenças crônicas graves
O medicamento Adalimumabe está em falta no Sistema Único de Saúde (SUS), o que tem preocupado autoridades e sociedades médicas. Justamente por isso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em parceria com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e o Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais (GEDIIB), solicitou, em carta aberta, providências imediatas para a falta do fármaco, usado no tratamento de doenças dermatológicas, reumáticas, inflamatórias intestinais e oftalmológicas.
“Tal lacuna terá impacto e consequências no curso da doença. Todos esses pacientes, no meio da atual pandemia, terão que procurar seus médicos para efetuar a troca da medicação por outras que poderão não ter efeito equivalente, gerando uma altíssima demanda para o sistema já sobrecarregado pela COVID-19. Muitos, que já utilizaram outras medicações e já sabem que não têm resposta adequada, terão seu quadro agravado”, afirma o texto.
Ainda em carta aberta, as sociedades médicas destacam outro aspecto preocupante: “Essa descontinuidade pode gerar consequências irreparáveis para a saúde, como perda de visão, perda de segmento intestinal e deformidades permanentes. Em muitos dos pacientes, essa é a única droga capaz de deixar sua doença inativa”.
“Além disso, com a falta do Adalimumabe e a necessidade de manter a doença sob controle, a opção será a troca por outros fármacos. Esta troca só é justificada por falha terapêutica e não está avaliada em estudos clínicos, o que vai na contramão da boa prática médica. Além disto, há de se considerar que a troca do Adalimumabe por outros imunobiológicos acarretará uma migração desse universo de pacientes para um consumo que não foi provisionado para os demais fármacos, o que vai acarretar, certamente, em desabastecimento”
“Pacientes não podem ser prejudicados por atrasos decorrentes de questões administrativas previsíveis”, afirma a carta. As sociedades, então, solicitaram a compra emergencial para suprir as demandas.
O Adalimumabe é um medicamento de alto custo, com valores superiores a R$ 2 mil. Por isso, a maioria dos pacientes depende do fornecimento realizado pela rede pública. No entanto, segundo a carta aberta, desde julho do ano passado, a distribuição vem acontecendo de forma irregular. A situação, no entanto, foi normalizada no último semestre de 2020 e voltou a apresentar instabilidade no início de 2021, quando ressurgiram denúncias de pacientes sobre a falta do medicamento.
“Há seis meses, o governo federal iniciou, via pregão eletrônico, um novo processo de aquisição de lotes do medicamento. Porém, desde então, não ocorreu nenhuma das etapas seguintes necessárias para efetuar a compra e suprir a demanda do SUS”, afirma o coordenador do Comitê de Imunobiológicos da SBD, Paulo Oldani.
Segundo informa o especialista, o Adalimumabe está estabelecido no SUS como a primeira opção de tratamento para diversas patologias, como a psoríase. Para outras, como a hidradenite supurativa, o remédio é a única opção de tratamento imunobiológico.
“A interrupção ou a substituição desse tipo de tratamento pode impactar negativamente no controle da doença, com graves danos à saúde dos pacientes. A eficácia dos imunobiológicos é reduzida se o paciente já foi exposto a outra terapia biológica. Portanto, de modo geral, essa troca deve ser evitada”, explica.
Ainda de acordo com o especialista da SBD, se medidas emergenciais não forem tomadas, os pacientes que estão com enfermidades controladas tendem a recrudescer a estados mais intensos de sintomas. “Todo esse entrave, da falta do Adalimumabe, interfere diretamente na vida de milhares de pessoas, que dependem do medicamento para manter a sua saúde física e qualidade de vida”, diz.
Em nota, “o Ministério da Saúde informa que emitiu um ofício às secretárias de Saúde, no ano passado, informando sobre a troca de laboratórios fabricantes do Adalimumabe na versão frasco-ampola, após a empresa farmacêutica anterior perder o registro junto à Anvisa. O novo laboratório – agora detentor do registro – está em fase inicial de produção. Para atender à demanda de todos os pacientes durante esse processo, o Ministério da Saúde conseguiu uma doação de 2.002 unidades e assinou um contrato aditivo.”
“Essa quantidade é suficiente para regularizar o abastecimento dos pacientes no primeiro semestre de 2021. A expectativa é que o estoque esteja regularizado em outubro de 2021. Quanto ao medicamento no formato seringa, o Ministério da Saúde abriu uma licitação para compra – com pregão eletrônico iniciado no dia 14/4. O processo foi necessário após o laboratório fabricante anterior declarar impossibilidade de produção do insumo”, diz.
Fonte: Estado de Minas.
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