Metade da população carioca — o que equivale a mais de três milhões de pessoas — poderá ser infectada numa epidemia de chikungunya neste verão. O alerta foi feito nesta segunda-feira pelo secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos, que foi informado da gravidade do problema por pesquisadores da Fiocruz, durante um seminário às vésperas do Natal. Ele já está planejando uma campanha de combate ao mosquito Aedes aegypti (transmissor do vírus), em conjunto com outros órgãos do município, para evitar a propagação da doença, cujos sintomas podem permanecer por até três anos. Em 2016, foram registrados quase 14 mil casos de chikungunya na capital. Dez pessoas morreram.
Segundo o médico José Augusto Britto, coordenador da Rede Dengue, Zica e Chicungunha da área de Atenção à Saúde da Fiocruz, uma análise dos acompanhamentos semanais feitos pelas equipes de vigilância do município aponta para uma elevação do número de registros.
— Há uma curva ascendente, que mostra o crescimento de casos. Embora haja uma redução durante o período de inverno, o vírus está circulando. A exemplo do que ocorreu com a zika no ano passado, temos uma taxa de ataque (número potencial de pessoas que podem ser acometidas pela doença pela primeira vez) ascendente do vírus da chicungunha, que é muito mais agressivo que os demais transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, considerando uma população virgem, ou seja, que não teve ainda contato com a doença. Esse crescimento, quando analisado estatisticamente, nos traz uma previsão de risco de infecção de no mínimo 30%, podendo chegar a 50% da população geral (adultos e crianças) neste verão no Rio — explicou Britto.
A doença é mais agressiva que a zika e ataca de imediato as articulações, lembra o secretário de Saúde. Segundo Carlos Eduardo, o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes Aegypti (LIRAa), que mede o nível de infestação de domicílios pelo mosquito transmissor do vírus, chegou ao total de 0,8% no município do Rio. No entanto, em algumas regiões da cidade, como a Zona Oeste, o percentual está acima de 1% (até esse índice, segundo a Organização Mundial de Saúde, a situação é considerada aceitável).
— A taxa de ataque fica em torno de 50%. Isso resultará em três milhões de doentes, com a possibilidade de cronificar (a doença se tornar crônica) em torno de até 40%. Significa dizer que a pessoa vai procurar atendimento médico por até três anos, usando analgésico, anti-inflamatórios, corticoides e opiáceos (morfina). Pode ocasionar um colapso no sistema de saúde. E lembro que os profissionais da área também ficam doentes. O verão começou agora, e já temos regiões com níveis (de infestação pelo Aedes) acima de 1%. O perfil sorológico da população nos mostra uma falta de anticorpos para a chicungunha. A doença ganhou esse nome porque causa tanta dor que a pessoa fica corcunda. A pessoa se dobra pela dor. Já fizemos um decreto que mostra que estamos em estado de alerta para a doença — comentou o secretário.
Além da campanha, outras duas medidas estão sendo adotadas. Uma delas é o estabelecimento de protocolos clínicos e laboratoriais de atendimento às pessoas infectadas. A outra é a escolha de unidades que concentrarão as informações sobre a doença.
— Vamos começar o treinamento de todo o corpo de saúde do município, pois todos terão que falar a mesma língua. As palestras começam na quarta-feira (amanhã). Além disso, temos 20 unidades-sentinela para identificar o aumento do número de casos em cada região. Elas conseguem ver qual a intensidade e a prevalência dos vírus transmitidos pelo Aedes aegypti — explicou.
Outra frente da secretaria será o combate aos focos do mosquito. O secretário ressalta que 80% dos criadouros do Aedes são domiciliares.
— Se cada dona de casa dedicar dez minutos do seu dia, durante uma semana, ao combate ao foco domiciliar, reduziremos o risco de ocorrer essa epidemia. Os mosquitos também estão fora de casa, em vasos de plantas, pneus, caixas d’água e lixo. Por isso, toda a estrutura da prefeitura vai estar direcionada para o combate ao Aedes aegypti. Eu conto com o apoio das secretarias de Educação e Conservação, além de órgãos como Comlurb e Fundação Parques e Jardins. São 2,4 milhões de domicílios que precisam ser visitados. A campanha é da cidade, não é só da minha pasta — enfatizou o secretário.
Num dos 79 decretos publicados na edição extraordinária do Diário Oficial do Município domingo, primeiro dia da administração do prefeito Marcelo Crivella, está prevista a limpeza de terrenos baldios ou de particulares onde haja focos do inseto. Caso o dono do imóvel não esteja no local, a Comlurb fará a limpeza e depois mandará a conta ao proprietário.
ILHAS TIVERAM 60% DOS MORADORES INFECTADOS
O coordenador da Rede Dengue, Zica e Chikungunya ressaltou o fato de a pessoa infectada perder a capacidade de trabalhar. José Augusto Britto lembrou o caso das Ilhas Reunião, um departamento francês no Oceano Índico, onde 60% dos moradores foram contaminados. A doença afetou a economia do lugar porque os habitantes não conseguiam exercer suas atividades profissionais. Até trabalhadores da área de saúde adoeceram, contou o médico.
— Com a chikungunya, não tem conversa. Ela derruba mesmo. A pessoa tem que ficar em repouso por 15 dias de imediato, sem fazer qualquer esforço, caso contrário demora até três anos para que não perceba mais os sintomas da doença. Ela tira a capacidade laborativa do doente. No caso da zika, a população do Rio já teve o contato com ela. Teve muita gente que foi infectada, mas nem percebeu. A doença passou até como uma simples alergia, uma irritação na pele. O efeito maior foi nas grávidas. Isso não quer dizer que não haverá mais casos de dengue e zika. As pessoas também podem ser infectadas por essas doenças neste verão — alertou o especialista da Fiocruz.
Fonte: O Globo
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