Embora a frase do famoso cirurgião pediátrico norte-americano pareça óbvia, e tenha se tornado conhecida na década de 1980, ainda reflete um dos maiores problemas de saúde no mundo. A adesão a medicamentos é uma preocupação crescente para médicos e sistemas de saúde devido a evidências crescentes de que a baixa adesão esteja associada a desfechos adversos e maiores custos com saúde.
A Associação Médica Americana define que um paciente é considerado aderente ao tratamento se tomar 80% de seus medicamentos prescritos. Nos Estados Unidos, estima-se que 30% das prescrições médicas nunca são dispensadas e, em média, 50% dos medicamentos indicados para doenças crônicas não são tomados corretamente. Anualmente, a baixa adesão ao tratamento medicamentoso é responsável por 11% das internações e 125 mil mortes no país norte-americano, além de gerar custos estimados de US$ 100 a US$ 300 bilhões.
Como primeiro passo para melhorar a adesão, é preciso que haja um reconhecimento amplo do problema e, uma vez identificado, estratégias simples devem ser implementadas na prática diária. Gestores de benefícios estão estrategicamente posicionados para influenciar a adoção de serviços que promovam melhor acesso e qualidade nos cuidados de saúde, incluindo adesão à medicação.
Em termos práticos, investir no acesso a medicamentos é também uma forma de prevenção. Para as empresas, significa economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor, quando as companhias enxergam que o investimento para auxiliar o colaborador a seguir o tratamento recomendado pelo médico é baixo, e passam a apoiá-lo, percebem redução do absenteísmo, aumento da produtividade, redução de custos e de sinistralidade.
O uso inteligente dos dados e informações indicam o caminho certo na gestão de saúde. Hoje, já existem produtos que irão gerar melhoria na qualidade de vida e redução de custos, garantido o medicamento certo para o paciente certo. As principais oportunidades em que o benefício farmácia pode melhorar a adesão ao tratamento medicamentoso incluem:
– Redução de custo dos medicamentos
Existem evidências sólidas na literatura médica de que a redução de custos aumenta a adesão ao tratamento medicamentoso. Uma das principais oportunidades neste sentido é a avaliação farmacêutica para a substituição de determinados medicamentos por genéricos. A economia pode chegar a 70% para alguns produtos.
– Orientação farmacêutica
O uso de múltiplas medicações e complexidade do tratamento tem se tornado uma realidade cada vez mais presente devido ao envelhecimento populacional e maior número de doenças crônicas. A complexidade do tratamento é a responsável direta por diminuir a adesão ao tratamento. Já os programas de entrega domiciliar de medicamentos aumentam a aderência ao tratamento em até 5,5 vezes quando comparado a população de pacientes crônicos sem este benefício. Além disso, pacientes que contam com a entrega em suas residências (normalmente gerenciados por farmacêuticos) reduzem custos, aumentam a conveniência e não se expõem em tempos de pandemia. O apoio e a coordenação farmacêutica têm se mostrado cada vez mais efetivo no aumento à aderência, inclusive devido à redução de efeitos colaterais.
– Monitoramento pelo uso de dados
Fatores como esquecimento ou cálculo errado de doses estão entre os principais motivos para a baixa adesão ao tratamento medicamentoso. O monitoramento através de dados de consumo pode permitir a intervenção precoce em pacientes não aderentes. Existem mecanismos que podem ajudar o paciente com esta tarefa, inclusive com teor educativo para maior empoderamento de sua condição de saúde. Além disso, o uso inteligente de dados, através de algoritmos, pode identificar e coibir fraudes.
Diante da realidade enfrentada pelos brasileiros para aderir a tratamentos médicos, facilitar o acesso dentro da própria empresa pode representar uma grande mudança de vida para os seus colaboradores. É preciso desmistificar o fato de que benefícios farmácia só cabem nos orçamentos de grandes corporações. Hoje, há opções para todos. E a democratização do uso de medicamentos pode começar agora.
*Dr. Alexandre Vieira é Chief Medical Officer da Funcional Health Tech e membro do Comitê Técnico da Aliança para Saúde Populacional (ASAP). Ele é médico intensivista, com MBA em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde, e em Machine Learning e Big Data, ambos pela FGV. Tem ampla experiência em consultorias voltadas a hospitais e prestadores de serviços de saúde.
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