A proprietária de uma clínica particular de vacinação foi presa em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por crimes contra as relações de consumo e saúde pública, segundo a Polícia Civil. A prisão é preventiva e ocorreu na quarta-feira (14). A clínica foi interditada.
Segundo o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais, delegado Rodrigo Bozzetto, a mulher, de 37 anos, aplicava falsas doses de vacina, principalmente em bebês. De acordo com ele, não havia nada nas seringas.
“Na verdade, ela estaria simplesmente picando algumas crianças. Eram vacinas ministradas para recém-nascidos. Isso é muito grave, é crime hediondo, em razão dessa exposição à população”, afirmou.
A Polícia Civil começou a investigar a clínica a partir de uma denúncia anônima. Além de vacinar bebês contra a meningite, por exemplo, a proprietária – que é farmacêutica em formação – também oferecia doses para a febre amarela, que ela nem tinha em estoque.
“Foram encontradas várias embalagens armazenadas de forma irregular, algumas com lacre já aberto, outras sem prazo de validade, sem nota fiscal”, descreveu o delegado.
Conforme informações da denúncia, a mulher, inclusive, utilizaria a mesma agulha em pessoas diferentes, entre elas crianças e adolescentes. Geralmente isso era feito com as vacinas da febre amarela e também da meningite (ACWY e Meningo B).
O secretário estadual de Saúde, João Gabbardo dos Reis, acompanha a investigação. Ele confirmou que as aplicações de vacina eram simuladas.
“Estamos perplexos. Isso é uma coisa inédita, difícil de acreditar que alguém possa tomar uma iniciativa como essa. A ganância parece não ter limite para algumas pessoas”, afirmou Gabbardo em entrevista.
O secretário afirmou que a clínica tinha autorização para vacinar e também possui alvará de funcionamento. Porém, ele explicou que existem algumas exigências que a clínica não estava cumprindo.
“Todas as clínicas são fiscalizadas e preenchem uma série de requisitos, só que elas devem fazer uma coisa que essa clínica não devia fazer, que é encaminhar à Secretaria da Saúde a relação das pessoas que foram imunizadas no local”, disse.
“E é de praxe que a clínica mostre ao usuário o frasco fechado, abra a seringa para mostrar que é descartável. Isso faz parte da rotina, até para deixar o paciente confortável”, acrescentou.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que a rede pública possui vacina para a febre amarela. Segundo Gabbardo, não há mais doses disponíveis em clínicas particulares, onde o valor fica entre R$ 150 e R$ 200.
A gerente da Vigilância em Saúde de Novo Hamburgo faz um alerta aos pais. “É muito grave, porque agora tem pessoas que estão se considerando vacinadas, de repente até crianças, e que na verdade não estão”, indicou Lisa Gaspar Ávila.
A Polícia Civil orienta que, quem foi vacinado nos últimos meses nessa clínica, deve procurar a Vigilância em Saúde da cidade e a Delegacia de Proteção ao Consumidor.
“Todas essas pessoas que foram vacinadas nessa clínica a partir de determinado momento devem comparecer à Vigilância Sanitária do município de Novo Hamburgo. Nós vamos criar um QG lá para receber esses pacientes”, garantiu o secretário.
A Secretaria divulgou os seguintes meios de contato para tirar dúvidas: [email protected] e telefone (51) 3097-9411, das 8h às 17h.
Defesa diz que denúncia é falsa
Após ser presa, a proprietária foi levada à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre.
O advogado da dona da clínica, Luiz Gustavo Púpero, alegou que a prisão foi feita a partir de uma falsa denúncia e que não há informações de vítimas. A defesa ingressou com um pedido de revogação da prisão preventiva no Fórum de Novo Hamburgo e impetrou um habeas corpus no Tribunal de Justiça, pedindo a liberdade da cliente.
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