A elasticidade das articulações é geralmente associada ao bom condicionamento físico. Para dançarinos profissionais e atletas de algumas modalidades, ela é essencial. Cobiçada por muitos, porém, a flexibilidade nem sempre é positiva, afirma um crescente corpo de pesquisa que descobriu uma ligação surpreendente entre altos níveis de elasticidade e ansiedade. Um dos estudos mais recentes que reforçam esses dados foi publicado na Frontiers in Psychology, o qual relaciona articulações hipermóveis a maior atividade cerebral em regiões associadas com essa dificuldade emocional.
Característica de 20% da população, a hipermobilidade articular confere amplitude de movimento incomum. Muitos com essa peculiaridade podem, por exemplo, colocar facilmente as mãos espalmadas no chão sem dobrar os joelhos. A característica parece ser genética, resultante de variação no colágeno, a principal proteína estrutural do tecido conjuntivo.
“A hipermobilidade articular pode causar impacto sobre todo o corpo, e não apenas nas conexões entre os ossos”, diz a psiquiatra Jessica Eccles, da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Em um estudo com imagens cerebrais de 2012, Jessica e seus colegas descobriram que indivíduos com hipermobilidade articular tinham a amígdala aumentada. Essa estrutura tem papel fundamental no processamento das emoções, principalmente o medo. Na pesquisa publicada mais recentemente na Frontiers in Psychology, de Jessica e sua equipe, em colaboração com pesquisadores da Espanha, os participantes com essa característica exibiram reatividade neural elevada em regiões envolvidas com a ansiedade quando expostos a cenas que evocavam tristeza ou raiva. Os cientistas observaram também associação entre a condição e o aumento do consumo de chocolate, tabaco e álcool – produtos frequentemente utilizados como automedicamentos para tentar amenizar a inquietação.
A hipermobilidade articular pode estar associada também com uma exacerbação do mecanismo de “luta ou fuga”. Jessica e seus colegas encontraram mais evidências dessa hipótese num estudo com 400 pacientes psiquiátricos. Eles descobriram um mecanismo simples, mas poderoso por trás dessa relação: alterações no colágeno que deixam as articulações muito flexíveis parecem afetar os vasos sanguíneos, o que pode aumentar a probabilidade de acúmulo de sangue nas veias das pernas. Isso tende a favorecer respostas cardiovasculares exageradas para manter a saída do sangue do coração. Quando esse órgão precisa trabalhar muito mais fortemente apenas para preservar a circulação sanguínea, pode deixar o corpo à beira de uma reação de luta ou fuga, aproximando-o do pânico.
Jéssica acredita que esses pacientes podem se beneficiar, principalmente, dos betabloqueadores, medicamentos que ajudam a aliviar a ansiedade, reduzindo os sintomas da reação de luta ou fuga do organismo. Ela espera que estudos futuros investiguem esses tratamentos específicos para pessoas com articulações mais flexíveis.
Fonte: Uol Noticias
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