Uma caixa com 30 comprimidos de Quetiapina (25 mg, 100 mg e 200 mg) custa entre R$ 30 e R$ 287. Pacientes da doença possuem dosagem média de seis comprimidos por dia, de acordo com cada grau da doença.
De acordo com o pedagogo Pedro Mourão, que cuida da irmã, 66, e da sobrinha, 46, ambas em tratamento contra esquizofrenia há mais de cinco anos, desde o começo do mês ele é informado no HSM da falta do medicamento. Ele relata que não é a primeira vez que falta o remédio, mas ressalta que a situação logo era normalizada. No entanto, desta vez, ele diz que o problema parece ser bem maior, pois não há previsão de reabastecimento: “Todo dia é a mesma resposta, sem previsão”.
Devido à falta do medicamento no tratamento cotidiano, Pedro relata que a irmã e a sobrinha estão apresentando alterações emocionais intensas. “Elas ficam totalmente inquietas e não dormem. Esse medicamento é o único que está sendo eficaz para que elas se acalmem. A minha sobrinha chora, se esperneia, minha irmã não para quieta. Com o uso do remédio, a gente consegue trocar fraldas e fazer outras atividades”, explica.
O mesmo caso ocorre para uma paciente (nome preservado) de 52 anos, que realiza o tratamento da doença há 17 anos. O tratamento dela ocorre com a dosagem de três comprimidos de Quetiapina, de 200 mg, por dia. Nessa terça-feira, 14, a responsável pela paciente, que prefere ficar no anonimato, foi ao Hospital de Saúde Mental de Messejana, onde também foi informada de que não havia medicamento e nem previsão de chegada. A resposta, segundo ela, foi a mesma: “o Ministério da Saúde não enviou o remédio”.
Conforme o médico psiquiatra Vicente Linhares, os efeitos quando o paciente fica sem o uso de medicamento depende de cada caso. O principal risco é o paciente ter o retorno dos sintomas psicóticos. “O paciente com esquizofrenia tem a necessidade do uso contínuo dos medicamentos. A partir do momento que ele tem interrupções, ele aumenta muito o risco de ter uma nova crise psicótica. E a cada crise, acaba tendo prejuízo maior, do afeto, da cognição, da memória, raciocínio, entre outros. Corre risco também dele não responder mais àquela medicação naquela dose, e o quadro pode se agravar”, alerta.
Procurada pelo O POVO nessa quarta-feira, 15, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou, em nota, que o Hospital de Saúde Mental de Messejana está com abastecimento parcial do medicamento Quetiapina (25 mg, 100 mg, 200 mg). A pasta explicou que, de acordo com informações repassadas pelo Ministério da Saúde, o medicamento “encontra-se em finalização do processo de compra, com previsão de regularização do fornecimento para janeiro”. A pasta da saúde destacou que os pacientes internados no HSM seguem recebendo a medicação normalmente.
O Ministério da Saúde foi procurado pelo O POVO, por e-mail, nessa quarta-feira, 15, e nesta quinta-feira, 16, para um posicionamento sobre a falta do medicamento no Ceará. Assim como para informar uma previsão de quando haverá a regularização do medicamento no Estado. A pasta federal não retornou com um posicionamento até o fechamento desta matéria.
Fonte: O Povo.