“É rezar para que remédio chegue logo. Só tenho uma caixinha da Azatioprina e estou com medo de interromper meu tratamento contra o lúpus” . O lamento é da professora desempregada Cristiane Rodrigues, de 48 anos, moradora de Itaboraí, que anteontem saiu da Farmácia Estadual de Medicamentos Especiais (Riofarmes), na Cidade Nova, de mãos vazias, pois o imunossupressor do qual precisa estava em falta.
A mesma apreensão é vivida por dezenas de outras pessoas que, diariamente, peregrinam na farmácia, onde são distribuídos gratuitamente remédios de alto custo a quem tem doenças raras e crônicas. Só no início desta semana, eram 15 fármacos com estoque zerado, segundo funcionários. Problema admitido pela Secretaria estadual de Saúde (SES), que, no entanto, diz se empenhar “para regularizar o fornecimento de todos” os medicamentos.
— Sou paciente renal crônica. Dependo da Azatioprina. Mas há quase três anos estou nessa luta — dizia a professora Cristiane sobre a dificuldade de conseguir o remédio.
Na Riofarmes, o drama se agrava porque, além de caros, os medicamentos especiais não são encontrados facilmente em farmácias comuns. Na lista do que falta está, por exemplo, a Ciclosporina, usada para evitar a rejeição de órgãos transplantados e para tratar algumas doenças autoimunes; a Leuprorrelina, indicada contra doenças como o câncer de próstata; e até a Hidroxicloroquina, que está no centro da polêmica sobre o tratamento precoce do coronavírus, mesmo sem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Rotina de frustração
A funcionária pública Eliane dos Santos, de 55 anos, moradora de Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, recorreu à Riofarmes em busca do Infliximabe, receitado no tratamento da doença de Crohn (uma inflamação gastrointestinal). Para comprar a quantidade que necessita, ela teria que desembolsar cerca de R$ 18 mil, sem que sua família tenha condições para arcar com tamanho custo. Na última segunda-feira, a servidora foi mais uma a sair da farmácia frustrada, para a angústia de sua filha, Vanessa Costa, de 20 anos.
— Minha mãe sente muitas dores, que os remédios amenizariam. Ligamos sempre para saber quando vai ter a medicação. E nada. Então, temos que gastar mais de R$ 100 de Uber para vir aqui todo mês — contava Vanessa.
No mesmo dia, a aposentada Dagmar Viana, de 59 anos, também deixou a farmácia preocupada. Diagnosticada com fibromialgia (doença reumatológica que afeta a musculatura, causando dor) e com asma, ela toma quatro medicamentos: Formoterol, Budesonida, Sulfassalazina e Hidroxicloroquina. Mas só havia disponível o primeiro deles, usado contra a asma.
— Quando não tem aqui, acabo comprando. Fica muito caro por mês. É uma sensação muito ruim. Cadê o estado? — questionava dona Dagmar, moradora da Cidade de Deus.
Em nota, a SES informou que o pregão para a compra da Azatioprina está agendado para 26 de julho. Afirmou ainda estar em processo final de pesquisa de mercado para adquirir medicamentos como a Sulfassalazina e a Hidroxicloroquina, usados no tratamento de lúpus eritematoso e artrite reumatoide.
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