Uma nova classe de medicamentos, os chamados remédios biológicos, é a grande promessa para o futuro terapêutico de doenças graves como câncer, artrite reumatoide, esclerose múltipla, hepatite C, doença de crohn, entre outras.
Produzidos a partir de organismos vivos que interagem com proteínas humanas – daí a origem do nome – os biológicos têm sido chamados de “medicamento do futuro”, mas já vêm sendo utilizados em todo o mundo há pelo menos cem anos.
As vacinas são bons exemplos, assim como a insulina – aplicada em diabéticos desde 1982, quando entrou no mercado norte-americano –, e os interferons, prescritos para pacientes com esclerose múltipla ou hepatite C. O lado inovador, no entanto, está na formulação e também na possibilidade de tratamentos mais personalizados. Hoje estima-se que um quinto dos remédios que chegam ao mercado são biotecnológicos.
“Produtos biológicos têm um histórico de sucesso no tratamento de muitas doenças crônicas e que trazem risco à vida“, afirma Gilberto Castañeda, professor de farmacologia do centro de pesquisa e estudos avançados do Instituto de Política Nacional do México e membro do conselho consultivo do Centro Latino Americano de Pesquisa em Biológicos (ClapBio).
Em comparação com os medicamentos sintéticos convencionais, como a maioria dos analgésicos, a produção de um biológico é muito mais complexa, já que as substâncias terapêuticas só podem ser feitas por sistemas vivos e têm uma estrutura molecular extensa e heterogênea.
“As células vivas atuam como uma fábrica”, explica a Agencia Nacional de Vigilância Sanitaria (ANVISA), na cartilha O que se deve saber sobre medicamentos.
Personalização
Os biológicos têm um diferente mecanismo de ação, pois são capazes de restringir a área de atuação e agir de forma pontual e específica contra determinadas doenças. É justamente essa característica que permite uma personalização do tratamento.
“Essa nova tecnologia é específica. Em vez de uma cobertura sistêmica, que atua no corpo todo, passamos a trabalhar com receptores particulares, reduzindo os efeitos adversos e atuando no mecanismo da doença”, afirma Denizar Vianna, professor do departamento de clínica médica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
A precisão da terapia é um importante caminho para pacientes com câncer, por exemplo. Agindo de forma mais inteligente do que a quimioterapia, as terapias-alvo atingem apenas as células tumorais e conservando as saudáveis.
“Esse é o caminho para o futuro. Logo, e já existem medicamentos em estudo nesse sentido, não precisaremos mais da quimioterapia para tratar um câncer, poderemos apostar apenas nos biológicos”, prevê o médico. Vianna ressalta, no entanto, que a substituição dos sintéticos pelos biológicos não deve acontecer em todas as terapêuticas.
“Na cardiologia, por exemplo, temos alguns mecanismos – como a pressão alta e o colesterol – já bem resolvidos. Por isso, nessa área permaneceremos como estamos”, acredita.
O alto custo do medicamento, no entanto, tem sido uma das grandes desvantagens em comparação com os demais tratamentos. Reduzir o potencial tóxico também.
“Hoje já conhecemos marcadores que nos indicam se há mais chance de problema cardíaco. Nesses casos, é necessário um acompanhamento bem de perto ou até mesmo uma discussão a fim de avaliar se esse paciente é elegível para esse tratamento”, diz Vianna.
O desafio dos biossimilares
Com a quebra de patente de alguns medicamentos, a indústria começa a discutir agora a fabricação dos fármacos similares também no campo dos biológicos. Uma discussão inteiramente nova.
“Não é possível replicar a matriz. Por isso, os similares não são – e nem podem ser – entendidos como genéricos. O próprio nome já diz: é parecido, não a mesma coisa”, explica Gilberto Castañeda.
O professor compara os remédios à produção de vinhos. “Temos vinhos de uma mesma região, com a mesma variedade de uvas, mas que apresentam diferenças no teor alcoólicos entre as marcas. Com os biofármacos o raciocínio é o mesmo. É improvável termos a mesma molécula, porque ela será feita de forma diferente”, explica.
O surgimento de similares, no entanto, é bem-visto e esperado. “Eles devem aumentar o acesso a esse tipo de remédio, barateando os custos. Mas eles precisam atender aos critérios estabelecidos, não justifica colocarmos a vida dos pacientes em risco”, ressalva o professor.
Em 2009, a Organização Mundial de Saúde definiu critérios que devem ser seguidos na produção dos similares. Entre eles, destacam-se a garantia da qualidade do medicamento, avaliação não-clínica seguida de estudo clínico controlado e supervisão posterior de possíveis efeitos adversos.
“Por isso os similares devem fazer seus próprios estudos com números de pacientes suficientes a fim de adequar doses e outros fatores”, completa.
Fonte: Saúde IG
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