A lagarta brasileira Premolis semirufa, também chamada de pararama, é encontrada na floresta amazônica e apresenta cerdas ao longo de seu corpo. Essas cerdas são perigosas: se uma pessoa tocar nelas, vai sofrer com uma urticária intensa (lesão de pele) no ponto do contato, seguida de potente inflamação local. Os seringueiros que atuam na região estão entre as pessoas em maior risco de encontrar, sem querer, uma pararama grudada em um tronco de árvore. Se eles encostarem na lagarta não só uma, mas também outras vezes, vão desenvolver deformidades osteoarticulares, denominadas pararamose, parecidas com as deformidades causadas por doenças que afetam as articulações, como artrite reumatoide e osteoartrite.
A pararamose e os mecanismos relacionados a ela são um dos objetos de estudo do grupo de pesquisa liderado pela pesquisadora Denise V. Tambourgi, do Laboratório de Imunoquímica do Instituto Butantan. Uma das descobertas do grupo foi que o extrato das cerdas da pararama pode causar intenso efeito pró-inflamatório (ou seja, que promove inflamação) em condrócitos, importantes células presentes nas articulações e envolvidas em doenças osteoarticulares.
Para entender como funciona esse processo, os pesquisadores realizaram experimentos com condrócitos humanos, que foram tratados com o extrato das cerdas da pararama. Ao observar o que acontecia, os cientistas descobriram que essas células são capazes de produzir vários componentes e mediadores relacionados aos processos inflamatórios, que podem levar a deformidades ósseas como aquelas observadas nos trabalhadores acidentados com a lagarta.
O mais curioso é que esse fenômeno têm uma similaridade com o que ocorre nos processos inflamatórios das doenças das articulações, principalmente em relação à degradação da cartilagem. Achados como esse são importantes não só para compreender as características dos acidentes causados pela pararama, mas também para o desenvolvimento de terapias e a busca de medicamentos para o controle da pararamose e de outras doenças das articulações.
As conclusões da pesquisa estão no artigo científico “Human chondrocyte activation by toxins from premolis semirufa, an Amazon rainforest moth caterpillar: identifying an osteoarthritis signature“, publicado na revista Frontiers in Immunology (2020). Os autores do trabalho são Isadora M. Villas-Boas, Giselle Pidde, Flavio Lichtenstein, Ana Tung Ching Ching, Inácio de Loiola Meirelles Junqueira-de-Azevedo, Carlos DeOcesano-Pereira, Carlos Eduardo Madureira Trufen, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, Kátia Luciano Pereira Morais e Denise V. Tambourgi.
Fonte: Instituto Butantan
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