Os incômodos surgem quase sempre à noite, durante o repouso. A queixa recorrente é de pequenos choques nas pernas, sensação de picadas e comichões que provocam um desejo incontrolável de mexer as pernas para obter alívio. Trata-se de uma situação tão desconfortável que os pacientes ficam impedidos de participar até de programas corriqueiros, como ir a uma sessão de cinema.
É com essa angústia que convivem os portadores da síndrome das pernas inquietas, uma desordem neurológica que começa a receber mais atenção dos médicos. Isso ocorre em razão de sua gravidade e também de sua incidência, surpreendentemente alta, segundo estudo apresentado na última semana no Congresso do Colégio Americano de Pneumologistas, em San Diego, nos EUA.
Até hoje as estatísticas indicavam que a enfermidade atingia cerca de 10% da população. Pesquisadores da Universidade de Missouri afirmam, porém, que o índice pode chegar a 23%. Para piorar, ainda há falta de conhecimento da doença por parte de médicos, o que favorece o subdiagnóstico.
“Por isso, é preciso educar clínicos e pacientes sobre os sinais”, diz o pesquisador Ammar Alkhazna, um dos responsáveis pelo trabalho. “Dessa forma será possível diagnosticar e oferecer uma terapia que melhore a qualidade de vida dos doentes.”
Algumas informações sobre a doença estão disponíveis. Sabe-se, por exemplo, que ela está relacionada a um desequilíbrio no processo de regulação da dopamina. Esta é uma das substâncias que fazem parte da bioquímica cerebral e, entre suas funções, está a participação nos processos que levam ao controle motor.
No entanto, há outros fatores em investigação. Entre eles estão a ausência de ferro no organismo, a diabetes e artrite reumatoide (leia mais no quadro). Também já está claro que os movimentos causados pela síndrome não têm nenhuma relação com o balançar de pernas e mãos, sintomas muito comuns durante situações de tensão ou de ansiedade.
“São coisas bem diferentes”, afirma o neurofisiologista Flávio Aloé, do Centro do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na síndrome, o desconforto aparece quando a pessoa se deita e aumenta de intensidade ao longo da noite.
“Isso pode acontecer uma vez por semana ou todas as noites, prejudicando demais o sono”, afirma Aloé. O mal-estar é tamanho que muitos pacientes precisam sair da cama e ficar caminhando pela casa ou começam a fazer massagens nas pernas. O resultado é que o portador não consegue descansar e, no dia seguinte, sofre com dificuldade de concentração e irritabilidade, por exemplo.
Embora não exista exame específico que leve a um diagnóstico, é possível identificar alterações e tratá-las com bom resultado. “Quando existe uma deficiência de ferro, por exemplo, a terapia de reposição desse mineral pode ajudar a controlar os sintomas”, esclarece Aloé.
Fonte: Revista Istoé.
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