De acordo com o neurologista Daniel Ciampi, “o paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo”
Novos fatores se somam ao cenário de preocupações trazido pela covid-19: a permanência de sequelas e a piora de condições já existentes. Um exemplo vem de estudos do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) apontando que a covid-19 tem influência sobre quadros de dores crônicas, mesmo depois de superada pelo paciente infectado.
A dor crônica é aquela que persiste em indivíduos por mais de três meses durante a maioria dos dias. Dentre as dez doenças mais prevalentes no mundo, quatro são dores crônicas. No contexto de covid, este quadro se agravou: “Na prática clínica, começamos a ver muitos pacientes sobreviventes se queixando de muita dor de cabeça, dor no corpo, dores musculares e alguns casos persistindo por muito tempo”, afirma Daniel Ciampi, do Departamento de Neurologia e responsável pelo Ambulatório de Dor da Neurologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC), em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição.
A pesquisa, que teve participação de Campi, também mostrou que, dentro de um grupo de 120 indivíduos com sequelas decorrentes da covid, 5% relataram dor de cabeça e 19% dor crônica.
Apesar de o estudo também associar essa piora no quadro de doenças crônicas à internação em UTIs – onde o paciente está suscetível a um bloqueio neuromuscular, agente que pode causar miopatias, doenças musculares – o neurologista alerta que as dores pós-covid não aparecem só nos casos graves. “O paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo, isso é algo que está se mostrando na prática clínica”
Para ele, a pesquisa pode ser importante para o planejamento pós-pandemia, principalmente no sentido de “como lidar com os pacientes que são sobreviventes da covid e que saem com algum tipo de restrição e com algum impacto negativo na vida deles”. Porém, considerando que os dados da pesquisa apontam que pelo menos 20% dos pacientes recuperados apresentam quadros de doenças crônicas, o alerta recai sobre um sistema de saúde ainda mais sobrecarregado, agora com pacientes já recuperados, mas que ainda possuem sequelas.
Segundo o especialista, os próximos passos da pesquisa são buscar formas de tratar essas dores pós-covid, encontradas principalmente nos pés e nas mãos. “Pacientes têm um impacto muito grande na vida deles por causa dessa dor, dessas dores novas”, comenta.
Descubra mais sobre Artrite Reumatoide
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.