Aplicar um lubrificante ocular duas ou mais vezes por dia pode parecer uma atitude sem muito valor, mas é fundamental para quem sofre de olho seco. Esse tipo de ‘lágrima artificial’ ajuda a evitar que os olhos ardam, fiquem sensíveis à luz, vermelhos e ressecados. Porém, nem todos os tipos de olho seco necessitam apenas de “lubrificar” os olhos com colírios. Muitos casos necessitam de outros cuidados além de apenas pingar colírios.
Mas, afinal o que é a Síndrome do Olho Seco? O Dr. Richard Yudi Hida (CRM-SP 87030 e RQE 47076), membro da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR), palestrante no XVIII Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa, que aconteceu de 16 a 19 de maio em São Paulo, Coordenador do Setor de Superfície Ocular da USP e Médico Assistente do Setor de Catarata da Santa Casa de São Paulo, relata que este problema, também conhecido de forma leiga como Síndrome da Disfunção Lacrimal, “é uma doença crônica multifatorial da superfície ocular caracterizada pela diminuição da produção de lágrima ou deficiência em alguns de seus componentes com consequencia desequilíbrio do filme lacrimal. A qualidade da lágrima pode ficar alterada quando se altera uma das três camadas que a compõem: a de água, a de mucina e a de gordura. É de extrema importância o equilíbrio desses componentes para a saúde da superfície ocular. A camada gordurosa é responsável por não deixar a água evaporar. Se houver deficiência nessa camada, por exemplo, não é possível permanecer com os olhos abertos por mais que 2 a 3 segundos, devido ao excesso de evaporação”.
Os mais atingidos
De acordo com o Dr. Richard Hida indivíduos que usam computador/tablet/celular, mulheres, pessoas acima dos quarenta anos e quem usa lentes de contato estão mais propensos ao problema. Acredita-se que essa Síndrome afete mais de 18 milhões de brasileiros, segundo dados epidemiológicos mundiais publicados no último Workshop de Olho Seco, realizado em 2017. Nesse workshop, organizado pela Tear Film Ocular Surface Society- TFOS, participaram mais de 150 especialistas da área, dentre eles, Dr. Richard Hida e outros quatro brasileiros (disponível no www.tearfilm.org).
O especialista relata ainda que fatores ambientais, como poluição, alterações do meio ambiente, umidade, temperatura ou ar condicionado, são os principais causadores do olho seco devido ao aumento da evaporação da lágrima por alterações na sua qualidade. “O uso de qualquer dispositivo eletrônico ou não eletrônico que faça com que o individuo permaneça com os olhos fixos por muito tempo, pode causar também a Síndrome do Olho Seco devido à deficiência no piscar, principal ato na estabilização da superfície ocular. Outros agentes influenciadores neste quadro são a maquiagem, oleosidade da pele e medicações sistêmicas”. Dr. Hida também explica que é preciso observar se há cansaço ocular, ardência, ressecamento, oscilação ou baixa visão, sensação de areia nos olhos, já estes são indícios para a Síndrome do Olho Seco.
Há casos onde a secura também pode ser desencadeada pela queda na sua produção lagrimal. Doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, estão entre os fatores de risco mais comuns para essa versão de olho seco. Aliás, o próprio envelhecimento tem um papel na história — estudos da Unifesp mostram que 20% da população acima de 50 anos apresentam vestígios do problema.
A lágrima tem várias funções, por isso sua deficiência pode gerar inúmeras complicações: elas lubrificam o olho, fornecem nutrientes e oxigênio, ajudam a focar a imagem e a limpar os olhos de detritos. Um quadro severo de olho seco não tratado pode resultar em úlcera, infecção e até mesmo na perfuração da córnea, a superfície transparente mais exterior do olho que protege todas as estruturas internas do olho.
Prevenção e tratamento
A terapêutica e as recomendações específicas para cada tipo de olho seco devem ser indicadas após o diagnóstico com seu oftalmologista, uma vez que cada tipo tem suas peculiaridades no tratamento. Portanto, a única prevenção/diagnóstico é visitar o médico oftalmologista para exames de rotina. Como forma de melhorar os sintomas, Dr. Richard Hida elenca algumas orientações que devem ser consideradas no dia-a-dia:
a) Descanse os olhos: usar computador ou ler por muito tempo “força” a vista e reduz o número de piscadas. Faça pequenos intervalos direcionando os olhos para um ponto distante. Esse exercício também ajuda relaxar a musculatura responsável pelo foco de perto;
b) Acerte a altura da tela do computador: o ideal é que a tela fique um pouco mais baixa do que a linha do olhar. Os olhos voltados para baixo ficam mais relaxados e menos abertos;
c) Pisque com mais frequência: quando estamos diante de atividades que exigem o olhar mais atento, piscamos menos do que o necessário, o que prejudica a lubrificação da córnea;
d) Beba bastante líquido: assim como os lábios e a pele, os olhos também se desidratam;
e) Use óculos de sol com proteção ultravioleta: quando em ambiente com sol, eles protegem os olhos de fatores externos que podem irritar a pálpebra e superfície do olho, como os raios ultravioleta e o vento;
f) Higienize bem a região dos olhos: retire a oleosidade da pele e resquícios de maquiagem utilizando sabonetes neutros. Esse cuidado evita o entupimento das glândulas que secretam componentes para a lágrima;
g) Complementação com ômega 3: ele ajuda na composição da camada mais oleosa da lágrima, importante para evitar que ela evapore facilmente;
h) Descanse bem: boa qualidade e quantidade de sono são de extrema importância para descansar os olhos.
Lágrimas artificiais x Colírios umidificadores
Segundo o Dr. Richard Hida, as ‘lágrimas artificiais’ e ‘colírios umidificadores’ são termos utilizados por médicos e pacientes quando se referem a quaisquer colírios prescritos pelo oftalmologista com intuito de repor a lágrima natural do indivíduo. “Não existe um consenso com relação à nomenclatura. As lágrimas artificiais são colírios que possuem componentes artificiais mais próximos da lágrima e deve ser receitado pelo oftalmologista caso seja diagnosticada a Síndrome do Olho Seco relacionado com a deficiência na produção da lágrima. Portanto, antes de utilizar lágrimas artificiais, um médico oftalmologista deve ser consultado para esclarecer o diagnóstico apropriado. É de extrema importância não se automedicar. A utilização das lágrimas artificiais sem orientação do especialista pode causar outras doenças oculares na pálpebra, como blefarites, conjuntivites e ceratites, como também pode causar dependência das lágrimas artificiais”.
Sobre ABCCR
A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CATARATA E CIRURGIA REFRATIVA (ABCCR) tem sua origem na incorporação da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII), fundada em 16 de março de 1982, pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa (SBCR), fundada em 20 de janeiro de 1985. A ABCCR visa congregar oftalmologistas, ampliar o estudo e acompanhar o desenvolvimento de todos os aspectos técnicos e científicos inerentes à cirurgia de catarata, aos implantes intraoculares e da cirurgia refrativa, propagando-os aos oftalmologistas e estendendo seus benefícios à comunidade.
Descubra mais sobre Artrite Reumatoide
Subscribe to get the latest posts sent to your email.