Vários medicamentos para o tratamento das doenças crônicas não transmissíveis enfrentam irregularidades no fornecimento e potencializam o impacto indireto do coronavírus sobre a gestão destas doenças
A pandemia do novo coronavírus trouxe diversos desafios para o Sistema Único de Saúde (SUS) e diante da dificuldade de acesso a medicamentos e da continuidade do tratamento de pacientes com doenças crônicas, a Biored Brasil vem discutindo o impacto da pandemia no desabastecimento de medicamentos no sistema público de saúde.
Em junho de 2020, realizamos o evento “Um Olhar para as Doenças Crônicas, além do Coronavírus – Impacto da Pandemia no Desabastecimento de Medicamentos”, onde apresentamos os dados iniciais da denúncia sobre falta de medicamentos de alto custo, que somente no último semestre de 2020 foram registrados a média de 600 denuncias por mês, totalizando 3.600 pedidos de ajuda enviados por pacientes que encontram-se sem medicamentos, ou enfrentaram desabastecimento durante este período.
Segundo Priscila Torres do Comitê Diretivo da Biored Brasil e do Grupo EncontrAR, o Controle Social, preocupado com a falta de medicamentos para os doentes crônicos no SUS e nos balcões das farmácias está promovendo várias ações de conscientização sobre a importância da participação social dos pacientes e de seus familiares para que as doenças continuem controladas e estáveis. “Nós, enquanto Controle Social, podemos ajudar e identificar para o gestor o que está acontecendo para que esse medicamento chegue no tempo certo, na dose correta e com a regularidade adequada para o tratamento das doenças crônicas”, salientou.
Representando a Associação Brasileira Superando Lúpus e o Grupar-RP, a conselheira nacional de saúde Ana Lúcia Paduello destacou que vários medicamentos para diversas patologias já estão com faltas pontuais e fez um apelo para que os pacientes localizem o conselho local de saúde da sua região para que eles tenham conhecimento do que de fato está acontecendo. “As pessoas precisam fazer o seu papel como cidadãos e fazerem uma ação e não ficar só esperando que o medicamento chegue na farmácia. Às vezes você fala e reclama, mas você não reclama para a pessoa certa, não faz a ação corretamente”.
Durante a live, a farmacêutica Debora Melechhi, que também é diretora da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e conselheira nacional de saúde, apresentou dados sobre a compra de medicamentos de 2016 até o primeiro quadrimestre de 2020. “A partir desses dados e informações é que vale a gente começar a fazer nossas reflexões e que possamos estar contribuindo com o nosso processo de debates. Porque estamos vendo números e como interpretar, agir e como vamos buscar mais informações. Temos que vencer o cenário atual reunindo diferentes pessoas, de diferentes lugares, mas com o mesmo objetivo. A defesa da vida e a garantia do acesso aos medicamentos”, ponderou.
Outros dados também foram apresentados durante a live. Priscila Torres revelou o resultado da pesquisa de acesso e disponibilidade de Hidroxicloroquina Cloroquina, realizada por meio das redes sociais entre maio e junho de 2020 e que teve 699 respondentes pacientes da reumatologia que fazem parte da Biored Brasil.
De acordo com a pesquisa, em junho de 2020, 84% dos pacientes usuários de hidroxicloroquina enfrentaram dificuldades para comprar o medicamento em farmácias tradicionais ou receberem o medicamento do sistema público de saúde. “Para dialogarmos com o Ministério da Saúde precisamos da ajuda dos pacientes respondendo essa pesquisa para que possamos ajudar o SUS a entender onde estão faltando os medicamentos e quais medicamentos estão em falta”, reforçou Torres.
CNS live pessoas com doencas cronicas e patologias
Para compartilhar uma iniciativa exitosa do Estado do Ceará, Marco Aurélio Azevedo e Marta Azevedo, ambos do Grupo Garce, apresentaram um modelo que pode ajudar os pacientes que usam hidroxicloroquina em todo o Brasil possam dar continuidade ao seu tratamento com segurança e com alternativas que podem auxiliá-lo. Assista à apresentação.
O membro da Comissão Intersetorial de Atenção a Saúde das Pessoas com Patologias do Conselho Nacional de Saúde e representante da Articulação Nacional de Luta contra Aids (Anaids), Moisés Toniolo, enfatizou que todos devem estar atentos a essas situações para tentar orientar o Ministério Público sobre as melhores medidas para a preservação da vida, exemplificando que próprio tratamento da malária foi colocado em xeque no Brasil por conta da cloroquina e seus derivados por conta da gravidade da situação de todas essas patologias.
Cenário do desabastecimento de medicamentos no SUS é revelado por pesquisa da Biored Brasil
O cenário do desabastecimento de medicamentos de alto custo, no último semestre de 2020, é relevado pelo resultado da pesquisa realizada com 3.600 pacientes voluntários que conviviam com as seguintes doenças: dermatologia (68) , doenças raras (218), doenças reumáticas (2308), doença inflamatória intestinal (828), doenças neurológicas (177) e oncologia (126).
Falta de Medicamento SUS (3)Os dados apurados indicam que 39 medicamentos de uso contínuo tiveram irregularidades no fornecimento, 88% dos pacientes chegaram a ficar sem nenhuma dose do medicamento, 32% ficaram sem medicamento por mais de 2 meses, 28% esperaram mais de 30 dias pela regularização no fornecimento. Na avaliação geral, 78% dos pacientes declaram que a pandemia, teve impacto negativa sobre a manutenção do tratamento de sua doença crônica não transmissíveis. Confira o resumo dos dados coletados:
A Biored Brasil, o Grupo EncontrAR e o Grupar-RP, desde abril de 2020, vem solicitando esclarecimentos ao Ministério da Saúde sobre as dificuldades enfrentadas pelos pacientes, porém, infelizmente o Ministério da Saúde somente tem nos respondido por meio dos questionamentos enviados no Portal de Acesso a Informação.
A pesquisa sobre a falta de medicamentos tem o objetivo de receber a denúncia da falta de medicamentos e dialogar com o Ministério da Saúde e demais órgãos competentes sobre os desafios enfrentados pelos pacientes, no entanto a Biored Brasil, o Grupo EncontrAR e o Grupar-RP, desde abril de 2020 não estão recebendo respostas do Ministério da Saúde, desta forma elaboramos questionamentos por meio do Portal de Acesso a Informação, que podem ser consultados por meio dos protocolos abaixo:
Para participar da pesquisa, o paciente ou familiar, pode preencher o formulário neste link: https://pt.surveymonkey.com/r/medicamentonotempocerto
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