Após quase 40 anos do aparecimento dos primeiros casos de AIDS no mundo, os grandes avanços da medicina transformaram o prognóstico da doença antes considerada fatal para uma condição crônica e gerenciável. O HIV, vírus da imunodeficiência adquirida, não tem cura, mas já possui medicações antirretrovirais eficazes e cada vez mais livres de efeitos colaterais, que possibilitam excelente controle, ao bloquear o vírus impedindo que a doença se manifeste.
O primeiro passo para a luta efetiva contra a desinformação é enfrentar a discriminação relacionada ao vírus. Falar sobre o assunto, identificar as lacunas no diagnóstico e no tratamento e dar um fim ao tabu podem livrar o mundo da epidemia que já matou milhares de pessoas.
Atualmente, 38 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo. No Brasil, o número chega a 920 mil, segundo Boletim Epidemiológico de 2020, disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Do total no país, cerca de 642 mil têm carga viral indetectável, ou seja, esse grupo não transmite o vírus. E essa é uma das informações que grande parte da sociedade ainda desconhece. Não existe mais falar de “sobrevida”, mas sim “expectativa de vida” que, inclusive, pode ser tão grande ou maior quanto à de um indivíduo soronegativo.
Sendo assim, na briga contra o estigma é preciso, antes de mais nada, entender que a doença não é o fim do mundo. Não é uma sentença de morte. Tomando os medicamentos corretamente, haverá bloqueio do vírus no sangue e, consequentemente, estabilização do quadro, o que impedirá a transmissão para seu parceiro(a). Já é possível até mesmo engravidar sem transmitir o vírus para o bebê! Para isso, é necessário que a mulher siga impecavelmente o tratamento, no intuito de manter o vírus bloqueado, ou seja, a carga viral indetectável, além de realizar o pré-natal na frequência certa, para garantir a segurança e a saúde do feto.
Porém, mesmo com o avanço da medicina e todo acesso ao conhecimento atual, ainda é essencial que as pessoas se cuidem, no intuito de frear a contaminação. Para se tornar soropositivo, basta ter relações sexuais sem preservativo ou colocar o próprio sangue em contato com o de alguém infectado. Por isso, a prevenção é simples: use preservativo em todas as formas de relação sexual, não compartilhe instrumentos afiados ou injetáveis – agulhas, seringas, alicates, lâminas de barbear ou objetos que tenham sangue – e utilize luvas se for cuidar de feridas de desconhecidos.
Outra medida preventiva é a Profilaxia Pré-Exposição (PREp), que consiste na tomada de medicamento antiviral para prevenir a entrada do vírus. A PREp é indicada para pessoas mais vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, mulheres transsexuais, profissionais do sexo e parceiros de indivíduos HIV+. Também é essencial tratar infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como a sífilis, por exemplo, uma vez que feridas genitais facilitam a entrada do vírus.
E, caso haja suspeita de contaminação, o exame laboratorial que detecta a AIDS é a contagem de células de defesa, chamado CD4. Diante do resultado HIV reagente, é fundamental marcar uma consulta com o infectologista, que avaliará seu quadro e, então, dará início ao tratamento diário, que te acompanha ao longo da vida. Estes medicamentos são distribuídos gratuitamente pelo SUS em postos especializados, nas farmácias dos SAEs ou CRs, mesmo para os pacientes que fazem tratamento particular.
No mais, no contexto atual da pandemia da Covid-19, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) orienta que todas as pessoas vivendo com HIV procurem seus profissionais de saúde para garantir estoques adequados de medicamentos essenciais.
*Dra. Silvia Regina Julian, médica formada pela Santa Casa de São Paulo, especializada em Infectologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual, com título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Infectologia, membro da Doctoralia e 25 anos de experiência na área de HIV-AIDS e Hepatites Virais.
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Fonte: Dra. Silvia Regina Julian
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