A fibromialgia é uma síndrome dolorosa idiopática, crônica e não articular, com pontos dolorosos generalizados. É uma doença multissistêmica caracterizada por distúrbios do sono, fadiga, dor de cabeça, rigidez matinal, parestesias e ansiedade.
A fibromialgia é um distúrbio comum, que ocorre em todas as populações. Afeta 0,5% a 5% da população em geral. As mulheres entre 40 e 60 anos são a maioria, com uma proporção de acometimento de mulheres para homens de 8 a 10:1.
Novos conceitos sugerem que a fibromialgia é uma condição heterogênea que, provavelmente, apresenta múltiplas etiologias potenciais. Doenças “comórbidas”, como síndromes somáticas funcionais (por exemplo, síndrome do intestino irritável), distúrbios de ansiedade e depressão e doenças reumáticas são frequentemente observados em pessoas com fibromialgia.
Nos últimos 30 anos, o número de publicações sobre fibromialgia aumentou consideravelmente. Essa onda de estudos pode ser explicada por um interesse de clínicos, pesquisadores e da indústria farmacêutica de promover a conscientização da fibromialgia, entender sua fisiopatologia e melhorar as opções terapêuticas.
Causas
As características fisiopatológicas mais bem estabelecidas da fibromialgia são as da sensibilização central (isto é, dor aumentada e alteração no processamento sensorial cerebral), com aumento da conectividade funcional com as regiões cerebrais nociceptivas e diminuição da conectividade com as regiões antinociceptivas e alterações em neurotransmissores no sistema nervoso central, bem como no tamanho e forma das regiões do cérebro.
Associação Familiar
Os familiares de pessoas com fibromialgia apresentam maior incidência de dor crônica. Comparados com parentes de indivíduos sem fibromialgia, os parentes de primeiro grau de pacientes com fibromialgia são mais propensos a ter fibromialgia e outros estados de dor crônica.
A fibromialgia também pode ocorrer concomitante com outras síndromes de dor crônica, como osteoartrite, artrite reumatoide e lúpus. Aproximadamente, 10% a 30% dos pacientes com esses distúrbios reumatológicos também preenchem os critérios para fibromialgia.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado principalmente na presença de dor generalizada por um período de pelo menos três meses.
Na prática clínica, deve-se suspeitar de fibromialgia em pacientes com dor multifocal não totalmente explicada por lesão ou inflamação. Na maioria dos casos, a dor musculoesquelética é a característica mais proeminente. Como as vias da dor em todo o corpo são amplificadas, a dor pode ocorrer em qualquer lugar.
O diagnóstico de fibromialgia requer um histórico de um conjunto de sintomas que definem o distúrbio. O diagnóstico é feito se os sintomas relatados pelo paciente atenderem a critérios predefinidos e se uma doença somática que explique suficientemente os sintomas for excluída.
Atualmente, não há teste laboratorial ou biomarcador específico disponível para o diagnóstico de fibromialgia.
Os critérios de classificação do American College of Rheumatology (ACR) de 1990 para o diagnóstico de fibromialgia fornecem uma sensibilidade e especificidade de quase 85% na diferenciação da síndrome fibromiálgica de outras formas de dor musculoesquelética crônica como síndrome dolorosa miofascial.
Embora o exame de tender points tenha sido tradicionalmente feito para diagnóstico de fibromialgia nas últimas décadas, ele não é mais aceito como um achado clínico confiável e não é incluído nos critérios diagnósticos atuais.
Os critérios atualizados da ACR 2010 e 2016 não apenas eliminaram os tender points. Mas, também, mudaram a definição de caso de fibromialgia para uma doença caracterizada por dores difusas e sintomas chave adicionais, como problemas de fadiga, sono, cognição e extensão de sintomas somáticos relatados pelo paciente.
Dor Crônica
As síndromes de dor crônica, como a fibromialgia, são definidas por sintomas subjetivos e carecem de características fisiopatológicas únicas. Muitas vezes, surgem perguntas sobre a natureza e a existência de doenças como a síndrome fibromiálgica.
A disfunção na modulação da dor, demonstrada por alodinia e dor espontânea, sugere que a fibromialgia pode ser uma doença dolorosa funcional devido a um aumento na sensibilidade à dor e diminuição nos controles inibidores da dor.
Associação com depressão
A prevalência ao longo da vida de transtornos depressivos em pacientes com fibromialgia varia entre 40% e 80%, dependendo dos instrumentos e critérios de diagnóstico utilizados.
A associação de fibromialgia e distúrbios depressivos pode ser explicada pela sobreposição de sintomas (insônia, sono superficial e fadiga crônica) e mecanismos biológicos compartilhados (por exemplo, genes) e psicológicos (como adversidades na infância).
Tratamento
Embora não haja consenso para o tratamento, há evidências de que uma abordagem multidimensional com educação do paciente, terapia comportamental cognitiva, cinesioterapia, fisioterapia e terapia farmacológica pode ser eficaz.
O número de ensaios clínicos randomizados aumentou na última década. No entanto, diretrizes europeias recentes e revisões sistemáticas do Instituto Cochrane indicam que o tamanho do efeito para a maioria dos tratamentos é relativamente modesto, e que todas as terapias farmacológicas apresentam apenas recomendações fracas para a fibromialgia.
Tratamentos Farmacológicos
As terapias farmacológicas eficazes geralmente funcionam em parte reduzindo a atividade de neurotransmissores facilitadores (ex: gabapentinoides reduzem o glutamato) ou aumentando a atividade de neurotransmissores inibitórios, como a noradrenalina e a serotonina (por exemplo, tricíclicos, inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina) ou ácido γ-aminobutírico por exemplo, γ-hidroxiglutamato).
Os mecanismos para sua eficácia podem incluir um efeito direto dos medicamentos na recaptação de noradrenalina e serotonina para melhorar o sono, depressão associada, estresse e ansiedade, além de atuar na inibição das vias da dor e reconhecimento da dor
O sistema opioide endógeno hiperativo na fibromialgia pode explicar por que os opioides parecem ser ineficazes, muitas vezes, refletindo até em piora da dor em casos crônicos.
Tratamentos não farmacológicos
As três terapias não farmacológicas mais estudadas são educação, terapia cognitivo-comportamental e exercício. Todas têm evidências fortes (evidência de nível 1A) de eficácia na fibromialgia. A magnitude da resposta ao tratamento para essas terapias excede a dos medicamentos.
Uma opção promissora de tratamento é a estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr), uma técnica não invasiva de estimulação cerebral que se mostrou promissora em distúrbios que afetam o sistema nervoso central. A estimulação magnética transcraniana pode afetar a dor e a qualidade de vida dos pacientes com fibromialgia. Estudos anteriores demonstraram anormalidades funcionais cerebrais individuais no estado de repouso em pacientes com fibromialgia, em áreas corticais acessíveis pela estimulação magnética transcraniana.
Terapias complementares e alternativas podem ser úteis como adjuvantes do tratamento da fibromialgia. Como em outros distúrbios, relativamente poucos estudos controlados apoiam seu uso. Manipulação quiroprática, tai chi, ioga, acupuntura e terapia de liberação miofascial têm evidências de eficácia e estão entre os tratamentos mais usados.
Na prática, vemos que pacientes com fibromialgia e osteoartrite concomitante ou dor miofascial apresentaram melhora na dor e sensibilidade geral da fibromialgia quando tratados com terapias locais.
Conclusão
A melhor maneira de abordar a fibromialgia é através da integração de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, ao mesmo tempo em que envolve pacientes como participantes ativos do processo. Além disso, todas as diretrizes recentes enfatizam a importância das terapias não farmacológicas no tratamento. O exercício aeróbico foi o único tratamento que recebeu uma forte recomendação do European League Against Rheumatism. Nas diretrizes alemãs atualizadas, exercícios aeróbicos e terapias cognitivas comportamentais receberam forte recomendação.
Autor:Marcus Pai
Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura ⦁ Área de Atuação em Dor pela AMB ⦁ Diretor do Instituto Dr. Hong Jin Pai ⦁ Doutorando em Ciências pela USP ⦁ Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do CREMESP ⦁ Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) ⦁ Diretor do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual ⦁ Médico Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP ⦁ Diretor do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP) ⦁ https://www.hong.com.br
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Fonte: PeBMed
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