Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), USP, desvendam motivos que levam alguns pacientes a não responderem ao tratamento da artrite reumatoide e criam “kit diagnóstico” para identificá-los.
Um dos problemas enfrentados por quem sofre com a artrite reumatoide é que de 40 a 50% desses indivíduos não respondem ao tratamento com o Metotrexato, o mais utilizado e recomendado como primeiro medicamento para tratar a doença. Como o processo de evolução da doença é rápido, se a medicação não for efetiva, lesões na cartilagem e no osso podem ser detectadas já no primeiro ano da doença, segundo especialistas da área.
Os resultados de uma pesquisa inédita na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP trazem boas notícias para essas pessoas. Após acompanhar e analisar dados de 33 indivíduos saudáveis e outros 122 diagnosticados com artrite reumatoide durante quatro anos, concluíram que é baixa a expressão da proteína CD39 no sangue das pessoas que não respondem ao tratamento com o Metotrexato. “Quantificamos a expressão de CD39 em células importantes no controle da autoimunidade, as células Treg, no sangue desses pacientes respondedores ou não ao Metotrexato, tanto antes, quanto após o tratamento”, diz Raphael Sanches Peres, um dos autores da pesquisa.
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória, de caráter imunológico, que destrói as juntas do corpo e que, se não tratada, pode levar a invalidez permanente. Atinge 1% da população mundial em idade adulta, ou seja, uma a cada 100 pessoas sofre com a doença, segundo o Colégio Americano de Reumatologia.
Kit
Com base nos resultados da pesquisa, outro passo importante foi dado pelo grupo da FMRP para que, mesmo aqueles que não respondem ao Metotrexato, possam iniciar o tratamento correto o mais breve possível e, assim, evitar que as juntas sejam comprometidas pela doença. Criaram um kit diagnósticoque permite identificar se o paciente com artrite reumatoide vai ou não responder de modo satisfatório ao tratamento com metotrexato. “Com ele, o médico vai poder iniciar com segurança o tratamento com outras medicações, também disponíveis, acelerando o processo de resposta terapêutica”, comemora Peres.
O kit, diz o pesquisador, possui anticorpos que quantificam a expressão da CD39 em células do sangue do doente. O principal mecanismo de ação do Metotrexato é induzir a produção da substância Adenosina, que possui potente efeito anti-inflamatório e imunomodulador. Com isso, pode controlar a doença e até curar o paciente, porém em algumas pessoas isso não acontece em função da baixa expressão da CD39. “Está aí a importância da nossa descoberta”. A patente do Kit já foi protocolada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e o processo de registro feito pela Agência USP de Inovação.
PNAS
A pesquisa acaba de ser publicada pela Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, uma das mais importantes do mundo acadêmico. Foi financiada primordialmente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), dentro do projeto dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), que permitiu a criação do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), sediado na FMRP. Também contou com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do The European Union Seventh Framework Programe.
Foram orientadores do trabalho, os professores Fernando de Queiroz Cunha e Paulo Louzada-Junior. Segundo o professor Louzada-Junior, esse é um grande avanço para a ciência, “pois este trabalho, inédito, permitiu compreender melhor os mecanismos de ação de uma medicação amplamente utilizada no tratamento da doença”.
Os estudos aconteceram nos Departamentos de Farmacologia e Clínica Médica da FMRP e no Hospital das Clínicas da FMRP e participaram doutorandos, pós-doutorandos, reumatologistas e colaboradores internacionais,
O grupo agora busca os motivos que levam os pacientes não respondedores ao tratamento com o metotrexato a ter baixa expressão de CD39. “Estamos tentando identificar possíveis fatores genéticos e outros que regulam a expressão da CD39 nas células” explica Peres.
CRID
A criação do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), segundo seu coordenador, professor Fernando de Queiroz Cunha, foi fundamental para o desenvolvimento do projeto, pois viabilizou a instalação de laboratórios translacionais – que envolvem pesquisas básicas e clínicas num único objetivo. “Esses laboratórios permitem a efetiva interação entre pesquisadores seniors, pós-graduandos, pós-doutorandos e clínicos”.
O CRID também possibilitou ao grupo o incremento de colaborações internacionais, segundo o professor Cunha, além da valorização da política de proteção da propriedade intelectual.
Agência USP de Inovação
A Agência USP de Inovação é o Núcleo de Inovação Tecnológica da USP responsável por gerir a política de inovação para promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural produzido na universidade.
Dentre as atividades realizadas, estão: a proteção da propriedade intelectual, efetuando todos os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, direitos autorais e software; apoio aos docentes, alunos e funcionários da USP na elaboração de convênios em parceria com empresas.
A Agência USP de Inovação também atua na transferência de tecnologias e trabalha por meio das incubadoras de empresas, parques tecnológicos e de treinamentos específicos a fim de promover o empreendedorismo, oferecendo suporte técnico, gerencial e formação complementar ao empreendedor.
Mais informações pelo telefone (16) 3315.3324, com o professor Cunha e (16) 3602.2717, com o professor Louzada-Junior.
Fonte: Ribeirão USP
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