A pandemia potencializou um problema antigo no país. Faltam medicamentos para várias doenças, seja por problemas que envolvem o Ministério da Saúde ou diretamente os laboratórios.
A socióloga Márcia de Souza Medeiros, 60, de Porto Alegre, tem artrite reumatoide e conseguiu pelo convênio médico o tratamento com actemra (tocilizumabe).
Dias atrás, Medeiros foi comunicada de que será necessário trocar a medicação. Mesmo sem comprovação científica, o actemra está sendo utilizado em pacientes com complicações respiratórias graves em decorrência da Covid-19.
“É uma suspensão sem prazo. O que a médica falou é que irei substituir um medicamento que estava dando certo por outro, com resultados imprevisíveis”, afirma Medeiros.
Em nota, a Roche Farma Brasil, fabricante do actemra, disse que em 23 de dezembro de 2020 comunicou proativamente, à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre esse aumento de demanda e a consequente possível falta das apresentações de 80 mg IV e 200 mg IV do produto no mercado brasileiro.
Em 31 de março de 2021, a empresa efetuou uma nova notificação à agência, alertando também sobre a escassez da apresentação subcutânea. É importante ressaltar que o medicamento é comercializado apenas para instituições qualificadas como pessoas jurídicas, habilitadas e responsáveis pela distribuição aos pacientes, mas não é possível rastrear para qual tratamento específico o produto é direcionado.
A Roche afirmou que “trabalha com alta prioridade e urgência junto à sua equipe global para aumentar a capacidade de produção e mitigar o desabastecimento de actemra”.
Etanercepte, usado para prevenir o agravamento de doenças reumáticas, como artrite, psoríase e artrite psoriásica, é outro remédio que está em falta. Uma paciente que preferiu não se identificar utiliza o etanercepte para tratar psoríase e artrite psoriásica.
No dia 25 de março, esteve na farmácia de alto custo Várzea do Carmo, no Cambuci, região central da cidade, e foi informada de que o Ministério da Saúde não distribuiu mais o medicamento e nem deu explicações. Uma caixa de etanercepte custa ao consumidor final R$ 9.000, em média.
Em nota, o ministério afirmou que entregou à Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo 85.564 unidades de etanercepte 50 mg, suficientes para a demanda do primeiro semestre de 2021.
Pacientes com mieloma múltiplo e indicativo de transplante de medula óssea sofrem os impactos da falta do quimioterápico melfalano (alkeran).
“Essa medicação entra numa fase do transplante de medula óssea chamada condicionamento, em que a gente prepara a medula para receber a célula do transplante.
Em algumas doenças, como o mieloma múltiplo, o condicionamento só é feito com melfalano. Não existe nada que substitua, no mundo inteiro”, explica Fernando Barroso, diretor da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea.
De acordo com Barroso, há filas grandes de pacientes com mieloma em todo o Brasil. No Hospital Universitário Walter Cantídio, ligado à Universidade Federal do Ceará, há em torno de 45 pacientes aguardando transplante.
“Essa medicação funciona como consolidação do tratamento. Na falta, a recomendação seria retardar o transplante, mas não tem como fazer. Não tem mágica”, afirma.
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer no sangue, que tem início na medula óssea, sendo mais frequente em pessoas com 50 anos ou mais. A doença não tem cura. Este é um dos tipos de câncer com maior taxa de letalidade.
O transplante de medula óssea é a melhor alternativa para garantir uma melhora da condição dos pacientes.
Em 2020, foram realizados 1.927 transplantes de medula óssea autólogos, dos quais 70% para mieloma múltiplo, o que equivale a um total de 1.349 casos.
Neste tipo de transplante, as células-tronco do paciente são removidas antes da administração da quimioterapia ou radioterapia de alta dose e armazenadas. Após o procedimento, as células colhidas são infundidas no paciente.
Com base nos indicadores do último ano, a estimativa da demanda por melfalano seria de 5.396 frascos do medicamento. Em média, são utilizadas quatro unidades por pessoa.
A Aspen Pharma, responsável pela distribuição do fármaco, disse que as restrições no abastecimento, ocorridas em fevereiro e março deste ano, ocorreram devido à transferência do produto para um novo local de fabricação, e que o processo de transferência e desabastecimento temporário foi comunicado às autoridades sanitárias com um ano de antecedência.
Segundo a companhia farmacêutica, a distribuição do medicamento foi reiniciada na terça-feira passada (06/04).
Fonte: DL News.
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