Em menos de 24 horas, a psicóloga Paula Schuchmann Cukier, 31 anos, e o engenheiro Daniel*, 40, organizaram um casamento com a ajuda da família: chamaram fotógrafa, compraram alianças e planejaram a decoração. A correria atendia a um pedido especial: o último desejo do pai da noiva, Rubens Cukier, era que sua filha mais velha se unisse ao noivo seguindo a tradição judaica.
Para cumprir essa vontade, Paula e Daniel se casaram no quarto do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Rubens estava internado havia um mês por complicações decorrentes de um câncer de estômago. Rubens morreu dois dias depois da cerimônia, na madrugada de 31 de dezembro, aos 65 anos.
“Na hora em que a gente se casou, ele estava sem dor. Esse foi o maior cuidado que eu poderia ter dado para ele no final da vida”, diz Paula, que atende pacientes oncológicos com cuidados paliativos (que visam amenizar a dor e o sofrimento de pacientes com doenças crônicas graves —justamente a situação em que seu pai estava), em entrevista para Universa.
Casamento no hospital
Por dois anos, Rubens teve de ser internado várias vezes em decorrência do câncer que tinha no estômago e que, depois, atingiu o fígado. A publicitária Flavia Schuchmann Cukier, 26, uma de suas filhas, conta que a última internação parecia rotineira.
Mas o quadro de saúde de Rubens piorou nos 30 dias seguintes. “Ele chegou a fazer três semanas de quimioterapia, mas os médicos disseram que não havia mais chance de cura. Minha mãe ficou todos os dias ao lado dele”, conta.
A última semana de dezembro foi a mais intensa para a família. No dia 28, Flavia viu o pai urrar de dor. “A dor não passava. Mandei uma mensagem no WhatsApp para que meus irmãos fossem visitá-lo. E Paula foi com o noivo, Daniel.”
Paula e Daniel têm um relacionamento de nove anos. Rubens resolveu, naquele dia, falar para o genro que ficaria muito feliz com o casamento dos dois. “Ele chamou meu noivo para perto da cama e disse que não poderia morrer sem me ver casando”, diz Paula.
“Casamento Paula e Daniel”
No mesmo dia, o casal criou um grupo no WhatsApp com o nome “Casamento Paula e Daniel” para anunciar a decisão e pedir ajuda para a organização da cerimônia. Ela aconteceria no Hospital Albert Einstein —que ajudou com o bolo e com a decoração do quarto, com bexigas e flores.
No dia 29, Paula e Daniel assinaram um contrato de convivência. “Como foi em cima da hora, não conseguimos achar um juiz”, diz a noiva. E trocaram alianças compradas na noite anterior. O noivo cumpriu o ritual de quebrar um copo, tradição dos casamentos judaicos.
“No momento da cerimônia, meu pai não sentia dor. Foi uma experiência incrível, ele estava muito feliz. Esse foi o maior cuidado que eu poderia ter dado a ele”, diz Paula.
“O amor liberta”
Após a celebração, por decisão dos filhos e da esposa, Ana Neide, 60 anos, Rubens foi sedado. Ele morreu na madrugada do dia 31. “Ao morrer dois dias depois do casamento, ele deixou de estar ao meu lado para estar dentro de mim. O casamento foi o maior momento de amor que a gente pôde vivenciar com ele”, conta Paula.
Flavia explica que a virada de ano da família foi de muita tristeza. “Deu meia-noite e só sabíamos chorar. Mas, quando optamos pela sedação, entendemos o que minha mãe tinha falado para a médica no começo da internação: ‘O amor liberta'”.
*Daniel pediu para que seu sobrenome fosse omitido na reportagem.
Fonte: Uol
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