A escalada do número de mortes por overdose de remédios contra a dor e da quantidade de dependentes desse tipo de medicamento vem alarmando as autoridades de diferentes países, principalmente dos EUA. Porém, de acordo com um artigo publicado nesta quarta-feira pelo periódico científico “Nature”, cientistas identificaram um agente químico capaz de aliviar a dor de forma tão efetiva quanto a morfina, mas sem os mesmos e temidos efeitos colaterais, como o vício e as crises respiratórias.
A descoberta de pesquisadores liderados pela Universidade de Stanford, nos EUA, analisou a estrutura recém-decifrada dos receptores da morfina no cérebro para customizar a nova droga. O composto, chamado de PZM21, foi testado em camundongos e teve sucesso ao bloquear a sensação de dor sem causar as potenciais reações adversas que vêm preocupando a comunidade médica. – A morfina transformou a medicina. Existem vários procedimentos que podemos fazer hoje em dia porque sabemos como controlar a dor do paciente durante a recuperação.
Mas, obviamente, a morfina também é perigosa. Pesquisadores vem procurando um substituto mais seguro para remédios derivados de opioides há décadas – disse Brian Shoichet, professor da Universidade da Califórnia e coautor do estudo. Durante os testes, a nova droga não interferiu na respiração dos camundongos, a principal causa de morte por overdose de remédios para dor e de drogas como heroína, e também não causou constipação, outro efeito colateral comum ao uso desse tipo de medicamento. O PZM21 parece evitar ainda a liberação de dopamina no cérebro, responsável pelo vício que os derivados de opióide podem despertar. Como resultado, os camundongos não se tornaram dependentes do composto.
De acordo com Shoichet, a maioria das descobertas de novos medicamentos começa a partir da análise da estrutura de uma droga já existente, como a morfina, para tentar retirar a parte do composto que causa efeitos colaterais, mantendo ao mesmo tempo sua função primária. Segundo ele, o novo estudo adotou uma abordagem inovadora. – Nós não queríamos só otimizar a parte química já existente. Queríamos criar uma nova química que poderia viabilizar descobertas biológicas completamente novas.
Com formas tradicionais de pesquisa, você fica preso numa pequena ‘caixa química’, mas quando você começa a estudar a estrutura do receptor que você quer atingir, pode jogar fora todas essas limitações”, explicou o pesquisador. Ainda segundo Soichet, são necessários mais estudos para estabelecer se o novo composto realmente não leva ao vício e para confirmar se ele é seguro e efetivo para consumo humano e dos roedores. Porém, se as descobertas forem confirmadas, elas podem transformar a atual luta contra o vício em remédios contra a dor sob receita.
Fonte: Jornal Floripa
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