
Foto: O Tempo
“Só não doía o pensamento, porque o resto doía tudo. Eu sentia dores em todas as juntas do corpo: mãos, punhos, cotovelos, tornozelos, joelhos, ombros – tudo. Às vezes, eu andava de costas para ver se doía menos”. Esse relato é da dona de casa Ivone Ferreira Moreira, 64, diagnosticada com artrite reumatoide em 2001.
Autoimune, crônica e progressiva, a doença causa inflamações nas articulações, o que gera rigidez, deformidades articulares, desgastes nos ossos e leva a pessoa a limitações na realização de tarefas do dia a dia. A doença atinge cerca de 1% da população – 2 milhões só no Brasil. Apesar disso, ainda segue desconhecida por cerca de dois terços dos brasileiros.
Uma pesquisa inédita sobre a doença realizada pelo laboratório Pfizer e conduzida pelo Instituto Ipsos entrevistou 200 pacientes nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Pernambuco. De todos os entrevistados, 76% não sabiam nada da doença até o momento do diagnóstico. A consequência disso se vê no tempo que a pessoa leva até descobrir a artrite reumatoide.
Segundo dados do estudo, 43% dos pacientes levaram pelo menos um ano para identificar o mal. “Isso é muito ruim para o paciente. O ideal é que se faça o diagnóstico até três meses depois do primeiro sintoma, pois esse é o tempo até ocorrer o primeiro dano (ósseo). Com o diagnóstico dentro desse período, evita-se a incapacidade física”, explica o reumatologista Cristiano Zerbini, coordenador do Núcleo de Reumatologia do Hospital Sírio-Libanês.
Limitações. A pesquisa revelou também que a artrite reumatoide tem um grande impacto na vida do paciente. Antes da doença, 95% deles relataram conseguir realizar atividades diárias sem ajuda. Depois, esse número caiu para 56%.
“Minhas mãos doíam muito e não fechavam. Eu tinha que usar a criatividade para conseguir fazer as coisas. Colocava uma garrafa na maçaneta das portas para conseguir abri-las, amarrava um pano na torneira e o puxava para abrir e fechá-las. Quando eu ia a um restaurante com meu companheiro, ele precisava partir a comida para mim, porque eu não conseguia”, lembra a dona de casa Ivone.
O estudo revelou o alto impacto da artrite na autoestima dos pacientes. Antes dela, 84% dos entrevistados relataram ter a autoestima alta. Depois, somente 64%, sendo que 27% revelaram ter dificuldade de se olharem no espelho devido às deformidades causadas pela doença.
Tratamento. A artrite reumatoide é considerada uma doença incurável. Contudo, o tratamento com os chamados “Dmards” – medicamentos modificadores do curso da doença reumática –, consegue levar a doença à remissão.
O tratamento padrão é feito com metotrexato, um comprimido que o paciente toma diariamente. Ele alivia a dor, previne os danos irreversíveis da doença e melhora a qualidade de vida do paciente. Além disso, após controlada a atividade da artrite reumatoide, o paciente também deve incluir atividade física na rotina, pois ela ajuda no controle da doença.
A repórter viajou a convite da Pfizer.
Tabagismo
Relação. As causas da artrite reumatoide – como de outras doenças autoimunes – ainda são desconhecidas. Mas a ciência já sabe que o tabagismo é um fator desencadeador da doença.
Nova droga promete trazer alento a quem tem a doença
A partir desta semana, chega às farmácias do país um novo tipo de droga para o combate à artrite reumatoide. O citrato de tofacitinibe tem um mecanismo que age dentro das células e impede a ação de uma enzima muito ativa em quem tem a doença.
Os especialistas veem nessa nova droga uma esperança de atender os cerca de 30% de pacientes que não reagem aos tratamentos tradicionais. “Estamos lidando com uma inovação do contexto geral do tratamento da artrite reumatoide. Há a chance de trazer um novo alento ao paciente que não tolera ou não responde às demais medicações”, afirma Eurico Correia, diretor médico da Pfizer Brasil, fabricante da droga.
O novo tratamento chegará ao mercado custando R$ 3.450 a embalagem com 60 cápsulas (suficientes para 30 dias). “Já estamos em negociação com a rede pública de saúde para a incorporação desse medicamento no rol dos tratamentos de alto custo”, afirma Correia. Ainda não há previsão de quando essa incorporação deve ocorrer.