Meses depois de terem superado o ebola, os sobreviventes frequentemente sofrem sequelas graves que incluem artrite, problemas auditivos e de visão que podem chegar até a cegueira, segundo um estudo médico divulgado nesta quarta-feira (23).
Um grupo de pesquisadores estudou em uma clínica de Port Loko, em Serra Leoa – um dos países da África mais afetados pela epidemia – os casos dos pacientes que sobreviveram ao vírus.
Esta é a primeira vez que os médicos estudam as sequelas da doença com base em um exame clínico, destacam os autores do estudo publicado nesta quarta-feira na revista médica especializada The Lancet.
Até agora, os dados sobre as consequências do ebola eram limitados, já que nos primeiros surtos houve poucos sobreviventes. Além disso, as investigações se centraram principalmente em como lutar contra a propagação do vírus e tentar encontrar uma vacina. Contudo, desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou que vários sobreviventes registraram complicações similares, que descreveram como “a síndrome posterior ao ebola”.
No total, 277 sobreviventes, entre eles 57% mulheres, foram examinados entre 7 de março e 24 de abril, para medir os efeitos secundários da doença, quatro meses depois que tiveram alta. Destes, 76% sofriam de artrite, 60% tinham problemas de vista, 18% sofriam uma inflamação nos olhos, e em 24% foram detectadas irregularidades na audição.
“Estes dados são mais elevados do que o que esperávamos”, declarou à AFP um dos autores do estudo, o professor Sharmistha Mishra, da Universidade de Toronto. Contudo, o vírus desaparece rapidamente da maioria dos fluídos corporais dos pacientes, mas se acumula em locais como olhos ou testículos, informou John Mattia, oftalmologista de Serra Leoa.
Em outubro, a OMS publicou um estudo preliminar que mostrou que o vírus poderia persistir ao menos nove meses no esperma dos sobreviventes, um período mais longo do que os especialistas estimavam a princípio. No estudo da The Lancet, os pesquisadores falam também de uma possível correlação entre a intensidade do vírus e as complicações posteriores. Quanto mais forte é o vírus, mais sequelas, principalmente oculares, ocorrerão.
“Estas pesquisas destacam a necessidade de uma vigilância preventiva dos sobreviventes do ebola e a urgência de incluir um tratamento ocular nos sistemas de saúde dos países do oeste da África”, advertem os autores do estudo. A febre hemorrágica do ebola, que provoca diarreia, febre e vômito, deixou mais de 11.300 mortos, entre cerca de 29 mil casos registrados desde dezembro de 2013, dos quais mais de 99% em três países africanos: Guiné, Serra Leoa e Libéria.
Fonte: G1 Bem Estar
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