Uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) ou paracetamol aumenta de forma modesta o risco de perda auditiva em mulheres mais idosas, de acordo com análise prospectiva de dados do Nurses’ Health Study (NHS). Uma relação semelhante não foi observada com a aspirina.
O efeito pode não ser grande, mas “dada a alta prevalência do uso de analgésicos, um pequeno aumento no risco poderia ter importantes implicações em saúde pública”, escrevem o Dr. Brian Min-Hann Lin, da Channing Division of Network Medicine, Brigham and Women’s Hospital, Boston, Massachusetts, com seus colaboradores. “Se esta é uma relação causal, isso sugere que uma proporção substancial da perda auditiva atribuível ao uso de analgésicos é potencialmente evitável”.
Os pesquisadores publicaram seus resultados em 14 de dezembro no American Journal of Epidemiology.
A aspirina, os AINEs e o paracetamol são os medicamentos mais utilizados nos Estados Unidos, mas há evidências de que possam ser ototóxicos, especialmente em altas doses, explicam os autores.
O Nurses’ Health Study começou a incluir questões sobre o uso de aspirina, paracetamol e AINEs em seu questionário bianual em 1990. Em 2012, o questionário incluiu questões sobre perda auditiva e início dos sintomas para o Estudo Conservação da Audição (CHEARS).
Os pesquisadores analisaram dados de 55.850 participantes do CHEARS após excluir aquelas cuja perda auditiva começou antes de 1990 ou que tinham antecedente de quimioterapia para um câncer, exceto câncer de pele não-melanoma.
No início do estudo, em 1990, as participantes tinham uma idade média de 53,9 anos (desvio padrão, 6,5). Houve 18.663 casos incidentes de perda auditiva relatados ao longo de 873.376 pessoas-anos de acompanhamento.
Em comparação com uso por menos de um ano, o consumo de AINEs e paracetamol por mais de seis anos foi associado de forma independente ao risco relativo (RR) ajustado para multivariáveis de 1,10 (intervalo de confiança de 95%, IC, 1,06-1,15; p para tendência < 0,001) e 1,09 (IC de 95%, 1,04-1,14; p para a tendência < 0,001), respectivamente. O uso de aspirina não foi associado (RR, 1,01; IC de 95%, 0,97-1,05; p para a tendência = 0,35). Estas relações não mudaram após ajustar para circunferência abdominal e índice de massa corporal como variáveis contínuas e após a exclusão de mulheres com história de zumbido.
De forma semelhante, o uso de AINEs em dois ou mais dias por semana, em comparação com menos de dois dias por semana, foi associado a um risco relativo ajustado para multivariáveis de perda auditiva de 1,07 (IC de 95%, 1,01 – 1,13), assim como o uso regular do paracetamol e de múltiplos analgésicos (RR, 1,19; IC de 95%, 1,08 – 1,32). O uso regular de aspirina isoladamente não foi associado a perda auditiva (RR, 1,01; IC de 95%, 0,98 – 1,05).
O estudo acompanhou cada mulher até que ela relatasse início de perda auditiva ou tivesse desenvolvido câncer. Os pesquisadores ajustaram para covariáveis que sabidamente são fatores de risco para perda auditiva, incluindo idade, raça, índice de massa corporal, circunferência abdominal, consumo de álcool, dieta, potássio, magnésio, nível de atividade física, tabagismo, diabetes, hipertensão, zumbido e uso de outros analgésicos. O seguimento terminou em 2012.
Observando que o uso de analgésicos pode estar associado a zumbido, os autores também realizaram uma análise secundária que excluiu as mulheres que relataram início do zumbido antes do início da perda auditiva.
Para estimar o grau de contribuição do uso de analgésico para a perda auditiva das mulheres, os pesquisadores calcularam a fração atribuível na população (FAP) da perda auditiva entre as participantes do estudo. Com o pressuposto de uma relação causal entre os medicamentos e a perda auditiva, o uso regular de AINEs foi associado a uma fração atribuível na população de 4,0 e o de paracetamol a uma FAP de 1,6%. O uso regular de múltiplos analgésicos foi associado a uma FAP de 5,5%.
Os mecanismos pelos quais esses medicamentos podem afetar a função auditiva incluem prejuízo na função das células ciliadas externas, redução no fornecimento vascular coclear e inibição da ciclooxigenase. O paracetamol pode tornar a cóclea mais suscetível a danos induzidos pelo ruído e, em modelos animais, há evidências de que ele e um de seus metabólitos “possam causar ototoxicidade por meio de mecanismos de estresse oxidativo”.
Este é o primeiro estudo publicado para avaliar a relação entre a duração do uso de AINEs e o risco de perda auditiva em mulheres, escrevem os autores.
As limitações do estudo incluem uma coorte composta quase completamente de mulheres brancas mais idosas e o fato da pesquisa depender do relato das próprias participantes quanto ao uso de analgésicos e quanto à idade em que perceberam a diminuição da audição.
No entanto, “considerando a alta prevalência de uso de analgésicos e a alta probabilidade de exposição frequente e / ou prolongada em mulheres de idade mais avançada, nossos resultados sugerem que o uso de AINEs e de paracetamol podem ser fatores de risco modificáveis para a perda auditiva”, concluem os autores.
Os autores declararam não possuir conflitos de interesses relevantes ao tema.
Am J Epidemiol. Publicado on-line em 16 de dezembro de 2016. Resumo
Fonte: Medscape
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