A escoliose é uma doença da coluna, que a entorta, adquirindo a forma de ‘S’. Na maioria dos casos, não provoca dor, dificultando o diagnóstico atempado. No verão, com o tempo quente e a praia, os corpos ficam mais expostos e torna-se mais fácil detetar os sinais de alerta desta doença, que afeta maioritariamente raparigas na infância e na adolescência – são oito em cada dez casos.
De pé, Cláudia inclina o tronco para a frente e com os braços tenta alcançar as pontas dos pés. É de manhã, acordou há pouco tempo e, no quarto, começa a habitual sessão de alongamentos. São 30 minutos dedicados a “esticar a coluna ao máximo” e a aliviar a dor que todos os dias toma conta das suas costas. A personal trainer, de 40 anos, tem os “ombros para a frente” e uma “curvatura acentuada” na coluna, sinais da escoliose de que sofre – um relato feito pela própria à CNN Portugal.
Em causa está uma doença caracterizada pela “deformidade da coluna para os lados”, que, como explica o ortopedista João Campagnolo à CNN Portugal, acaba por adquirir a forma de ‘S’. A escoliose, que afeta aproximadamente 1 a 2% da população portuguesa, atinge maioritariamente raparigas na infância e na adolescência. São oito em cada dez casos, de acordo com o médico.
Esta doença é silenciosa em 70% das situações, porque “não causa dor”, alerta João Campagnolo, acrescentando que nestes casos também não há uma causa associada. Conhecidas como escolioses idiopáticas, o especialista alerta para a importância de um diagnóstico atempado da doença para o seu tratamento.
“Às vezes os pais só descobrem no verão”, garante. Com o tempo quente, vem a praia e a piscina e as roupas ficam mais curtas, tornando-se mais fácil detetar os sinais desta doença: ombros desnivelados, o corpo a descair para um dos lados na cintura e uma bossa nas costas. Por vezes, como explica João Campagnolo, “as crianças notam a assimetria e escondem-na em vez de reportar”, recorrendo “a roupas mais largas e aos cabelos compridos”.
Sendo uma doença ligada à imagem corporal, a escoliose pode criar “uma perceção negativa do corpo” e “afetar a autoestima”, avisa o também representante do departamento de psicologia do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. “Se há crianças que não ligam, há outros casos mais graves em que afeta a felicidade e a angústia”, frisa o médico.
Foi com o intuito de normalizar esta doença que surgiu a campanha “Josephine explica a escoliose”, do qual João Campagnolo é coordenador há cerca de quatro anos. O projeto serve para “explicar, divulgar e desfazer os mitos” associados à doença, havendo ainda espaço para os pais levantarem questões e para “as crianças que vão ser operadas encontrarem outras crianças que já foram” e partilhar experiências. E João Campagnolo remata: “A escoliose não merece ser escondida”.
Apesar de afetar maioriamente os mais novos, há também casos de escoliose a registar entre os mais velhos, cuja doença surge associada a outros fatores. Osteoporoses, fraturas ou o agravar de um diagnóstico que não foi tratado, exemplifica o médico, podem ser causas da patologia em idades mais avançadas – conhecidas como escolioses secundárias.
Nestes casos, os doentes não estão imunes à dor, ao contrário das escolioses entre as crianças e jovens. “Tenho dor todos os dias”, conta Cláudia, de 40 anos. A personal trainer teve o diagnóstico de escoliose aos 25 anos, pouco depois de saber que sofria de Espondilite Anquilosante, uma patologia degenerativa e autoimune que também afeta a coluna e que provocou o seu ‘S’ acentuado.
Dor, mochilas e desporto: os mitos da escoliose
Existem vários mitos em torno da escoliose, garante o ortopedista João Campagnolo. Desde a causa até ao tratamento da doença, o médico, em conversa com a CNN Portugal, tenta desfazê-los.
A escoliose causa dor?
Quando se fala em doença, parece inevitável pensar em dor. Mas, no caso da escoliose, esta associação não passa de um mito, como explica o ortopedista João Campagnolo.
O especialista afirma que uma escoliose idiopática – aquelas em que não há uma causa conhecida – “não provoca dor”. São, então, patologias silenciosas, que apenas se manifestam na imagem corporal, principalmente entre as raparigas mais novas, dificultando o diagnóstico “atempado”.
No entanto, se falarmos de escolioses secundárias, em que a causa é conhecida, a dor torna-se mais comum. Fatores como malformação congénita, fraturas ou até stress muscular estão envolvidos e os doentes deixam de estar livres da dor na coluna, explica o ortopedista.
As mochilas causam escoliose?
A mochila acompanha-nos diariamente, principalmente entre a infância e a adolescência, na altura de ir para a escola. Em alguns dias mais pesada, noutros mais leve, mas praticamente todos os dias a usamos. Sendo essa altura da vida aquela em que se desenvolve a maioria das escolioses, é natural existir essa associação, explica João Campagnolo, mas não passa de um mito.
“Não há provas de que as mochilas podem causar escoliose”, afirma o ortopedista. Descartando a relação entre a mochila e a deformidade da coluna em forma de ‘S’, João Campagnolo acrescenta: “Se assim fosse, todos teríamos escoliose, porque todos andamos de mochila”.
O especialista garante que apenas “em casos extremos” essa relação pode acontecer. E, apesar de não provocar escoliose, João Campagnolo deixa um alerta: as mochilas pesadas podem levar à sobrecarga das costas e ao desgaste da coluna. O cuidado deve manter-se.
Quem sofre de escoliose não pode fazer desporto?
Um diagnóstico de escoliose não é um cartão vermelho à prática desportiva. Uma coisa não anula a outra, como explica o ortopedista João Campagnolo: “Não há nada que contradiga a prática de exercício físico quando se tem escoliose”.
Pelo contrário, o médico aconselha a fazer desporto e a manter um estilo de vida ativo, porque os benefícios são muitos. Ginásio ou exercícios de força podem ser realizados, tal como corridas. Há também espaço para o yoga ou os pilates, que podem ser bons aliados no fortalecimento da musculatura da coluna e do abdómen.
Mas atenção: é importante utilizar calçado adequado à condição física e manter uma postura correta, avisa.
Como tratar a escoliose? Fisioterapia, colete ou cirurgia
A escoliose não tem cura, mas existem tratamentos que ajudam a melhorar a saúde da coluna. O ortopedista João Campagnolo conta que 80% das escolioses são tratadas na adolescência, após o devido diagnóstico.
De acordo com o especialista, o tratamento desta doença depende de três fatores: “a idade, a causa e a gravidade”. A primeira coisa a fazer é “perceber a gravidade da doença e se vai evoluir”, explica.
Nos casos menos graves, o paciente é submetido a “tratamentos de vigia”, em que faz consultas regulares para observação do evoluir da curvatura, a par da recomendada fisioterapia para fortalecer os músculos. Nos restantes casos, consoante a dimensão da curva, “há tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos” que podem ser adotados, diz João Campagnolo.
O tratamento da escoliose de forma não cirúrgica passa pelo uso de “um colete para controlar a deformidade” da coluna. Conhecido como colete de Boston, trata-se de um auxílio rígido que é colocado à volta do tronco e que é usado por baixo da roupa. Já nos casos mais complexos o tratamento passa pela cirurgia à coluna para corrigir a curvatura.
O ortopedista João Campagnolo conta ainda que “houve uma grande evolução” no que diz respeito a esta operação à coluna. Se há uns anos só os mais novos podiam ser submetidos a uma cirurgia à escoliose, hoje já não se fica por aí. Os avanços da ciência permitiram que esta operação deixasse de ser de risco para os mais velhos e hoje “já não há limitação etária”, garante o médico.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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