Desde o bom dia até o boa noite há apenas uma certeza, minha vida não é a mesma. E tá tudo bem. A mudança aconteceu desde 2010 quando tive as primeiras crises da AR. Diariamente preciso estar atento para ressignificar os meus movimentos para que não possa prejudicar minha estrutura articular. Na dança isso não é diferente.
Muitos movimentos na dança em que estava acostumado a fazer, alguns não posso mais fazer devido ao fator impacto e outros preciso evitar para que não haja uma aceleração no desgaste. Isso me traz uma sensação de muita frustração já que sempre fui muito voltado para danças mais intensas, vigorosas. Um exemplo é o meu solo “Integrar meus lares” no qual tenho várias movimentações intensas e vigorosas que precisam também de uma flexibilidade para executar certos movimentos.
Existem alguns momentos devido a AR em que eu não consigo dançar esse solo, exemplo: o condicionamento físico depois de uma crise ele é reduzido e também para recuperar as partes afetadas precisa-se de um tempo. Porém já tive situações em que precisei cancelar minha apresentação devido a impossibilidade de tempo hábil para me recuperar. Então o corpo muitas vezes tem um tempo totalmente diferente desse tempo de Cronos. Eu ainda estou aprendendo a me comunicar com mais assertividade em relação a essas situações entre a crise da AR e trabalho pois a gente não quer desistir do trabalho porém quando chega perto da apresentação, percebo que meu corpo realmente está em outro tempo.
Passar por isso muitas vezes me fez repensar o meu lugar como profissional da dança. Como você pode honrar um compromisso de uma apresentação de dança ou mesmo uma aula sendo que seu corpo pode em algum momento por conta de diversos fatores entrar em crise da AR?
Na real, não dá pra dançar. É preciso só repousar e tomar os medicamentos. Um pequeno detalhe, as dores são insuportáveis. Com o tempo a gente acostuma? Não, eu ainda não me acostumei.
A dor vai se tornando algo na minha vida em que cada vez mais quero me distanciar. Isso acabar , ao meu ver, me deixando muito medroso e criando uma bolha de proteção na qual me pergunto diariamente se não estou exagerando. Logo eu que sempre gostei de ultrapassar meus limites. O fator dor me tira muito do eixo, muitas vezes é totalmente invisível para as pessoas de fora a intensidade da dor que sentimos. Tem dias em que simplesmente não quero dançar com medo de sentir dor. Tem dias em que quero ficar só paradinho para não criar mais gatilhos para qualquer pequena lesão.
Um detalhe importante é que meu corpo cada vez mais fica frágil na parte óssea e também propenso a ter lesões. Mas quando danço eu me sinto feliz, me torno produtor de muitas substâncias importantes para o funcionamento do corpo como todo, inclusive para mente/espírito.
Nunca pensei em decidir ficar mais em repouso do que em movimento. Dançar para mim era sinônimo de vida. Mas na prática hoje em dia preciso viver de uma outra maneira a partir de uma outra referência, se eu ficar com a mesma referência, vou continuar frustrado, então o caminho precisa ser outro. A batalha é diária.
A Dança de alguma maneira me encontrou antes dos primeiros sinais da AR para me salvar pois o trabalho que imprimiu no meu corpo foi crucial para que conseguisse sair bem depois das crises, por exemplo, a consciência de cada movimento. Mas como profissional dessa área que depende dela para viver, isso se torna bem complicado.
Existe um choque realidade de tempos diferentes. Se você passa também por isso, deixa aqui nos comentários, vamos conversar, eu adorarei. Preciso muito aprender sobre isso. Não e fácil transmutar a dor em a aprendizado.
Em breve vou postar mais coisas sobre esse assunto. Vocês gostam quando falo sobre dança e artrite reumatoide?
#REPOST @brasilpinoy
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