“Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que , na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que se entrega a uma causa digna; que na melhor das hipóteses , conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente.”
Theodore Roosevelt, 23 de abril de 1910, Sorbonne
Quantas vezes após passarmos a conviver com o diagnóstico e o tratamento para doenças crônicas, não sentimos nosso cotidiano mais sombrio? Sei que entramos num cotidiano cheio de novas descobertas e que são surpresas com as quais não contávamos nos riscos assumidos diários da nossa vida. Difícil não conhecer algum portador de doença autoimune, que não reaja a palavra Metotrexato, a exames periódicos de sangue , infusões com imunobiológicos, vacinas para adequar o calendário correto ( já cheguei a tomar 4 de uma vez), e mais uma infinidade de perambulações por clínicas, hospitais e laboratórios. Ficamos conhecidos, amigos do porteiros de clínicas, farmacêuticos, toda a enfermagem, sem falar nos médicos e nos profissionais de saúde como um todo. Principalmente em tempos de internet. Às vezes me sinto… sombria.
Não sei; é pesado, é forte me sentir tão dividida entre a gratidão pelo que eu tenho acesso, pelo carinho dos que me recebem e me acolhem e pelo sentimento de vulnerabilidade e incerteza que eu , nós, lutamos. Ser vulnerável não é ser fraco, mas canso de tentar ser e de ouvir muitas vezes , a palavra CORAGEM. Claro que temos muita coragem, acordamos todo dia, vamos em frente, procuramos apoio, ajuda, novos tratamentos… mas é sombrio.
Gostaríamos, acredito, que muitos entendessem que , precisamos de um colo que acolhe, um ouvido que escute, um lenço que enxugue, um silêncio confortável. E só. Delicadeza, gentileza, queremos proximidade, continuamos seres humanos, só que agora com dores, com medo, com insegurança. Mas apesar de tanta ambiguidade (desconheço quem não seja) temos um universo para compartilhar, fora do adoecimento. E dentro dele também!
Quem terá mais medo? Quem usa armaduras que os mantenha a uma distância segura do outro, do familiar com doença crônica? O quão sombrio é olhar para aquelas mãos? Será que se nos colocarmos a explorar a vulnerabilidade que existe em todos nós, não começaremos a criar ou facilitar nossos vínculos? Tenho esperança que sim. Acredito que só quando começarmos a nos comunicar melhor, a falar, a expor nossos medos, anseios, temores, raivas, conquistas, com os que vivem conosco e ouvirmos o mesmo dos que estão próximos a nós ,poderemos nos sentir mais leves , ter sombras mais delicadas. Reaprender a dividir nossa vida, com a doença e os outros aspectos dela, pois somos o somatório de tudo que nos compõem.
Reaprender a usar a vulnerabilidade como um estimulante de caminhada, no nosso tempo, nos respeitando , nos reconhecendo, criando vínculos. Principalmente buscando a leveza de momentos melhores, mesmo que pequenos , mas indo em frente.
Da Felicidade
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho Infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz! “Mário Quintana
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