Embora muito se discuta sobre a relação entre a obesidade e as doenças cardiovasculares, nem sempre está claro para a população que o excesso de peso também está associado a várias outras enfermidades de natureza inflamatória, entre elas as imunomediadas, como artrite reumatoide e psoríase. Isso ocorre porque o tecido adiposo excessivo induz à secreção aumentada de adipocinas, moléculas que favorecem o processo inflamatório em todo o organismo. A situação é especialmente relevante para o Brasil, em que 52% dos habitantes estão acima do peso, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
Estudos internacionais apontam que a prevalência da obesidade em pacientes com psoríase é duas vezes maior na comparação com a população em geral. Em relação à artrite reumatoide, a literatura médica também evidencia uma relação importante entre a doença e o excesso de peso. “A obesidade é um estado inflamatório de baixa intensidade. Por isso, é difícil controlar a inflamação característica da artrite reumatoide e da psoríase em pacientes obesos”, explica a reumatologista Rina Giorgi, diretora da Clínica de Reumatologia do Hospital dos Servidores Públicos de São Paulo.
Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professor titular de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, o médico Artur Antônio Duarte afirma que a relação entre psoríase e obesidade obedece a uma espécie de círculo vicioso. “Tanto a psoríase favorece o estabelecimento dos quadros de obesidade como o excesso de peso estimula a progressão da psoríase”, afirma.
De acordo com o médico, a psoríase pode aparecer em pessoas com predisposição genética, que sofrem de obesidade associada à síndrome metabólica, um transtorno que tem como base a resistência à ação da insulina. O acúmulo de gordura propicia a produção de um tipo de citocina, conhecida como Fator de Necrose Tumoral-Alfa (TNF-Alfa), que favorece o surgimento desta doença de pele.
Por outro lado, o padrão alimentar e o estilo de vida podem desempenhar o papel de gatilho para o surgimento da psoríase em pessoas com predisposição genética para a doença que têm peso excessivo, embora não apresentem síndrome metabólica. “A psoríase leva muitos pacientes à depressão. Vários deles escondem as lesões e evitam se socializar, ganham peso porque não praticam atividade física, bebem e comem em excesso”, explica o médico.
O tratamento da psoríase em obesos demanda uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais como dermatologista, endocrinologista e cardiologista. “Às vezes, o paciente precisa de um apoio psicológico para perder peso”, complemente o médico.
Artrite reumatoide
O sobrepeso e a obesidade também são um problema para as pessoas com artrite reumatoide, uma doença que afetas as articulações. Estudo publicado recentemente na Revista da Sociedade Brasileira de Reumatologia mostrou que 65,5% dos 102 pacientes com artrite reumatoide pesquisados estavam com o peso acima do normal. Essa observação coincide com outros trabalhos internacionais. Um estudo multicêntrico realizado em 15 países demonstrou a prevalência da obesidade em 18% dos 4.363 pacientes envolvidos4. Outra pesquisa científica, produzida na Inglaterra, revelou uma prevalência maior, de 31%.
O impacto do excesso de peso sobre o paciente com artrite reumatoide começa com a carga imposta às articulações, principalmente às das pernas, que já são fragilizadas pela doença. Os membros inferiores podem sofrer danos estruturais, levando à osteoartrite, enfermidade que se caracteriza pela degeneração das cartilagens.
A obesidade também aumenta o risco de o paciente sofrer um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Essa possibilidade existe porque a inflamação sistêmica, típica da artrite reumatoide, favorece o surgimento de outros processos inflamatórios como a aterosclerose, uma doença crônica que leva à formação de placas de gordura nas artérias. O excesso de peso, aliado à aterosclerose, pode tornar o indivíduo sujeito a um evento cardiovascular.
Um estudo realizado por pesquisadores britânicos levantou a possibilidade de que a mudança de dieta é capaz de prevenir ou retardar o surgimento da artrite reumatoide em pessoas muito obesas, que tenham artrite inespecífica ou pais com artrite reumatoide.
As enfermidades
A psoríase e a artrite reumatoide são doenças imunomediadas, isto é, ocorrem quando o sistema imunológico, por motivos ainda desconhecidos, passa a atacar o próprio corpo.
A artrite reumatoide atinge principalmente as articulações, provocando rigidez, deformações, desgaste ósseo e uma série de incapacidades. Estima-se que a doença acometa cerca de 1% da população mundial. Erroneamente associada à terceira idade, costuma ser diagnosticada por volta dos 40 anos, predominantemente em mulheres, no auge da vida profissional do paciente, causando um forte impacto econômico, familiar e pessoal.
A psoríase é uma doença de pele, que provoca lesões avermelhadas, normalmente em forma de placas, que aparecem com maior frequência nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, mãos, pés e na região genital. Estudos mostram que a enfermidade afeta de 1% a 3% da população mundial.
Terapia
Apesar de não existir cura definitiva para artrite reumatoide e para a psoríase, existem hoje tratamentos capazes de controlar essas doenças. Com isso é possível diminuir a atividade das enfermidades, aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Considerando que essas doenças são imunomediadas, os medicamentos agem para minimizar a resposta inflamatória exagerada. São os chamados medicamentos modificadores do curso da doença, que são conhecidos pelas siglas MMCDs (em português) ou DMARDs (em inglês), que podem ser sintéticos ou biológicos. Entre os medicamentos biológicos existentes está Enbrel (etanercepte), que age ligando-se ao TNF-Alfa, bloqueando sua atividade e reduzindo a inflamação da psoríase e da artrite reumatoide.
Fonte: Noticias ao minuto
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