Aos 15 anos de idade, Tharine Correa era uma adolescente comum. Porém, começou a sentir dores insuportáveis pelo corpo, a ponto de não conseguir sequer amarrar o cabelo sozinha. Após uma série de exames — sem alterações — e tratamentos para reumatismo, descobriu, enfim, a causa de tanta aflição: a fibromialgia. Hoje, aos 26 anos, ela faz parte do grupo de mais de 2 milhões de brasileiros (diagnosticados por ano) que convive com a doença.
“Onze anos depois, ainda sofro desse mal. Minhas dores são constantes. Fico completamente intocável e vivo inchada, principalmente, pés e pernas. Muitas vezes, acordo mais cansada do que quando fui dormir. Na verdade, quase que diariamente”, diz, ao ressaltar a falta de sono reparador. “Às vezes sinto como se estivessem serrando o meu corpo por inteiro. O período que antecede a menstruação é o pior”, completa.
Em crises mais graves, Tharine Correa revela ter precisado de ajuda para se vestir por não conseguir fazer algo simples, como “esticar e estender os braços”. E, apesar de reconhecer a intensidade das dores — algo que beira o insuportável em alguns momentos — ressalta uma questão ainda mais dolorosa de quem tem essa doença. Mesmo uma década depois do diagnóstico, a amazonense ainda sofre com o preconceito.
“Eu já tive situações extremas, mas o pior da doença (além das dores físicas) são essas coisas que ouvimos, sobre não termos nada. Na época que fui diagnosticada era pior. Nunca tenho ninguém para falar disso. É horrível olhar as expressões ignorantes, achando que estamos reclamando por ‘frescura’. Minha doença sempre foi tratada como ‘frescura’ por vários familiares e amigos. Isso afeta o psicológico”, desabafa.
Diagnóstico
Também chamada de “Síndrome de Joanina Dognini”, a doença é mais comum em mulheres a partir dos 20 anos de idade. Porém, também pode afetar os homens. Segundo a ortopedista Sandra Fachinello, não existe um exame específico para detectá-la. Entre os principais sintomas analisados para fechar o diagnóstico, está o fato de a pessoa ter mais de 11 pontos dolorosos em diferentes partes do corpo.
“É um diagnóstico de exclusão, quando não encontramos outra doença que justifique as dores. Excluímos as que têm sintomas parecidos, como reumatismo e hipotireoidismo, por exemplo. A pessoa costuma ter mais de 11 pontos dolorosos pelo corpo, ansiedade, sono não reparador (dorme, mas acorda cansado) e fadiga crônica. A fibromialgia é muita relacionada à depressão e ansiedade, mas não existe um exame específico que possa detectá-la”, explica.
Ainda de acordo com a médica que atua há 16 anos na área e tem especialização em clínica da dor pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, muitos pacientes desenvolvem a doença em decorrência de outras patologias físicas ou até mesmo problemas emocionais e psicológicos. Ou seja, o estresse diário resultantes de inflamações musculares existentes, traumas ou turbulências na rotina podem desencadear a fibromialgia.
“Muitas vezes, o paciente, tem hérnia de disco, tendinite, ou dores crônicas por outros motivos. E, a demora na melhora, ansiedade por causa das outras ‘ites’, causa estresse, evoluindo secundariamente para uma fibromialgia. Também pode ser um trauma, a morte de alguém querido, por exemplo. Difícil encontrar uma pessoa que tenha somente fibromialgia. Sempre algo desencadeou esse processo”, enfatiza Sandra.
Tratamento ‘múltiplo’
Segundo a ortopedista Sandra Fachinello, portadores de fibromialgia precisam ter um acompanhamento multidisciplinar, com especialistas das seguintes áreas: ortopedia, reumatologia, psicologia, fisioterapia e nutrição. Não existe cura, ressalta, mas formas paliativas para dar mais qualidade de vida.
“Praticar exercícios, ter uma boa alimentação e não fumar. Sem esse cuidado, aumenta o nível de radicais livres e da prostaglandina. Logo, o processo inflamatório e a dor pioram. O tratamento pode ser feito com antidepressivos que não viciam e relaxantes musculares. Antiflamatórios somente em crise. Mas não adianta tomar remédios e não se alongar”, alerta.
Ana Nascimento, 30 anos, vendedora
Eu sofro com dores desde 2008, mas só consegui receber o diagnóstico seis anos depois. Passei por quatro ortopedistas, que sempre falaram em tendinite, bursite, lordose, artrose… Mas não sabiam explicar o motivo das dores no corpo inteiro e porquê dos analgésicos mais pesados não surtirem efeito. Perdi as contas de quantas vezes passei noites em claro, chorando de dor, ou parei no pronto-socorro. Quando recebi licença médica (eu não conseguia nem escovar os dentes de tanta dor), meu chefe disse que eu estava inventando doenças para não trabalhar e gritou comigo. Até hoje, a maioria das pessoas diz que é ‘frescura’.
DESTAQUE
Incluída recentemente na lista de doenças reconhecidas pela Medicina (código M79.0), a fibromialgia é mais comum em mulheres. É considerada crônica e não tem cura (pode durar anos ou a vida inteira), apenas tratamentos para aliviar as dores. Geralmente, é acompanhada por fadiga e alterações no sono, na memória e no humor. Sensibilidade e dores musculares generalizadas são os sintomas mais comuns. Requer um diagnóstico médico.
Fonte: A Critica
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