A artrite e a artrose são doenças bem diferentes embora tenham em comum o comprometimento das articulações. Enquanto a primeira pode ter causa genética e se desdobrar em diferentes tipos, a segunda ocorre pelo processo natural de envelhecimento ou algum trauma. Os tratamentos também são distintos, mas atividade física é fator comum para prevenir, retardar ou tratar as condições.
Começando pela artrose, também conhecida como osteoartrite, o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Roberto Provenza, explica que se trata de uma doença degenerativa da cartilagem articular. Essa degradação ocorre porque as células que compõem esse tecido, os condrócitos, diminuem a produção de colágeno (que garante resistência) e de proteoglicanos (que tem função de mola biológica).
Sem esses componentes, a cartilagem entra em degeneração e reduz sua capacidade de suportar a carga de movimentos que o corpo exerce. “Começam a aparecer fissuras na cartilagem, parte dela fica solta dentro da articulação e, secundariamente, promove um processo inflamatório”, explica Provenza.
A artrose tem maior incidência em pessoas mais velhas, sendo pouco comum antes dos 40 anos e mais frequente após os 60. A enfermidade acometeu o ator Robbie Coltrane, que interpretou Rúbeo Hagrid em Harry Potter. A doença tem impacto significativo, pois representa cerca de 30% a 40% das consultas em ambulatórios de reumatologia e 7,5% de todos os afastamentos do trabalho, segundo a SBR.
O reumatologista afirma que há duas explicações para o aparecimento da osteoartrite: processo natural de envelhecimento ou o sofrimento de algum trauma articular. No segundo caso, pode ocorrer, por exemplo, com um esportista que lesionou o menisco ou o ligamento cruzado do joelho. O resultado é o comprometimento da cartilagem no local afetado. Mas uma pessoa que, naturalmente, tem alteração de postura também pode sofrer de artrose precocemente.
Características da artrite
Provenza explica que, enquanto a artrose se inicia na cartilagem, a artrite começa na membrana sinovial, tecido que reveste as articulações. Ela é responsável pela produção do líquido sinovial, que lubrifica as juntas. Se esse revestimento é atingido por anticorpos, há um aumento na espessura da membrana, que fica inflamada, inchada e quente.
“Se agride muito a membrana sinovial, vai aumentar a quantidade de vasos sanguíneos, produzir grande quantidade de líquido e, muitas vezes, se encontra líquido dentro da cavidade articular. Se essa artrite durar longos períodos, vai destruir cartilagem”, diz o presidente da SBR. Essa destruição ocorre devido às enzimas presentes no líquido sinovial produzido durante a inflamação.
Embora sejam parecidas, artrite e artrose tem diferenças importantes. Foto: Produzida pelo E+
Existem vários tipos de artrite: autoimune, por gota, por bactérias ou vírus. Independente da natureza, a consequência é uma só: irritação da membrana sinovial. A mais comum é a artrite reumatoide, uma doença crônica e autoimune que tende a se manifestar entre os 30 e os 50 anos de idade. Ela não afeta somente as articulações e pode ter consequências respiratórias e cardíacas devido às próprias características inflamatórias ou aos medicamentos utilizados no tratamento. Entenda melhor nesta reportagem.
Sintomas da artrite e da artrose
As duas doenças apresentam dores nas articulações, mas a artrose é caracterizada, principalmente, pela perda ou limitação da função articular. Os sintomas são mais comuns nas mãos, joelhos, quadril e coluna.
Na artrite, além de comprometer as articulações das mãos e dos pés, há impacto nos joelhos, cotovelos e ombros. Essas regiões podem doer, inchar e ficar quentes. A enfermidade pode se apresentar de forma simétrica, ou seja, nas duas mãos, nos dois pés e nos dois joelhos. Junto a isso, pode ainda dar sensação de fadiga, febre, e a pessoa pode ter dificuldade para se levantar ou se movimentar.
Provenza alerta que dores articulares que não cessam e duram de quatro a seis semanas pode ser indicativo de uma das doenças. Nesses casos, é preciso ir diretamente a um médico reumatologista e evitar a automedicação. “O paciente acaba por tomar analgésico e anti-inflamatório e demora para procurar atendimento reumatológico”, afirma.
Tratamentos para artrite e artrose
Cada doença tem um tratamento específico, que deve ser avaliado individualmente por um reumatologista. No geral, tanto para artrite quanto para a artrose, os médicos recomendam a prática de exercícios físicos para fortalecimento muscular. As atividades também podem prevenir ou retardar o aparecimento de alguma delas.
Os anti-inflamatórios também são utilizados em ambos os casos, e Provenza recomenda que sejam sem corticoide. Em caso contrário, que sejam utilizados por pouco tempo porque, no longo prazo, podem ter consequências gastrointestinais e renais.
Para a artrose, o médico afirma que há alguns medicamentos considerados fitoterápicos e algumas proteínas como colágeno e proteoglicanos que podem auxiliar no tratamento. “Mas o mais importante é fortalecer a musculatura e os ligamentos sem impacto”, reforça.
No caso da artrite, além dos anti-inflamatórios, existem remédios específicos chamados imunobiológicos. São drogas produzidas com células vivas que atuam diretamente no alvo que desencadeia a doença. Essas medicações são as mais eficazes e causam pouco ou nenhum efeito adverso.
Fonte: E-Mais Estadão
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