Recentemente, endocrinologistas de todo o Brasil participaram virtualmente do Endodebate, um evento científico anual em que se discutem as principais novidades sobretudo nas áreas de obesidade e diabetes. E não faltou assunto. Vamos aos principais destaques do encontro de 2021.
Diabetes e obesidade: medicamento completo
Assim como a semaglutida – medicação para o diabetes que tem potencial para atuar também na obesidade –, uma nova fórmula ainda mais revolucionária está em análise para o tratamento das duas doenças. Trata-se da tirzepatida.
“Diversos fatores estão por trás do diabetes. E a obesidade visceral, aquela no abdômen, é um deles. Quem trata o diabetes deve, portanto, usar uma combinação de drogas, e é importante ter uma opção que ajude a reduzir essa gordura”, contextualiza o endocrinologista Cristiano Barcellos, membro da Sociedade Brasileira de Diabetes.
A tirzepatida promete, além de combater ambos os quadros, controlar melhor o açúcar no organismo, evitando a hipoglicemia. Por isso, se aprovada, pode se tornar um blockbuster, segundo a imprensa médica americana. Atualmente, ela está em pesquisa de fase três — quando se avalia o remédio numa grande quantidade de voluntários.
“Os estudos de primeira fase mostraram que o uso da tirzepatida conseguiu manter níveis melhores de glicose nos pacientes em comparação com a semaglutida, e ainda houve perda significativa de peso”, descreve Barcellos.
Cabe lembrar que, por enquanto, a semaglutida, do laboratório Novo Nordisk, é utilizada contra a obesidade em caráter off-label, ou seja, fora da bula. Nos Estados Unidos, a substância já está aprovada para esse uso na FDA, a agência que regula medicamentos por lá.
No Brasil, não há data para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliar a indicação, que segue focada no diabetes tipo 2. “Sua recomendação para perda de peso é feita nos consultórios, mas o paciente deve assinar um termo de consentimento”, explica Barcellos.
Os estudos com a tirzepatida, conduzidos pela farmacêutica Eli Lilly, apuram os resultados no combate ao diabetes, à obesidade, à esteatose hepática não alcoólica e à insuficiência cardíaca.
Diabetes: combinação eficiente de remédios
Mortes por doenças cardiovasculares entre indivíduos com diabetes são comuns, mas essa relação ainda é pouco conhecida pela maioria das pessoas. Os médicos, no entanto, devem trabalhar na prevenção desses males.
Incentivar bons hábitos e o controle da pressão e do colesterol é o básico. Mas os anticoagulantes também podem ser aliados. “Hoje utilizamos a aspirina. Mas a proteção fica ainda mais eficiente quando se adiciona outra droga, a rivaroxabana. Muitos médicos não sabem que é indicado fazer essa combinação no diabetes tipo 2 quando já houve casos de doença cardiovascular”, comenta o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e organizador do Endodebate.
Por falar em associação de remédios, essa é uma estratégia indicada já para o início do tratamento do diabetes, para evitar que novos problemas surjam. Segundo Couri, o esquema deve ser discutido ainda na primeira consulta.
“O paciente pode ter resistência em tomar muitos remédios logo de cara, mas cabe ao médico explicar que eles têm o papel da prevenção”, afirma Couri. E, mesmo que mais tarde o diabetes fique um pouco descontrolado, essa memória do bom tratamento do começo acaba oferecendo maior proteção cardiovascular.
Para facilitar o uso de diversos fármacos, outra novidade deve chegar este ano no Brasil. Lembra da semaglutida? Atualmente ela é injetável e aplicada uma vez por semana. Mas será também comercializada em comprimido. “A dose oral é diária. O resultado não difere, mas as pessoas ganham uma nova opção na rotina”, revela Couri.
O valor dos remédios ainda é um entrave no tratamento do diabetes. “Cerca de 77% dos pacientes têm pressão alta, precisam controlar o colesterol etc. E essa gama de medicamentos pesa no bolso”, pontua Barcellos.
Osteoporose: tratamento de efeito duplo
Pessoas que enfrentam a osteoporose grave ganharam um baita aliado no tratamento – também abordado no Endodebate. Foi aprovado no Brasil o romosozumabe, medicamento que aumenta a formação óssea em apenas um ano. Para ter ideia, os demais fármacos levam de 18 a 24 meses para cumprir esse objetivo. Evitar fraturas – que prejudicam a qualidade de vida – é o grande gol da novidade.
O osso é um tecido vivo. Há as células que ajudam em sua fabricação, os osteoblastos, e aquelas que removem parte do tecido, os osteoclastos. Com o passar do tempo, a capacidade produtiva dá uma piorada. A nova droga se diferencia por ter um efeito duplo diante dessa situação.
“Os medicamentos no mercado, como o teriparatida, agem apenas na formação do osso. Já o romosozumabe, além de fazer isso, inibe a ação dos osteoclastos”, esclarece Frederico Santos, reumatologista e gerente médico da Amgen Brasil, fabricante da fórmula. A dose mensal, que é injetável, pode custar cerca de 4 mil reais.
Mas o desafio ainda é encontrar o público-alvo. “O remédio é uma ótima notícia, mas sofremos com a subnotificação de diagnósticos de osteoporose e a falta de um método que possa classificar os riscos de fratura”, lamenta Santos.
Hoje, pacientes com diversos níveis de gravidade acabam recebendo o mesmo tratamento, principalmente na rede pública. “A nova medicação é indicada para pessoas que têm histórico ou perigo muito alto ou iminente de fratura”, informa o médico.
No mundo, a osteoporose está por trás de quase 9 milhões de fraturas por ano – são praticamente três casos por segundo. No Brasil, estima-se que apenas um em cada três pacientes com fratura no quadril recebe o diagnóstico de osteoporose, e apenas uma pessoa a cada cinco realiza algum tipo de tratamento. Os dados são da Fundação Internacional de Osteoporose.
“A doença é subdiagnosticada no mundo porque não há um médico específico para avaliá-la. A preocupação com o assunto pode partir de geriatra, reumatologista, clínico-geral, ortopedista… A condição também não apresenta sintomas. Por isso, tende a ser descoberta após a fratura”, explica Santos.
Homens a partir dos 70 anos e mulheres na menopausa estão no grupo com maior probabilidade de desenvolver o quadro. “Há ainda baixa adesão ao tratamento, porque a pessoa não sente dor e os medicamentos podem causar desconforto no estômago. Aí acaba abandonando os cuidados sem comunicar o médico”, diz o remautologista.
Fonte: Saúde Abril.
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