A Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR) lançou um alerta para o fato de, apesar de as doenças reumáticas atingirem cerca de 0,7% dos portugueses e serem a quarta causa de dor crônica no país, permanece “a falta de uma estratégia para o diagnóstico precoce desta doença é o maior problema que ainda enfrentamos.
A Reumatologia, apesar de ser a especialidade médica responsável pelo acompanhamento de doenças com a maior morbilidade em Portugal, continua a não ter um número de suficiente de serviços de reumatologia alocados que permitam uma adequada cobertura nacional”.
“As doenças reumáticas são doenças para a vida. Temos as ferramentas, temos os médicos, temos as análises e os marcadores que permitem o diagnóstico precoce, temos os registos, temos o tratamento, mas os doentes reumáticos continuam a não ser tratados devidamente.” Estes são factos anunciados pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia que foram revelados na conferência promovida pela APIFARMA “Artrite Reumatóide: Contributos para um Diagnóstico Precoce.”
O diagnóstico precoce da artrite reumatoide, bem como de todas das doenças reumáticas, é fundamental e encerra um problema: o acesso à própria especialidade. De acordo com a SPR, é urgente que as doenças reumáticas se tornem uma prioridade nacional, o que não acontece por não terem o mediatismo de outras doenças com taxas de mortalidade elevadas, o que se reflete na falta de tratamento adequado e pior qualidade de vida para os doentes, que são os que mais dor têm.
“Em Portugal, entre 2002 e 2015, continua-se à espera que abram 13 novas unidades de Reumatologia, e os doentes continuam a não ser tratados corretamente, pela especialidade que tem que tratar estes doentes, a reumatologia, apesar de existirem reumatologistas suficientes no nosso país! O doente demora cerca de dois anos a ter um diagnóstico quando o recomendável é que o diagnóstico seja feito até um máximo de 6 meses, altura em que ainda é possível prevenir o dano estrutural e as sequelas articulares. Após os dois anos, é muito provável que o doente tenha já erosões ósseas e que o tratamento da doença fique comprometido”, faz saber aquela sociedade através de comunicado enviado à redação do Jornal Médico.
A par destes dados, há uma enorme preocupação com a formação dos Médicos de Medicina Geral e Familiar, os que recebem o doente na primeira linha. Porém, perante um correto diagnóstico e referenciação para a reumatologia, o tempo de espera para o doente ser recebido pelo especialista é superior a 3 meses.
Para a Sociedade de Portuguesa de Reumatologia é evidente a urgência de investimento no diagnóstico das doenças reumáticas. Para além do impacto positivo na vida do doente, o diagnóstico precoce permite diminuir significativamente os custos que a doença acarreta para o Estado pois, quanto mais avançada estiver a doença, mais cuidados e medicação são necessários. Num cenário idêntico ao que hoje se verifica, a poupança poderia mesmo chegar aos 1800 euros por doente diagnosticado precocemente, o que somaria 51 milhões de euros no final do ano.
Segundo o presidente da SPR, Canas da Silva, “a visibilidade destas doenças passa pela definição de uma estratégia que permita a literacia da população, uma referenciação precoce para a especialidade, a instituição de terapêuticas modificadoras e um seguimento feito por uma equipa multidisciplinar. Só assim se consegue a visibilidade suficiente para que os reumatologistas sejam distribuídos pelas regiões nacionais onde realmente carecem, bem como a melhoria das infraestruturas já existentes”.
A Sociedade alerta para a importância de, no caso da artrite reumatoide, sensibilizar a população, a sociedade e os centros decisores para as consequências da doença. Além da dor e incapacidade reconhecida, esta patologia associa-se a outras comorbilidades como a doença cardiovascular, osteoporose ou depressão condicionado elevados custos diretos e indiretos da doença para o doente, mas também para a sociedade. De acordo com a reumatologista Cátia Duarte, “o não reconhecimento pela sociedade do impacto da AR pode colocar em causa a implementação de estratégias para o seu diagnóstico e tratamento precoce”.
A Sociedade Portuguesa de Reumatologia apela, assim, à criação de meios que permitam o diagnóstico precoce e o apoio devido a todos os que sofrem de artrite reumatoide ou de qualquer outra doença reumática. Nas palavras de Canas da Silva, “a doença reumática não é uma doença de idosos, é uma doença de todos e para a vida!”.
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