O número de casos de pneumonia aumentou no Brasil esse ano. Embora sejam poucos os hospitais que têm dados sobre o tipo da doença, dados dos que têm e relatos de profissionais de saúde indicam que a alta está ligada à forma silenciosa ou atípica da doença. Ela causa sintomas mais brandos que os quadros tradicionais de pneumonia, o que pode levar à demora em procurar atendimento.
Em Porto Alegre, dados do Hospital Moinhos de Vento mostram que entre janeiro e junho foram registradas 349 internações por pneumonia. No mesmo período do ano passado, foram 245. De acordo com o hospital, houve aumento dos casos de Mycoplasma pneumoniae, em especial entre crianças e adolescentes.
No Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, foram atendidos 244 pacientes com pneumonia causada por Mycoplasma este ano. No mesmo período do ano passado, foram apenas 4. No hospital, a faixa etária mais atingida é de pessoas com idade a partir de 16 anos.
No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde não registra dados detalhados sobre cada tipo de pneumonia. No entanto, houve aumento de 69% nos atendimentos de urgência e emergência por pneumonia na rede municipal, em relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte dos pacientes são crianças menores de 10 anos.
Cenário semelhante foi apontado pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. De janeiro a junho deste ano, foram realizados 675 atendimentos por pneumonia no pronto atendimento da pediatria do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus. O número representa um aumento de 36,3% em comparação com os 495 atendimentos realizados no mesmo período de 2023.
No Estado de São Paulo, também houve aumento, mas menos expressivo. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, de janeiro até abril deste ano, foram registrados 25.981 procedimentos ambulatoriais, contra 24.796 no mesmo período do ano passado.
De acordo com o infectologista David Uip, diretor nacional de Infectologia da Rede D’Or, que conta com 69 hospitais, localizados em 13 unidades da federação, houve aumento expressivo no número de casos de pneumonia em todos os hospitais da rede, incluindo dos casos atípicos.
— Temos vários vírus circulando e muitas vezes um processo bacteriano sucede um processo viral. O clima também contribui. Estamos com um clima seco e temperaturas totalmente fora de esquadro, diferente do que estávamos acostumados. Além disso, processos imunoalérgicos, como rinite e sinusite, também podem virar um processo bacteriano — avalia o infectologista.
Em relação ao aumento das infecções por Mycoplasma pneumoniae, especificamente, especialistas especulam que ele pode estar associado à pandemia. As medidas restritivas impostas para controlar a transmissão do coronavírus fizeram com que muitos patógenos parassem de circular. Agora, eles voltaram a circular e encontram muitos suscetíveis, em especial crianças.
Outro fator apontado é a própria sazonalidade da doença. Surtos de infecções por essa bactéria tendem a acontecer a cada três a sete anos, embora as razões disso ainda não sejam bem compreendidas. Como não havia surtos relatados desde antes da pandemia, esse aumento nos casos já era esperado em muitos países.
Pneumonia atípica
O médico Alexandre Zavascki, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, lembra que o aumento de casos de pneumonia silenciosa já foi relatado em outros países pós-Covid, que também começou na China. No fim do ano passado, o país asiático relatou um surto de pneumonia em crianças associado a essa bactéria. Pouco tempo depois, pelo menos outros nove países também registraram um número maior de infecções pelo micro-organismo e já era esperado que esse quadro chegasse ao Brasil.
Apesar de ser popularmente conhecida como “pneumonia silenciosa”, a doença causada pela bactéria Mycoplasma pneumoniae tem sintomas. Mas eles são diferentes do quadro tradicional.
— Na verdade, as crianças apresentam muita tosse. Esse é o principal sintoma. No entanto, elas não aparentam estar doentes. A febre costuma ser baixa, não tem muitos sintomas de prostração e falta de ar — explica a médica Maria Helena de Carvalho Bussamra, pneumologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil.
— A criança vem ao hospital, tem o diagnóstico de pneumonia e trata em casa com medicação via oral — pontua Bussamra.
A Mycoplasma pneumoniae é transmitida através de gotículas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. As crianças são o principal grupo de risco pela falta de infecção prévia. Em seguida, estão os idosos.
O sintoma mais comum da infecção pela bactéria é a tosse seca. Também pode haver outros sintomas gripais como dor de garganta, cansaço, febre, dor no peito, desconforto e dor de cabeça.
Como os sintomas são os mesmos de infecções causadas por outros patógenos, como vírus, só é possível saber qual vírus ou bactéria está associado a esse sintoma após a realização de testes específicos.
Casos leves não necessariamente precisam de antibiótico, havendo apenas tratamento sintomático. Já os casos mais graves necessitam de antibiótico. Os mais usados para tratar esse tipo de pneumonia são conhecidos como macrolídeos, em especial a azitromicina.
Fonte: O Globo
Pneumonia: Brasil tem aumento de casos da doença, incluindo do tipo silencioso; entenda (globo.com)
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