Especialistas em imunização de pacientes especiais explicam o processo de produção de vacinas, falam sobre as que estão em estudo contra o coronavírus e também quais são as expectativas pós-vacinação
Em transmissão ao vivo realizada nas redes sociais do Blog Artrite Reumatoide, Grupar-RP e Biored Brasil, Priscila Torres reuniu as médicas Melissa Palmieri, especialista em Vigilância em Saúde pelo Ministério da Saúde e Diretora da Sociedade Brasileira de Imunização – Regional de São Paulo, e Gecilmara Salviato Pileggi, reumatologista pediátrica, Integrante do Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacina/Imunobiológicos (CIFAVI). O webinar “Perspectivas sobre a imunização contra o coronavírus para pacientes com doenças imunomediadas”, transmitido em 27 de outubro de 2020, com a audiência de 5.815 pessoas, o vídeo está disponível no link: https://youtu.be/AHsrqZVDZGQ.
Durante o encontro online as especialistas falaram sobre suas experiências com os estudos de vacinas contra o coronavírus, já que ambas estão fazendo parte de comitês de desenvolvimento das mesmas. Além disso, as especialistas responderam perguntas sobre a vacinação para pessoas dentro e fora dos grupos de risco e para pacientes com doenças imunomediadas.
Para iniciar a conversa, Priscila afirmou que a iniciativa de trazer as profissionais para explicar essas questões sobre as vacinas contra o coronavírus partiu da constatação de muitas informações conflituosas e incorretas circulando nas redes sociais e na internet, confundindo os pacientes e alimentando receios de todos.
“Hoje, só pelo fato de abrir a internet, já começamos a pensar em efeito colateral da vacina, pela quantidade de informação conflitante. Então, para termos acesso a informação segura e tranquilizadora, a gente precisa falar com médicos que, além de conhecerem a vacina, também entendem a situação dos pacientes com doenças imunomediadas”, disse Priscila.
Iniciando sua participação a Dra. Gecilmara afirmou que desde o início da pandemia existe uma forte polarização de opiniões devido ao grande número de informações divulgadas. Isso gera um grande desgaste nos profissionais da área médica e científica, já que precisam filtrar e avaliar diversas questões ao mesmo tempo. Afirmação a qual a Dra. Melissa fez coro, ressaltando que mesmo os envolvidos nos estudos para a produção das vacinas ainda não possuem verdades absolutas e que ainda restam muitas dúvidas sobre a doença e sobre como a imunização vai funcionar.
Sobre os avanços na imunização, a Dra. Melissa explicou que estas estão sendo feitas e testadas em velocidade maior do que a usual porque as plataformas de algumas das vacinas contra o coronavírus já estavam prontas para outras. Além disso, devido aos números elevados da doença na pandemia, alguns estágios da produção estão sendo adiantados, como a produção das doses enquanto os testes ainda não foram concluídos. Um risco que as indústrias estão assumindo de precisar jogar fora toda a produção caso não demonstre eficácia e segurança. Porém, em caso de aprovação das vacinas pelos órgãos reguladores, essa medida irá acelerar a disponibilização das mesmas para a imunização da população.
A profissional ressaltou também que existem muitas fake news sobre a produção dessas vacinas, principalmente em relação à segurança. E afirmou que os pesquisadores envolvidos são idôneos, que não iriam associar seus nomes a algo que poderia colocar em risco as pessoas. Por isso não deixariam de relatar efeitos adversos durante os testes.
Para a Dra. Gecilmara, a comprovação da segurança é o ponto mais importante. A eficácia fica em segundo plano. A médica afirmou que até mesmo por trabalhar com farmacovigilância está sempre atenta a esse ponto durante o protocolo de produção de vacina no qual ela está envolvida.
“Eu fico um pouco atônita de perceber o medo de algo que não existe e que não é possível, ser maior do que o medo de algo que é real e que já matou 157 mil pessoas no nosso país. Este medo de não terminar essa agonia ele não é maior que um suposto evento adverso que ainda não aconteceu. Realmente as pessoas estão com mais medo da vacina do que da doença”, lamentou a especialista.
Tipos de vacinas, como são produzidas e o que esperar delas
Segundo o site da Organização Mundial de Saúde, existem cerca de 200 vacinas entre as fases pré-clínicas e clínicas. Destas, o site do The New York Times informa que existem 34 na fase um, 14 na fase dois, quando são expandidos os estudos para centenas. E 11 na fase três, na qual será possível avaliar em grande escala, com a participação de milhares de pessoas no estudos sobre a eficácia e segurança.
Essas vacinas possuem técnicas de produção diferentes entre si. Elas podem ser genéticas, onde é utilizado o código de RNA ou DNA para que o corpo produza uma resposta imune ao vírus. Também podem ser feitas por meio de vetores virais, utilizando o adenovírus, um vírus em forma enfraquecida, para gerar essa resposta do organismo para combater a doença. Outra opção são as vacinas produzidas com base em proteínas, fragmentos colocados na imunização para que o sistema imune faça a leitura e desenvolva a resposta. E, por último, existem as inativadas ou atenuadas, nas quais o vírus é inativado antes de ser incluído na vacina, porém ainda consegue gerar resposta imune do organismo, explicou Dra. Melissa.
Segundo a especialista, também estão sendo realizados estudos sobre efeitos indiretos de vacinas, como a BCG, para verificar se elas conseguem estimular uma resposta celular que ajude o organismo em caso de infecção por coronavírus. Sobre a forma que essas vacinas irão agir, a médica explicou que a maioria das que estão em estudo têm como desfecho principal para eficácia verificar se protege para casos sintomáticos com PCR positivo. E com isso, não é possível concluir se irão trazer uma diminuição da mortalidade e hospitalização, como também saber se irão reduzir a transmissão da doença.
Imunização dos pacientes com doenças imunomediadas
Questionadas por Priscila Torres sobre a vacinação segura para pacientes imunodeprimidos as médicas concordam que mesmo após a aprovação das primeiras vacinas, em um primeiro momento, esses pacientes não devem se imunizar. Os estudos para estas vacinas em fase de testes estão focados em pacientes saudáveis e nos grupos de risco para o coronavírus que são os idosos, pessoas com obesidade, cardiopatas e hipertensos. E os pacientes com doenças imunomediadas não são vistos como grupo prioritário.
“Eu adoraria trazer notícias animadoras no sentido de agora, lógico que terá no futuro, mas eu queria trazer agora. Mas o que nós temos de todas essas plataformas de fase três, nenhuma nas descrições dos estudos clínicos insere esse tipo de paciente (imunossuprimidos)”, disse Dra Melissa.
“Não acho que é momento para pensar em vacinar. Quem está com a doença quietinha, controlada, não está no grupo de risco. Vamos tomar as medidas preventivas: cuidar da saúde física, psíquica, mental, nutricional e nos manter longe dos grupos de risco. Isso é o que eu acho que nós podemos fazer neste momento”, complementou Dra. Gecilmara.
A profissional explicou ainda que é muito importante para os pacientes com doenças imunomediadas manterem seu tratamento e o acompanhamento médico mesmo durante a pandemia, pois há risco de piora no quadro clínico da própria doença. A Covid-19 é uma doença inflamatória que age em várias partes do corpo e as reações a ela têm sido controladas nas pessoas com doenças graves pelas medicações que são utilizadas de base para o tratamento.
As médicas ainda explicaram que quando a imunização estiver disponível para os demais grupos, vacinar as pessoas ao redor dos pacientes imunodeprimidos pode garantir uma proteção indireta para esses pacientes.
A vida vai voltar ao que era antes?
Quando questionadas por Priscila se após a vacinação em massa contra o coronavírus a vida voltará ao normal, as especialistas pontuaram que este período de pandemia trouxe uma série de ensinamentos que não podemos perder, mesmo com todos vacinados: a responsabilidade social, de cuidar de si e do outro.
“Vivemos em tempos de globalização, de muito conhecimento e temos que colocar em prática. Eu acho que normal seria adotarmos estratégias que aprendemos. Lógico, não viveremos sempre como estamos agora andando de máscara em todos os lugares. A gente vai se libertar disso, mas no momento certo. O momento não é agora”, reforçou Dra. Melissa.
“É cruel deixar de conviver. A gente quer voltar a estar com quem amamos, poder dar um abraço… A ânsia por esse momento de conviver é o que mais nos atrai e nos motiva. A esperança é quando tivermos vacinas que mostrem segurança e eficácia de transmissão, vamos voltar a conviver. E nós temos que ter essa esperança, com consciência e mais responsabilidade, pensando na nossa saúde enquanto grupo de risco, quais foram as lições aprendidas que a gente pode tirar desse momento e fazer um mundo melhor. Vamos acreditar nisso sim, é responsabilidade de cada um de nós”, disse a Dra. Gecilmara.
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