As profundas mudanças nas relações sociais contribuíram para o aumento da ansiedade na população em geral. O impacto da nova realidade foi ainda maior para pessoas com obesidade e pode ser traduzido pelo significativo ganho de peso. A observação é da psicóloga Michele Vieira, do Núcleo de Obesidade, do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (Cedeba), ao analisar os aspectos emocionais da Obesidade, doença que cresce em todo o planeta, e que teve mobilização no dia 4 de março, Dia Mundial da Obesidade para alertar sobre os riscos desse avanço.
O medo da COVID-19, a perda de familiares e amigos, a insegurança diante da ameaça do desemprego, segundo a psicóloga, foram situações que geraram pico de ansiedade, fazendo as pessoas buscarem, nos alimentos, a regulação das emoções numa estratégia de buscar alívio e paz. A pandemia também tornou mais difícil a realização de exercícios físicos – muito importante para o bem-estar físico e emocional – além de reduzir os contatos com amigos e familiares.
Alimento e emoções
Michele Vieira explica que, desde o início da vida, existe uma associação entre alimento e prazer. Alimentos doces, principalmente, são prometidos como recompensa à criança. Se a criança está chorando, um pirulito ou chocolate são oferecidos como consolo. Na outra direção, obrigar a criança a comer com promessa de recompensa – destaca a psicóloga – também poderá trazer problemas na relação com os alimentos. Punir a criança que não quer comer, com ameaças e castigos, é um fatores que podem levar à compulsão alimentar, distúrbio que também pode ser disparado pela restrição excessiva de alimentos.
“E quando a obesidade se instala, a insatisfação com o corpo, nascida com a não aceitação da auto- imagem, leva a pessoa a buscar soluções que garantam resultados a curto prazo. E soluções miraculosas com dietas restritivas para a obesidade – doença crônica que não tem cura e sim controle -, abundantes nas mídias sociais, só contribuem para agravar a doença”, pontua .
Atendimento Psicológico
O tratamento da obesidade exige atendimento multidisciplinar, oferecido no Cedeba, por meio do Núcleo de Obesidade. No Cedeba, a pessoa com obesidade tem acesso a psicólogo, nutricionista, assistente social e fisioterapeuta.
Antes da pandemia da COVID 19, o atendimento psicológico para as pessoas com obesidade era feito em grupos e, também, individual. O trabalho em grupo foi suspenso por exigência do isolamento social, sendo mantido apenas o atendimento individual.
O trabalho em grupo, de acordo com a psicologia, é muito importante, sendo potencializado pela troca de experiências e pelo compromisso com os integrantes do grupo. A equipe multidisciplinar, antes da pandemia, fazia, também, grandes encontros para as pessoas que estavam sendo preparadas para encaminhamento à cirurgia bariátrica.
“Respeitar é preciso”
As pessoas com obesidade, além de outros problemas de saúde, associados à doença ainda precisam enfrentar os preconceitos da sociedade que associam obesidade a desleixo e falta de vontade. Mas é preciso ter em mente, segundo Michele Vieira, que obesidade é doença, com CID próprio e, portanto, exige tratamento. E a pessoa com obesidade merece respeito.
A negação da obesidade é muito frequente, exatamente como acontece com outras doenças crônicas, como o diabetes e a hipertensão, por exemplo. E as pessoas dizem que a doença é psicológica. O fator psicológico , de acordo com Michele Vieira, é apenas um dos aspectos da obesidade, como de outras doenças crônicas, já que são multifatoriais.
“O tratamento da obesidade no Cedeba, ao cuidar da doença nos seus diversos aspectos, trabalha a conscientização dos pacientes, fazendo-os entender que somos protagonistas da nossa saúde”, reforça Michele Vieira.
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Fonte: Cedeba / Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
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