Pacientes que precisam de remédios de alto custo sofrem para conseguir o medicamento. As filas começam a se formar durante a madrugada, horas antes da abertura do portão da farmácia, que ao longo dos anos vem passando por inúmeros problemas, entre eles falta de medicação e atrasos no cadastramento para aquisição.
Como se não bastasse todo imbróglio, a população tem que fazer uma verdadeira peregrinação para conseguir pegar os remédios. É gente que vem de Tangará da Serra, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Cáceres.
A reportagem do RD News acompanhou na madrugada desta quarta (22) a situação de perto. A fila começa por volta das 4h30, e muitos já se conhecem por terem vivido a mesma condição dias atrás.
Cazuza Alves de Souza, de 45 anos, é um dos que enfrentam a triste rotina em busca do remédio. Segundo ele, na primeira vez teve que chegar às 3h30 para conseguir ser atendido. O eletricista toma remédios para hepatite, tem que manter a doença controlada para uma cirurgia de garganta, e recentemente foi diagnosticado com câncer. Detalha que precisou ir três vezes à farmácia de Alto Custo para conseguir, enfim, pegar o remédio do tratamento.
“Esta é segunda vez que estou aqui. Vim há 10 dias e tive que pegar senha para conseguir agendar o dia para montar o meu processo. Hoje estou aqui para ver se analisaram o pedido, para daqui mais alguns dias consiga pegar o medicamento”, explica.
A primeira da fila, Devany de Moraes Lujes, de 62 anos, até já sabe que os pacientes nem sempre voltam para casa com os remédios. “Eu faço tratamento para diabetes, mas o remédio que eu preciso está em falta, o linaglipitina”, conta. Para não suspender o tratamento, é preciso pagar do próprio bolso, uma despesa pesada para a aposentada que vive com um salário mínimo por mês. “É mais R$ 200 numa caixa de comprimidos. Ficar sem remédio é que não posso”, pontua.
No caso dos demais pacientes é só passar uma manhã nos corredores da farmácia de Alto Custo para ver o desespero de quem está mal orientado e tem que, apesar de doente, andar debaixo de sol e chuva numa peregrinação entre farmácia governamental e dos Postos de Saúde de Cuiabá.
O que se vê é que a secretaria estadual de Saúde manda vários pacientes irem atrás do medicamento para os males citados com a cópia da portaria e recebem alguns de volta, com um cartãozinho da prefeitura dizendo que os pacientes deveriam aguardar. “Vamos aguardar até quando? Entrei com um pedido na Defensoria Pública para conseguir o meu medicamento pelo Estado”, conta Devany.
Durante as horas em que a reportagem acompanhou as mais de 50 pessoas nesta luta incessante, encontrou um protesto de pacientes com hipertensão arterial pulmonar. Pelo menos, 15 pessoas protestaram contra a falta de medicamento. Eles relatam que os vários remédios que são de suma importância para tratamento da doença estão em falta, muito deles há mais de quatro meses. Sem conseguir a medicação, os pacientes vem sobrevivendo da solidariedade de outras pessoas, inclusive de outros Estados que dividem o que conseguem, e às vezes chegam até a tomar remédios vencidos.
As idas à farmácia vêm sempre carregadas da mesma explicação, segundo os pacientes, o medicamento está em falta e sem previsão para disponibilização. Em Mato Grosso, cerca de 30 pessoas sofrem com a falta de remédio para hipertensão arterial pulmonar. O preço vai além da realidade de quem necessita do mesmo, e faz com que muitos fracionem as doses para sobreviver.
Jackeline Lisboa, de 31 anos, trata a doença há três anos, com uso da Bosentana, o medicamento pode chegar a R$ 4 mil. Conforme ela, desde agosto está sem receber a medicação, o que compromete drasticamente a saúde. A jovem diz que esta não é a primeira vez que o remédio falta, o problema, principalmente com o Bosentana, é recorrente.
“Estamos dependendo de doações de outras pessoas. É muito difícil, pois dependemos do medicamento para sobreviver, para respirar. Eu mesma reduzo a dose para não ficar totalmente sem o remédio”, confirma. Além da Bosentana, estariam em falta o medicamento também para tratamento da HAP, Sidenafil e Ambrisentana. Lourayne Dorileo, que faz uso da medicação para a doença desde 2014, afirma que a explicação que recebe todas as vezes é que o medicamento está em falta sem previsão para disponibilização.
“Sem condições para comprar, nós acabamos nos organizando em um grupo a nível nacional. Nele um ajuda o outro, quem tem divide com outro. Há casos de doações de medicamento de pessoas que morreram e os remédios são doados. No Ministério Público falam que foi informado que tem a medicação, mas a gente chega lá na farmácia e não tem, é uma situação difícil”, ressalta.
Jaqueline explica que a HAP é uma doença rara e progressiva, caracterizada pelo aumento da pressão nas artérias pulmonares. Ocorre que as artérias que levam o sangue do coração aos pulmões estreitam por razões que ainda não são totalmente compreendidas.
O coração luta para bombear sangue através das artérias reduzidas, resultando em pressão arterial alta nos pulmões e dilatação do coração. Com o tempo, o coração sobrecarregado de trabalho se desgasta, podendo causar insuficiência cardíaca e morte.
Descubra mais sobre Artrite Reumatoide
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.