A comunicação ganhou uma escala nunca antes imaginada com a revolução digital. O cenário é o mesmo em qualquer canto do planeta: pessoas trocando mensagens, por meio de smartphones, nas ruas, em ônibus, trens, metrôs, restaurantes, estádios, parques, praias etc. Médicos e pacientes também vêm aderindo de forma progressiva a esta onda. Uma pesquisa realizada em 2015 pela Escola de Saúde Pública Bloomberg, da Universidade Johns Hopkins, constatou que, de um grupo de 2.252 clientes de redes de farmácias nos Estados Unidos, 37% mantinham contato com seus médicos por e-mail e 18% pelo Facebook. O Brasil não é exceção à regra. Tanto é que a multiplicação de perfis de médicos nas redes sociais levou o Conselho Federal de Medicina (CFM), em agosto de 2011, a editar a Resolução 1.974, disciplinando o trato com o público no fronte virtual.
Mas será que essa conectividade crescente, propiciada por novas tecnologias, permitiu, de fato, uma maior aproximação, um maior e melhor entendimento dos médicos em relação aos pacientes? A meu ver, a resposta é negativa. Costumo dizer que as escolas de medicina formam técnicos muito mais especializados em cuidar de doenças do que de doentes. As atenções desses profissionais estão quase sempre voltadas para um fígado abalado aqui, um pâncreas problemático ali, e não para os donos destes órgãos. Faltam-lhes conhecimentos de sociologia, de antropologia e de comunicação que lhes permitam compreender o ser humano que está à sua frente, em busca de ajuda, e estabelecer um diálogo para identificar, com precisão, o problema que o aflige e buscar soluções eficazes.
Esse quadro, que tem dimensão global, é preocupante. Por conta do aumento da escolaridade da população e do acesso ao manancial inesgotável de informações existente na internet, os pacientes se tornam cada dia mais esclarecidos e, portanto, mais exigentes. Eles reivindicam para si a mesma atenção dedicada pelos médicos aos seus órgãos. É um desafio que vem sendo encarado por instituições de ensino superior mundo afora, com a inclusão de disciplinas específicas em suas grades curriculares.
As ciências humanas tendem, assim, a marcar presença nas salas de aula de medicina. Normal, pois o viés humanista do ofício de Hipócrates é cristalino. Afinal, nós, profissionais da área, tratamos de gente. São pessoas com experiências, crenças, valores e costumes distintos – os quais, diga-se, interferem com frequência em seus tratamentos. Um exemplo marcante é a religião. Entender e estimular a fé dos enfermos propicia um ganho duplo aos médicos, que passam a contar com mais um recurso valioso em prol da recuperação e, além disso, estabelecem uma maior empatia com os pacientes.
Fonte: Veja Abril
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